Memórias de alunos e alunas sobre a escola e o ensino de ciências e biologia – Parte III

Martha Marandino*
Vinicius Santos**
Barbara Milan***

Organizando memórias

Esta série de textos trás parte dos depoimentos recolhidos na atividade “Memórias de aluno: dimensões da trajetória pré-profissional” do curso de Metodologia do Ensino de Ciências Biológicas II da Faculdade de Educação da USP. Confira a primeira e a segunda seleção de memórias.

Continuando….

“Meu ensino de ciências e biologia foi marcado por aulas expositivas. Posso não me recordar delas, mas a exigência de certos professores na hora da avaliação certamente me marcou. Todo o conteúdo passado na lousa devia ser estudado e memorizado. Devido ao medo de reprovar eu estudava religiosamente o conteúdo passado, contudo não degustava o novo conhecimento adquirido. No dia anterior da avaliação, como de costume, estava lendo o livro didático e estava decorando o número de pernas das aranhas, quando me toquei o quanto estava empolgada com o tema. E foi nesse momento que percebi que aquele assunto me encantava, e se eu fosse estudar algo na vida teria que ser aquilo. Mesmo dentro daquele contexto fechado de aulas expositivas, me fizeram descobrir uma nova paixão e afinidade para conteúdo”. (Mariana)

“Estudei na mesma escola desde a – então – 5ª série até o cursinho. Como o caráter das aulas e atividades mudam ao longo da trajetória escolar. Sem dúvida gostei mais dos primeiros anos. No Ensino Fundamental fiz muitas atividades em grupo, sempre o mesmo grupo, em muitas matérias. Em especial teve uma feira de Ciências na qual nosso trabalho foi sobre ilusão de ótica e como nos dedicamos a ele! Decidimos fazer uma instalação simulando um labirinto, delimitado por paredes de TNT preto. Meu colega aprendeu algumas mágicas na internet e fez em uma das seções do labirinto. Além do caráter social dos trabalhos em grupo, lembro de enfatizarmos a importância de pesquisar sobre o tema, conversar uns com os outros, decorar falas, tudo para apresentarmos nosso trabalho na feira com seriedade. Era também um momento de confluência de componentes, de forma que abordávamos o foco do trabalho sob diferentes perspectivas, unindo história, arte, ciências e língua portuguesa. Eram bons tempos”. (Jeniffer)

“Dentre todas as experiências vividas na sala de aula do ensino básico, o que mais me marcou foram as aulas de biologia e simulados preparatórios para o vestibular. Não tenho lembranças claras de trabalhos em grupo, de aulas e atividades em laboratórios ou saídas de campo, mas tenho viva toda a experiência de um contexto escolar voltado ao vestibular, principalmente no ensino médio e nas aulas de biologia. Talvez essas lembranças estejam mais claras na minha mente porque são experiências mais recentes, porém é muito claro pra mim o momento em que a educação deixou de me preparar e me estimular a viver a vida em sociedade e passou a me treinar a responder questões de vestibular. Apesar desse contexto ter me ajudado a entrar na USP, que era um dos meus objetivos, não me parece saudável pensar na escola e na minha educação e só me lembrar da forma quase frenética em treinar um aluno para entrar em uma universidade, sem muitas vezes se preocupar em ensinar algo que de fato faça diferença na vida dos alunos”. (Rodrigo)

“Sobre os trabalhos em grupo, lembro que era um ótimo momento de descontração e que eu fazia questão de fazer com amigos, especialmente durante o ensino fundamental I. Como eu era preguiçosa, também aproveitava esse momento para ser mais ‘relaxada’, às vezes mal contribuía de fato para o desenvolver das ideias. Sobre o material do aluno, lembro que eu amava ler os livros de biologia, às vezes inclusive pegava o livro da menina três anos mais velha, para ver as imagens e ler as descrições (inteligível ver os textos muito longos e chatos, a não ser que fosse para ler boxes dispersos pelo livro). Foi lendo um livro meu durante uma madrugada que descobri o quanto a água é importante para a vida. Em nenhuma das escolas que eu estudei tinha laboratórios, então não tínhamos muitas chances de fazer experimentos, mas o que mais me marcaram foram o da vela coberta com o copo, que ajudou a compreender que a combustão acontece só com a presença de oxigênio.” (Anônimo)

“Minhas memórias relacionadas à ciência começam na infância, com alguns experimentos que me faziam perceber o mundo ao meu redor, e voltaram durante o ensino médio, quando voltei a estudar esse assunto na escola. Por causa desse vazio durante a minha formação, foi complicado desenvolver a curiosidade pela ciência. O papel dos professores no meu ensino médio foi essencial para gostar de biologia e depois decidir seguir essa carreira. Lembro das explicações alternativas para assuntos considerados tão complexos, tentando aproximar alunos de realidades tão diferentes da ciência e estimulando cada um deles a sair da sala comentando o que tínhamos aprendido. Porém não cheguei a pôr a mão na massa, a desenvolver modelos em 3D ou utilizar o laboratório da escola.” (Aline)

“Minha escola tinha aulas de laboratório de física, química e biologia, cada uma delas uma vez por semana. Apesar de biologia sempre ter sido minha matéria favorita no ensino médio, eu não gostava muito das aulas de laboratório de bio. Nas aulas de física e química sempre tínhamos protocolos de experimentos que fazíamos sozinhos, e nas de biologia, geralmente só ocorria observação de estruturas ou análise dos resultados de alguma experiência que já havia sido montada previamente com a mediação do(a) professor(a). As aulas de laboratório de outras disciplinas me fizeram reforçar meu gosto por ciência e biologia”. (Jennifer)

“Me lembro de uma aula onde o professor passou um vídeo mostrando a região ventral de um sapo com a pele transparente, onde era possível ver o funcionamento dos órgãos do sistema circulatório, posteriormente a aula seguiu com um vídeo de uma dissecação de um rato. A aula foi marcante pra mim tanto pelo deslumbre de ver o funcionamento dos órgãos num organismo vivo, quanto pelo desconforto que senti ao assistir ao vídeo da dissecação”. (Lucas)

“As aulas de ciências estavam sendo ministradas todas no laboratório. Cada manhã o professor fazia um experimento diferente e depois discutíamos sobre ele. Porém naquela manhã foi diferente. Entramos todos vendados.  Haviam objetos pendurados e pelo chão, também haviam sons diferentes sendo produzidos. Uma sensação leve de medo e desconfiança surgiu, mas na medida que explorávamos a sala essa sensação foi se transformando em curiosidade. O professor pediu que tirássemos as vendas, continuava tudo escuro porém já diferenciávamos as silhuetas dos objetos. Procuramos nossos lugares na sala. Gradativamente o professor foi iluminando a sala e pediu para que notássemos quais cores conseguíamos enxergar primeiro e dizer qual era o objeto identificado. Aquela não foi somente uma aula sobre ótica, mas sim sobre confiança, não só nos outros mas em nós mesmos. (Bruna)

“Desde o ensino fundamental eu tinha mais interesse pelas matérias de ciências, ao longo do colegial fui percebendo que química e biologia despertavam mais minha curiosidade e eram mais prazerosas de se estudar que as demais. Então quando cheguei ao cursinho pré-vestibular, o professor e que ministrava a frente de zoologia e anatomia e fisiologia comparada entre os filos como praticamente toda aula fazia comentário sobre curiosidades sobre animais, coisas como comportamentos bizarros, estilo de vida, etc. coisas que me faziam cada vez mais querer saber do máximo de curiosidades possíveis, até que me dei conta, biologia era minha ‘curiosidade’.” (Luiz)

“No ensino médio tivemos um estudo de meio para Ribeirão Preto, para ver toda a questão da cana-de-açúcar. Desde o plantio e processamento, até os impactos sociais e ambientais. Em uma das atividades fomos visitar uma fazenda que além do canavial tinha um sistema agroflorestal. E toda essa vivência foi algo que me chocou muito. Lá fizemos uma série de observações sobre esses dois meios, e de volta na sala de aula fizemos uma discussão sobre a biodiversidade nesses dois locais, e ter ido até o local e vivenciado tudo aquilo foi muito esclarecedor sobre o tema.” (Gabriela)

“Acho que tive dois momentos que me marcaram bastante nas aulas de ciências da escola. Pelo menos, são os dois principais. O primeiro deles foi lá no sexto ou sétimo ano do fundamental, quando começamos a estudar biomas e fauna, flora, essas coisas. Até aí, eu queria ser veterinário. Mas a professora passou uma pesquisa e apresentação, e eu acabei ficando com uns biomas mais frios… Taiga e tundra. Acho que foi quando eu me toquei que adorava biologia, porque fiquei mega animado com as pesquisas, conversei bastante com a professora. O pessoal não tava muito interessado… Mas me marcou bastante. Foi um negócio meio documentário da Discovery ver tudo aquilo e sentir que eu queria continuar aprendendo mais. O segundo momento foi uma dissecção de peixe que fizemos no oitavo ou eu ficava super animado. Durante a aula eu também fiquei bastante empolgado vendo um pouquinho de biologia, como as coisas funcionavam por dentro, essas coisas. De tudo que eu lembro de bio ou ciências, foram os momentos mais decisivos talvez”. (Guilherme)


* Martha Marandino – Profa. Associada da FEUSP.
** Vinicius Santos – Graduando em Licenciatura em Ciências/EACH/USP, Bolsista PIBIC de Iniciação Científica da FEUSP.
*** Barbara Milan -Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Educação da FEUSP, Bolsista PAE.

Imagem de destaque: @vitsinkevich

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