O dia do índio num contexto de reafirmação escolar: para nunca esquecer Galdino Pataxó

Tamara Angélica Felix Lana
Vagner Luciano de Andrade

Passados vinte e dois anos da morte do Índio Galdino Pataxó em Brasília, é momento para reafirmar e legitimar a educação indígena, no contexto do ensino básico, em todas as escolas urbanas e rurais do país. É tempo de reconstrução e da busca de elos que se perderam e precisam ser reavivados. Cada vez mais, a escola caminha no sentido de uma educação multicultural que acolhe as diferenças e enaltece a riqueza e a diversidade cultural dos povos. Prova maior disso é que a data em que se comemora o Dia do Índio, 19 de abril, deixou de ser uma atividade desconexa, mecanizada e vazia. Foi se o tempo de professores confeccionando cocares de papel e pintando a cara de alunos. Muitas escolas trazem o indígena e o negro para o centro das discussões filosóficas, sociológicas e políticas. Em tempos de anulação e negligência de direitos historicamente conquistados,a educação se renova, se refaz e se reinventa. Assim, a memória dos sujeitos históricos silenciados ou marginalizados se amplia na reconfiguração do presente. Uma das sugestões possíveis para se trabalhar a temática e sua relevância na história e cultura brasileira é o resgate de biografias esquecidas como a do Índio Galdino. Ocorridos 22 anos de seu assassinato, seu nome não consta em nenhuma rua, praça ou parque da capital mineira. Esquecemos Galdino Pataxó? Em Ibirité, na Grande BH, a Rua 25, no Bairro Bela Vista das Palmeiras, o homenageia. Neste contexto, a Rede Ação Ambiental sugere o nome de Parque Galdino Jesus dos Santos ao Parque Municipal do Conjunto Estrela Dalva, num trabalho cultural e educativo com os moradores do Estrela Dalva, em especial, alunos da escola municipal inserida no Conjunto. Assim dados do acontecimento, associados à descaraterização cultural indígena e à discriminação social desses povos precisam ser evidenciados e relembrados visando reformulações sólidas. Educar é relembrar o que nunca poderá ser esquecido.

Parque Municipal do Conjunto Estrela Dalva. Foto:Prefeitura de Belo Horizonte

Inserido entre o Buritis, o Estoril e o Havaí, o parque mencionado oferece área pública de lazer com quase 12 mil m², sendo implantado em 2002, por meio do Orçamento Participativo. Sua cobertura vegetal corresponde a cerca de 50% da área total e apresenta predominância de espécies ornamentais e gramíneas. O pequeno parque fica na Rua Costa do Marfim, nº 400,e o horário de funcionamento é de terça a domingo das 8h às 18h. Como alternativas de lazer, o ambienteproporcionaárea de convivência com mesas e bancos, brinquedos, pista para caminhada e um teatro de arena para apresentações diversas. Ao se propor um trabalho educativo direcionado à biografia do homenageado, Galdino Jesus dos Santos, evidencia-se o ameríndio enquanto elemento primordial na gestão dos espaços ancestrais e coletivos, e, sobretudo, no aspecto referencial da sustentabilidade. Os indígenas viviam em significativa harmonia com seus espaços naturais, antes da chegada dos portugueses. Passados mais de 500 anos foram expropriados de seus territórios, de sua cultura, de sua identidade, de sua subjetividade, condenados à marginalização e a descaraterização no âmbito da sociedade moderna. E atualmente viram o retorno de espectros políticos conservadores e neoliberais que ameaçam as poucas conquistas que obtiveram nas últimas décadas. Terras indígenas, assim como quilombolas, legalmente demarcadas são pleiteadas por ruralistas e mineradoras. O fogo não matou Galdino Pataxó, e afirmamos que ele está entre nós. Ele ressurge como uma Fênix no âmbito de pessoas que lutaram, lutam e lutarão pelos verdadeiros elementos da democracia, da diversidade, da justiça, da igualdade. Um fogo arde e queima sem cessar, um fogo que alimenta a alma em busca de uma sociedade melhor. Um fogo chamado educação, que não carboniza, mas vivifica e transforma.

 

Escultura representando uma pomba na Praça do Compromisso (Brasília/DF). Foto: Sarah Magalhães/Blog Caderno Descolorido

Galdino Jesus dos Santos nasceu no estado da Bahia, em 1952 e foi a óbito em Brasília, no mês de abril de 1997. Era um líder indígena brasileiro da etnia pataxó-hã-hã-hãe que fora à capital federal, participar de manifestações do Dia do Índio. Vitima de um crime bárbaro, foi queimado vivo por cinco assassinos enquanto dormia em um abrigo de ônibus. O motivo da viagem de Galdino Pataxó e outras sete lideranças ameríndias até aquela cidade eram reivindicações acerca da recuperação da Terra Indígena Caramuru-Paraguaçu (BA), em conflito fundiário com fazendeiros. Participou de reuniões com o presidente Fernando Henrique Cardoso e com outras autoridades brasileiras, juntamente com representantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Como chegou tarde das reuniões, não pôde entrar na pensão onde hospedara e dormiu num ponto de ônibus na Quadra 704 Sul. Durante a madrugada do dia 20 de abril, cinco criminosos da alta classe de Brasília, atearam fogo em Galdino Pataxó enquanto ele dormia. Galdino Jesus dos Santos morreu horas depois em consequência das queimaduras, causando protestos em todo o país. O local do assassinato de Galdino foi rebatizado como Praça do Compromisso e, lá, foram colocadas duas esculturas, uma delas retratando uma pessoa em chamas e a outra representando uma pomba, o símbolo da paz. Este ameríndio se tornou símbolo de um compromisso da educação para com a vida. Tempos posteriores à sua morte trouxeram ao bojo da educação brasileira a obrigatoriedade desta relevante temática nas abordagens e conteúdos.

Escultura representando uma pessoa em chamas, na Praça do Compromisso (Brasília/DF). Foto: Sarah Magalhães/Blog Caderno Descolorido

Assim, as questões étnico-raciais valorizam a pluralidade cultural brasileira posicionando-se contra qualquer discriminação e/ou violência baseada nas diferenças culturais, classe social, de crenças, orientação sexual, física, cognitiva, ética, estética de inter-relação pessoal e de inserção social para agir com perseverança na busca de conhecimento e exercício de cidadania. O trabalho didático com esta questão é um desdobramento de alguns artigos da LDB e se fundamentam nos PCNs. A temática ameríndia é agente transformador de diferentes abordagens e conteúdos enquanto meios de produção da expressão e comunicação das ideias e identidades num contexto de riqueza cultural da coletividade. Compete ao educador, o resgate da historicidade do mundo indígena com suas permanências e rupturas. Entender passado e presente, a partir da história de brancos, negros e índios é indispensável para se questionar a realidade, reformulando os problemas e possibilitando soluções para mudar a ordem vigente. Aos alunos, o entendimento do passado/presente, pode enfatizar contribuições ameríndias,no sentido de se utilizar as referências desta cultura ímpar, unificando-os ao contexto nacional efetivamente, sem imposiçõesde adequação ou adaptação à cultura branca europeia. Viva Galdino Pataxó, hoje e sempre!

PARA IR ALÉM

A arte e Ecologia Ameríndia no contexto pedagógico da legislação brasileira: uma abordagem interdisciplinar nos campos da Alfabetização, Ética, Letramento e Pluralidade Cultural. – Conteúdo Jurídico

Vinte anos após o crime, assassinos de Galdino reconstroem a vida. – Metrópoles

Morte do índio Galdino, em Brasília, completa 21 anos hoje. – Correio Braziliense

*Professora da educação básicacom especializações nas áreas de Alfabetização e Letramento, Educação Inclusiva, Ensino de Artes, Novas Tecnologias Educativas e Psicopedagogia.


Imagem de destaque: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

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