Museu, espaço de vivência e construção da cidadania

Vagner Luciano de Andrade
Ludimila de Miranda Rodrigues Silva*

Apesar de centrar-se, a priori, no mesmo tipo de conteúdo educacional que os espaços monumentais, os museus são teoricamente espaços culturais de elementar valor para o aluno-turista e se caracterizam como ambientes fechados cujos principais conteúdos são os elementos artísticos e culturais mais singulares da região de entorno, como esculturas e pinturas, existindo a possibilidade de diversificação de temas (brinquedos, calçados, ciência e técnica, joias…), com características notáveis de interatividade pra discentes e demais visitantes. Apesar de receber um público maciçamente escolar, sua presença num território turístico é às vezes mais escassa, diferentemente dos espaços monumentais, pois requerem uma infraestrutura mínima que normalmente se localiza nos espaços urbanos.

É possível que, junto a jazidas arqueológicas, localizem-se museus, mas são indubitavelmente os urbanos que apresentam maior uso. Essa intensidade de uso é variável em função do prestígio social e do interesse educativo pelo museu, mas de um ponto de vista turístico, esse é um espaço de grande intensidade de uso por causa de sua escassez e por sua tendência eminentemente turística.

Entre os museus que têm usos turísticos notáveis e mais reconhecidos internacionalmente, destacam-se: o British Museum de Londres (Inglaterra); o Museu do Prado de Madri (na Espanha); o Museu Dalí, em Figueres (Girona); o Museu de Arte Romana (na Mérida, Badajoz); o Picasso (em Barcelona); e o Louvre em Paris (França). No Brasil ainda o reconhecimento dos museus insere-se prioritariamente no eixo cultural Rio/São Paulo, embora haja museus consagrados nas demais cidades do país. Mas esta realidade vem se transformando nas últimas décadas com a priorização da museologia e da museografia como elementos culturais demandados e legitimados como políticas públicas.

Pauta Instagram Secretária da Educação na Pinacoteca de São Paulo. Data: 21/09/2016. LOCAL: São Paulo/SP FOTO: Diogo Moreira/A2IMG / Via: Fotos Públicas

Antropologicamente, o homem é um indivíduo social capaz de construir a sua história, a sua sociedade, o seu espaço. Sendo assim é um ser histórico que traz consigo, e em si, um conhecimento adquirido na sua própria história. Na contemporaneidade, o museu se caracteriza como relevante espaço de vivência e construção da cidadania. Assim, é mais uma das múltiplas possibilidades de enriquecimento pedagógico da Educação Básica e de processos educativos posteriores.  Um museu permite in loco a vivência de diferentes conteúdos pedagógicos, contextualizando-os e aplicando-os à realidade.  Assim, vivências educacionais em diferentes tempos e espaços permitem compreender a complexidade e a dimensão de seus anseios, capacidades, desejos, interesses e valores. O homem está inserido no espaço, que ele próprio ajuda a moldar através de sua ação, crítica e reflexão. Pensando nesse sentido nas perspectivas de consolidação de uma sociedade mais envolvida com os conteúdos educacionais do cotidiano, faz-se necessária, cada vez mais, a produção de diferentes espaços educativos que materializem e reflitam a história da sociedade, e, certamente, um desses espaços é o museu.

Assim, longe de ser um receptáculo de memória ou um local que apenas nos remeta ao passado, o museu deve ser compreendido em sua totalidade educacional como um patrimônio em constante construção, reformulação e reconstrução. Assim como a educação, o museu se consolida como um espaço que dialoga passado, presente e futuro. O museu permite conhecer e experienciar a realidade, e ao permitir compreendê-la, viabiliza também o reconhecimento das possibilidades de mudança e transformação da percepção de mundo do ser, promovendo, diretamente e indiretamente, o ato de educar/aprender. Neste sentido, o museu é um instrumento educacional significativo de consciência social que consolida a formação de cidadãos engajados, questionadores e confrontadores da atual base estrutural.

A museologia, desta forma, educa e induz à ordem social ao fomentar a percepção, a análise, a crítica, a participação, a organização e a luta. Estimulados por diferentes linguagens museológicas, as pessoas são incentivadas a se articularem, a pensar e agir diante de tantos desafios que transitam do local ao global a partir de sua apropriação e vivência educativa, que o instrumentaliza na construção e consolidação de sua cidadania.

Museu Catavento – Espaço Cultural da Ciência. Local: São Paulo/SP. Data: 18/01/2017. Foto: Alexandre Carvalho/A2img / Via: Fotos Públicas

A museografia é, antes de tudo, um compromisso com a cidadania e com a dignidade ao dar suporte material e imaterial para a reconstrução de condições existenciais humana em diferentes tempos e espaços. Assim por sua sintonia com a educação, novos museus devem ser pensados e formatados para se ampliar as perspectivas educativas do mesmo. Todavia, nem sempre é isso que acontece. Em Belo Horizonte, por exemplo, no período de 1978-1998, existiu o Museu Ferroviário, cujo acervo instalava-se na Casa do Conte de Santa Marina, e que atualmente encontra-se alocada na Rua Sapucaí. Outra ameaça a esses espaços de construção da cidadania já pode ser sinalizada no Museu das Telecomunicações, o qual, com a desapropriação do prédio da empresa OI, não se tem notícias do acervo. Não poderemos perder jamais seu acervo, sendo indispensável averiguar se o mesmo será reinstalado em outro lugar da capital mineira. Também existiu o Museu do Índio – na Sociedade Mineira de Antropologia, localizado na Rua Minas Novas, todavia também é desconhecido o destino dado a este importante acervo.

Uma boa sugestão, talvez, seja a adequação de alguns prédios escolares às futuras apropriações museológicas, inserindo assim, os mesmos, no contexto do cotidiano escolar. Nesse sentido, pensando em readequações de prédios que se tornariam novos espaços culturais, poder-se-ia sugerir, por exemplo, a transferência do Centro de Memória da Medicina para o prédio da Escola Estadual Dom Pedro I, localizado próximo de sua atual lotação. Assim como, novos museus poderiam também ser pensados enquanto demanda pública. Um bom exemplo é a criação do museu Oscar Niemeyer no prédio da escola estadual Governador Milton Campos. Mas isto somente se efetivará se demandando pela sociedade, que o fará apenas quando compreender a importância desses espaços em sua função social e educativa. Novos museus e novas possibilidades educativas é o que se espera para os próximos 120 anos da capital mineira. E viva o museu enquanto espaço alternativo de educação e cidadania.

Museu Catavento – Espaço Cultural da Ciência. Local: São Paulo/SP. Data: 18/01/2017. Foto: Alexandre Carvalho/A2img / Via: Fotos Públicas

 


*Ludimila de Miranda Rodrigues Silva graduada em Geografia (bacharelado) pelo IGC-UFMG, com mestrado e doutoramento pela mesma instituição. É também aluna da licenciatura na FaE/UFMG

Foto de destaque: Memorial da Resistência preserva parte do edifício que foi sede do Deops-SP / Via: Fotos Públicas

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