Memória acadêmica, pessoal e científica

Não dá para guardar tudo. Então, o que guardar?

Luciano Mendes

Este ano faz 23 anos que estou na UFMG. Antes disso, trabalhei mais de um década na área da educação. Acumulei muito material relativo ao meu trabalho, sobretudo como professor de História da Educação. No entanto, minha sala ficou pequena para meus guardados. Era eu ou eles… porque não há lugar de guarda para estes trastes!

Nos últimos dias, com o coração partido, comecei a desfazer dos arquivos pessoais. Como historiador, pensei que não poderia ser aleatório. Assim, decidi que iria manter arquivado aquilo que o arconte (archonte – Derridá) NÃO MANDA GUARDAR.  Assim, descartei muita coisa que há em arquivos institucionais (UFMG, CNPq, FAPEMIG, ANPEd, SBHE e outras) e arquivei aquilo que, imagino, só há em minha sala, no meu arquivo.

Estou guardando trabalho das alunas, agendas e cadernos pessoais.  Muitas anotações foram para o lixo. Outras, poucas, ficaram. Entendo, hoje, mais do que nunca, porque é difícil achar fontes para a história do ensino de… qualquer coisa. Ninguém manda guardar, não há lugar de guarda… É, ao fim e ao cabo, uma decisão pessoal e constrangida pela falta de espaço.

Sobretudo no ensino superior, que não tem muito apreço pelo ensino, ninguém guarda nada sobre o ensino. Em todos os arquivos há muitas circulares, planos, currículos, programas… e nada de avaliação dos alunos, trabalhos finais, organização das aulas… Uma pena para nós historiadores(as). Há muitas cópias das mesmas coisas e pouca coisa do que não é cópia.

A aula, a grande autoria das professoras, não é arquivada. Por muitos motivos, bem sei. Mas também porque é coisa efêmera e pouco valorizada. Mais vale o texto. Todo mundo guarda. Será que guarda?  A última versão, aquela que foi publicada? E as anteriores, os erros, os equívocos, os mal-ditos?

Há que se pensar, institucionalmente, nisso. Mas quem vai pensar? Nossas instituições estão cheias de arquivos monumentais…. mas o normal e o cotidiano não merecem ser arquivados. E, convenhamos, não é de monumentos que se faz o mundo e, muito menos, a história.


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