Neurociência e Educação: parceria para novas práticas? – exclusivo

Raphael Júnio de Carvalho Ferraz

Leonor Bezerra Guerra

A educação é importante, não somente no contexto cultural, mas também econômico e social de um indivíduo. Ela possibilita a este, o desenvolvimento de comportamentos que propiciam os recursos necessários para que seja agente ativo na transformação de sua prática e do mundo em que vive. 

Sob esta ótica, destaca-se o papel do professor. Ele, como mediador, utiliza as estratégias pedagógicas no decorrer do processo de ensino-aprendizagem, promovendo oportunidades para a reorganização do sistema nervoso dos aprendizes. Isso resulta em novas habilidades apresentadas pelo sujeito que aprende. Assim, os professores atuam como agentes nas mudanças neurobiológicas que conduzem à aprendizagem, ainda que saibam pouco sobre o funcionamento do cérebro e suas implicações no processo.

Uma das características mais importantes do sistema nervoso, particularmente do cérebro, é a sua plasticidade, ou seja, sua capacidade de modificação ao longo de toda a vida, notadamente nos primeiros anos de vida e na adolescência. A Educação Básica -compreendendo a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio- engloba os períodos da infância e adolescência considerados os períodos mais susceptíveis à aprendizagem, devido à neuroplasticidade do sistema nervoso. 

Daí o interesse de cientistas e, mais atualmente, de professores por temas relacionados ao processo de aprendizagem, tais como, neuroplasticidade, memória, linguagem, raciocínio lógico matemático, função executiva, ritmos biológicos, dentre outros, que influenciam o desempenho acadêmico infanto-juvenil.  

O avanço do conhecimento científico e tecnológico nos últimos anos tem impactado de forma significativa a sociedade, sobretudo por meio do fenômeno da globalização e do uso crescente de novas tecnologias de informação. De forma peculiar, destaca-se, neste contexto, o conhecimento produzido e também divulgado sobre os estudos focados no sistema nervoso, realizados sob suas diferentes perspectivas. Nos últimos 30 anos, as denominadas Neurociências têm esclarecido fenômenos relacionados às bases neurais do comportamento humano e suscitado o estabelecimento de suas interfaces com diversos outros campos do saber. Entre eles está o educacional, para o qual a Neurociência Cognitiva e a Neuropsicologia vêm contribuindo, dentre outros aspectos, com conhecimentos que fundamentam o trabalho dos professores em relação ao desenvolvimento de atividades estimuladoras da aprendizagem e ao uso de estratégias pedagógicas mais eficientes. 

Neste sentido, existem diversas iniciativas que oferecem divulgação do conhecimento neurocientífico voltado para o público em geral e também focado na capacitação de professores e educadores, por meio de cursos de extensão, palestras de sensibilização e oficinas práticas que são realizadas tanto em espaços formais quanto não formais de educação. 

Em Minas Gerais, por exemplo, e mais precisamente, dentro da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o projeto “Neuroeduca: a inserção da neurobiologia na educação”, programa de extensão vinculado ao departamento de Morfologia e Centro de Extensão (CENEX) do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) e à Pró-reitoria de Extensão (PROEX) da universidade, desenvolve ações em escolas públicas e particulares da região metropolitana de Belo Horizonte, no interior do estado de Minas Gerais e  em outros estados do país, com o objetivo de divulgar os fundamentos neurobiológicos da aprendizagem junto aos professores da Educação Básica, orientando-os na utilização da neurociência no ensino e na abordagem dos problemas de aprendizagem. 

Consideramos, portanto, que as descobertas sobre o sistema nervoso, sobretudo sobre o cérebro e seu funcionamento, poderiam contribuir tanto na formação teórica quanto na prática dos professores, de modo a acrescentar-lhes informações científicas relevantes para melhor compreensão e manejo do processo de aprendizagem. 

É importante esclarecer que neurocientistas não têm as competências dos profissionais da educação e vice-versa. No entanto, ambas, ainda que distintas áreas do conhecimento, podem se beneficiar dos resultados do diálogo entre Neurociência e Educação. Para isso, é necessário que profissionais da educação e neurocientistas estabeleçam uma linguagem mediadora que possibilite, aos primeiros, esclarecimento sobre as descobertas das Neurociências e a viabilidade de sua utilização no contexto educacional, e, aos segundos, maior conhecimento sobre a diversidade de fatores culturais, econômicos, históricos, sociais, dentre outros que influenciam o processo de ensino e aprendizagem que ocorre além do espaço escolar. 

Sob este aspecto, acreditamos que a colaboração entre áreas do conhecimento que possuem naturezas, objetivos e métodos de estudo distintos, mas que visam esclarecer um mesmo fenômeno sob diferentes perspectivas, talvez traga mudanças, isto é, novas ideias, posturas, propostas e práticas para o melhor desenvolvimento do potencial de cada aprendiz nesses novos tempos. 

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