Memórias de alunos e alunas sobre a escola e o ensino de ciências e biologia – Parte IV

Martha Marandino*
Vinicius Santos**
Barbara Milan***

Organizando memórias

 

Esta série de textos trás parte dos depoimentos recolhidos na atividade “Memórias de aluno: dimensões da trajetória pré-profissional” do curso de Metodologia do Ensino de Ciências Biológicas II da Faculdade de Educação da USP. Confira as parte I, II e III da série

Finalizando as memórias….

“Durante o ensino médio tive poucos professores de ciências (não havia professores fixos de ciências). Uma das poucas coisas que me lembro era de um professor de química que dava aula usando um jaleco branco, apesar de não realizar experimentos nas aulas ou usar o laboratório (que não existe na escola).” (Vanessa)

“Não tive grandes momentos marcantes nas minhas aulas de ciências, porém sempre as amei porque aquilo representava algo que fazia parte do que eu queria ser. Quando criança queria trabalhar com algo que “salvasse a natureza e os animais”, como se os animais não pertencessem à natureza e como se não fossemos, nós, também animais. Mas era esse meu lema e por isso as aulas de ciências me levavam a conhecer um pouco mais desse mundo que eu queria proteger. Não tive grandes experimentos, experiências e saídas da escola para explorar um ambiente natural, mas lembro de um trabalho de ciências do ensino fundamental que me marcou muito. O trabalho envolvia dotes artísticos (os quais eu assumo que nunca tive), mas encarei como um desafio e logo fiquei animada para tentar. Tínhamos que, individualmente, construir uma representação do sistema solar. Deveríamos usar isopor, papéis, tintas e o q a imaginação mandasse, mas era obrigatório que aparecessem os planetas, um cinturão de asteroides e o sol. Lembro que foi muito divertido construir essa espécie de maquete do sistema solar: eu e minha mãe compramos uma placa de isopor, muitas bolinhas do mesmo material, tintas e papéis. Era inverno e lembro que passamos o fim de semana pintando as bolinhas e misturando cores para chegar ao tom mais parecido possível da foto que tínhamos dos planetas. Apesar de simples, foi muito gostoso pintar com a minha mãe e achar soluções para os desafios que apreciam na montagem (como secar bolinhas de isopor cheias de camadas de tinta num fim de semana frio e chuvoso?!).O trabalho ficou lindo e foi com orgulho que levei a minha maquete para a escola (com muito cuidado para não desequilibrá-la). Expomos dentro da sala mesmo e a professora perguntava os materiais usados, as técnicas e depois tínhamos que fazer uma breve explicação sobre o sistema solar (alguma curiosidade, uma novidade ou até mesmo uma descrição). Lembro que as aulas dela costumavam ser expositivas e ela nunca conseguia dar a aula como o planejado, mas naquele dia tivemos a aula/atividade que deixou muitos sorrisos ao terminar. Lembro com carinho desse momento e espero sentir isso dos meus alunos quando for professora. ❤” (Clarice)

“Uma lembrança muito marcante do meu ensino fundamental foi uma saída com a escola que tive como professor de ciências, na quinta série se não me engano. A saída foi para a Sabesp e fomos lá conhecer as etapas de tratamento da água, e todo o estabelecimento e como funcionava. Isso foi bem legal porque as aulas anteriores estavam sendo sobre o tratamento da água e foi importante ver como as coisas são na prática. Além disso, foi a primeira saída.” (Rafael)

“Ainda no ensino fundamental lembro-me das minhas aulas de ciências da quarta série (quinto ano), quando tive meu primeiro contato explícito com zoologia. A professora, Nélia, introduzia a classe a ser aprendida (poríferos, equinodermos, mamíferos e assim por diante) solicitando aos alunos que imprimissem fotos dos animais, a partir de uma pesquisa básica no Google. Além disso, ela pedia que listássemos características dos animais a partir das fotos. Até hoje resgato memórias de seres vivos a partir dessas primeiras referencias criadas em minha mente. Além disso, Nélia fazia sorteios todo início de aula para que alguns alunos respondessem à “chamada oral”, onde respondíamos questões sobre os organismos aprendidos na aula anterior. Novamente, muitas das informações que detenho sobre os animais provém desse contato.” (Beatriz)

“Não tenho muitas recordações de minhas aulas de ciências/biologia. Acredito que a maior causa dessa falta de memória seja baixa qualidade do ensino, muitas vezes expositivos (na melhor das situações). Sem nenhuma atividade prática, seja por minha parca memória no ensino fundamental – não me recordo qual/is séries – lembro-me apenas de um professor bastante empenhado em manter a ordem da sala, bastante desordeira e, até mesmo desrespeitosa. Recordo de que parte do conteúdo era zoologia. Acredito que essa recordação talvez venha do fato de, na época, eu querer cursar veterinária. Já no ensino médio tenho memórias piores, já que não tive aula de biologia em todos os anos (a professora foi apenas na primeira aula do 1° ano) e a professora dos outros anos era bastante relapsa. Mas lembro de ter ficado bastante chateada com uma nota C (era sobre genética). Apesar dessa escassez de recordações, estudava bastante biologia em casa, pois essa altura já pensava em cursar biologia.”  (Jaqueline)

“Uma das melhores experiências educacionais que tive ao longo de minha vida escolar foi ter aulas com o professor de Biologia que me inspirou, embora eu já fosse apaixonada por Biologia desde pequena, a seguir na carreira de Ciência Biológicas e, mais além, me incentivou a perseguir o ramo da educação. Suas aulas, embora a maioria fosse expositiva, devido à pressão escolar, eram cativantes e envolviam a turma como um todo. Ele frequentemente contava suas experiências de viagem e sempre relacionava os assuntos, como ciclos de parasitoses com aquilo que já havia observado. Desse modo, ele conseguia fazer estudantes de classe média para alta notarem que o Brasil é muito maior do que seu bairro, mostrando a realidade social a que milhares de brasileiros e brasileiras estão expostos(as).” (Anônimo)

“As minhas primeiras aulas de biologia foram marcadas por aulas expositivas com memorização de termos ministradas por uma professora séria. Mas mesmo assim, eu gostava de estudar biologia simplesmente por gostar do assunto. O puro gosto por estudar biologia foi o que me motivou a escolher com carreira. Eu não tinha muitas aulas práticas até o ensino médio e a maioria das vezes era dissecação de coração, cérebro, testículo, etc. Eu gostava dos livros didáticos e dos paradidáticos, que até hoje estão na memória. Quanto aos trabalhos em grupo, não gosto porque os colegas ficam se agrupando em panelinhas e eu, que costumo ter mais amigos fora da turma, acabo fazendo grupo com quem sobra. Na maioria das vezes, ou os colegas ‘se encostam’ em mim ou eu coordeno as atividades do grupo ou até mesmo escolho o tema.” (Anônimo)

“Durante meu ensino fundamental não tive contato com experimentação ou instrumentação científica. Contudo, lembro-me de uma excursão realizada na reserva biológica Augusto Ruschi, localizada no município de Santa Teresa Região Serrana do Espírito Santo. Tratou-se de uma atividade marcante, pois nela tive contato não só com aspectos relacionados ao ensino de ciências: botânica, avifauna (Ruschi foi um grande pesquisador de colibris), mas também com dimensão botânica e geográfica da colonização do Estado, sendo a referida região fortemente influenciada pela cultura pomerana. PS:* Nela localiza-se o museu biológico Professor Mello Leitão, também visitado.” (Anônimo)

“Uma memória muito alegre que tenho das minhas aulas de biologia está vinculada com um professor que tive no ensino médio. Para explicar a relação dos batimentos cardíacos com exercícios físicos e a demanda respiratória, o professor segurou a cabeça de meu colega e ficou balançando a medida que os batimentos se aceleravam. Acabou sendo uma aula muito engraçada, principalmente porque o professor era bem engraçado e meu colega também. Outra aula de biologia que me lembro foi a dissecação de coração de boi e olhos. Não imaginava que estas estruturas eram assim, ainda mais quando só temos contato com esquemas. Ter esta aula prática foi muito boa e pude visualizar bem a relação de um bom esquema representativo da estrutura realmente.” (Anônimo)

“Lembro que no ensino fundamental, todas as crianças tinham medo de abelha. Eu nunca tive. Sempre que tinha uma abelha em sala, tentava retirar abelha com a folha ou pote. Mas um dia, entrou uma abelha na sala e foi justo em cima de uma menina bem escandalosa. Meu reflexo foi pegá-la com a mão e a abelha ficou parada nas minhas mãos e pareceu estar bem. Consegui tirá-la pela janela. Logo em seguida a professora de ciências entrou na sala para contar que teríamos uma excursão à Casa das abelhas. Naquele momento, senti como se a abelha tivesse me escolhido. Sem dúvida, ela me puxou um pouquinho mais para a biologia.” (Anônimo)


*Martha Marandino – Profa. Associada da FEUSP.
**Vinicius Santos – Graduando em Licenciatura em Ciências/EACH/USP, Bolsista PIBIC de Iniciação Científica da FEUSP.
***Barbara Milan -Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Educação da FEUSP, Bolsista PAE.

Imagem de destaque: @moonshadowpress

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