Motivação para a aprendizagem: é possível? – exclusivo

Tiago Tristão Artero

O urbanismo em ascensão era o mal a ser combatido, Mennucci apontava para uma alma nacional eminentemente agrícola e a expansão citadina significaria o fim da nossa essência social. Por isso, defendia uma educação voltada para o meio rural como forma de ampliar a atuação do Estado no que tange a disseminação de conhecimentos práticos para os campesinos, como também de fixá-los no campo, impedindo a fuga para a cidade.

Dessa maneira, Sud Mennucci nas suas três passagens pela Direção Geral da Instrução Pública em São Paulo (1931-1932; 1933; 1943-1945) encabeçou três projetos educacionais: as Escolas Normais Rurais – com objetivo de formar professores adequadamente para o campo; Escolas Rurais – escolas fixadas no meio rural e com um currículo diferenciado; e os Clubes Agrícolas Escolares – instituições anexas às escolas que colaboravam com a disseminação de cultura rural em diversas escolas, inclusive nas instituições situadas na cidade. No entanto, Mennucci não alcançou grande êxito no seu próprio Estado, tanto que a primeira Escola Normal Rural foi fundada na cidade de Juazeiro do Norte, no Ceará, em 1934. Na formatura da primeira turma de normalistas rurais, Mennucci foi convidado a proferir a palestra de conclusão do curso em homenagem às novas professoras. Na ocasião, apontou que o projeto de ruralização da educação estava posto em prática e que esse movimento tinha tamanha força que poderia alterar o rumo da civilização.

O processo de ensino-aprendizagem sofreu grandes mudanças na sociedade, especialmente entre os séculos XX e XXI, fruto das relações de mercado, mudanças na estrutura familiar, política e social, novas tecnologias na área da saúde, entre outros fatores que permitem avaliações mais precisas e intervenções mais eficientes, requerendo profissionais com competência para os mais diversos campos de conhecimento.

Diante dessas exigências, a escola precisa oferecer serviços de qualidade e um produto de qualidade, de modo que os alunos que passem por ela ganhem melhores e mais efetivas condições de exercício da liberdade política e intelectual.

O processo de aprendizagem é influenciado por fatores intrínsecos e extrínsecos. Conhecê-los é um desafio ao educador e família, na perspectiva de oferecer suporte ao educando. No entanto, dentro de uma visão mais elaborada, encontram-se as características individuais de cada aluno e até mesmo de cada educador. Olhando a educação como algo possível, é preciso considerar a existência ou não da motivação para o estudo.

A aprendizagem, por sua vez, modifica os processos cognitivos conforme a contribuição de fatores internos e do meio. Por isso, é preciso considerar as experiências vividas e o ambiente escolar, familiar, a influência dos relacionamentos e as consequências que esses fatores trazem para a motivação em se desenvolver e em se dedicar ao estudo na escola.

Para entendermos os processos relacionados à motivação, é preciso saber que existe fatores motivantes e desmotivantes no ambiente escolar, percebidos desde a política educacional empregada que envolve a escola, a relação professor-aluno, a metodologia de ensino e as diferenças sociais e culturais, como nos traz Tuleski (2007) em sua obra “Repensando os distúrbios de aprendizagem a partir da psicologia histórico-cultural”.

A motivação incide diretamente na realização de determinada atividade (motivação para cumprir o currículo escolar, como trabalhos, tarefas, estudo diário, estudo para provas, entre outros), e os fatores que a influenciam são provindos de causas diversas. Dentre esses fatores, além dos distúrbios de aprendizagem, podemos citar o grau de importância que o estudante percebe em relação ao estudo, a escolarização fracassada desde o início da vida estudantil e as experiências negativas vividas no ambiente escolar.

O Código Internacional de Doenças classifica cada uma das dificuldades de aprendizado que podem atrapalhar a aprendizagem: retardos mentais (sendo o retardo mental leve, por vezes, não percebido), os transtornos de leitura, o transtorno específico de habilidade em aritmética, os distúrbios da atividade e da atenção, a dislexia, entre outros.

Recorrer às possibilidades variadas de ensino, não descartando o funcionamento do cérebro, poderá promover uma saúde mental que poupe o aluno do uso inadequado de psicofármacos, como afirma Guarido (2007) em sua obra “A medicalização do sofrimento psíquico: considerações sobre o discurso psiquiátrico e seus efeitos na Educação”.

Compreender as causas da desmotivação e entender as consequências da falta dela é condição necessária para atuar de maneira preventiva e corretiva, atuando positivamente de forma a alcançar um ambiente escolar motivador e uma harmonia entre as expectativas do aluno e aquilo que a instituição pode oferecer.

Assim, considerar a existência de memórias positivas e negativas e relacioná-las à vontade de estudar é importante. Dificilmente conseguiremos separar experiências vividas e motivação. Nesse contexto, as lembranças que geram bem-estar e prazer estimulam todo o organismo a estar apto a receber o conhecimento, conforme nos acrescenta Mata e Peixoto (2009) na obra “Motivação para a leitura ao longo da escolaridade, Análise Psicológica”.

Um ponto bastante levantado quando se fala na motivação para aprender é o uso de eletrônicos. Porém, é preciso cautela quando cogitamos que a tecnologia e os atrativos eletroeletrônicos já estão presentes e podem levar o estudante a perder o foco da importância do conhecimento sistematizado. Estes instrumentos precisam ser utilizados pela escola e alunos como auxiliador na aprendizagem e na contribuição da adequação da escola às novas necessidades.

Concluindo, o professor tem o papel de ser um gerador de experiências positivas relacionadas ao conhecimento, principalmente quando consideramos um aluno com dificuldades de aprendizagem. Não podemos comprometer a ligação entre o conhecimento sistematizado da escola e o conhecimento prático da vida, assim como a importância do saber desenvolvido ao longo dos milênios de anos pela humanidade.

Sim… o professor é um dos agentes promotores do aprender, senão o principal!

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