Intelectuais e Imprensa: O Bicentenário em Minas

Priscilla Bahiense

As comemorações do Centenário da Independência do Brasil foram marcadas por um intenso debate acerca dos rumos a serem tomados pelo projeto modernizador aqui iniciado no final do século XIX. As artes, os esportes, as reformas urbanas e a educação, entre outros, eram temas recorrentes nos impressos brasileiros e não seria diferente em Minas Gerais. A educação, que aqui nos interessa mais diretamente, era considerada um dos meios para a consolidação da nação brasileira.

Minas Gerais tinha, naquele momento, uma sociedade conformada a partir dos ideais republicanos, que defendiam que o acesso ao ensino deveria ser ampliado e as escolas deveriam aderir à modernização proposta pela intelectualidade, que se organizava por meio de impressos, associações e eventos, para disputar os sentidos da educação no espaço público. A movimentação nos jornais em torno da educação, de fato, era intenso e trazia diferentes leituras sobre a qualidade da educação naquele momento.

Em 1922, embalados pelas comemorações do Centenário da Independência, os jornais mineiros traziam várias publicações sobre a educação e os festejos escolares. Os principais periódicos utilizados para a difusão de artigos, notícias e agenda do Centenário da Independência foram o Diário de Minas (BH), O Pharol (JF) e o Minas Geraes (BH).  Neles, noticiava-se com entusiasmo sobre a programação da festa e sobre a movimentação ocorrida no dia 07 de setembro daquele ano. Além disso, o marco de 100 anos de independência ocupou as páginas de jornais do interior, que contribuíram para a disputa pelos sentidos da comemoração, que levava em consideraçãoo projeto de Brasil defendido e empreendido pelo Estado no contextomencionado, assim como por intelectuais de diversos grupos políticos.

O Jornal Minas Gerais, órgão oficial do Estado, utilizou várias de suas páginas para instruir a comunidade escolar sobre como comemorar de maneira condigna a passagem do Centenário da Independência. O objetivo da celebração em Minas era “dar uma eloquente lição de civismo às gerações que ora passam pelas suas escolas”. Para isto, a Secretaria do Interior, responsável pela educação mineira, investiu nos sentimentos de patriotismo e de orgulho profissional do professorado para que abrissem mão de parte de suas férias para a realização de atividades para os festejos do Centenário.

No âmbito das comemorações do Centenário da Independência, o Estado mineiro buscava reforçar e promover os preceitos republicanos e nacionalistas como meio de impulsionar a conformação da população.

Para tanto, as escolas teriam papel fundamental e deveriam seguir um minucioso programa que contemplava, desde provas de conhecimento de história e geografia do Brasil à desfiles cívicos pelas ruas de todos os municípios mineiros. Tais atividades realizadas pelas escolas deveriam atuar para contribuir para a perpetuação da memória nacional.

Enquanto no Jornal Minas Gerais era o porta voz da programação e atuação das escolas na celebração da Independência, os demais jornais mineiros se encarregavam de, além de noticiar sobre as comemorações escolares, realizar críticas sobre  a atuação do Estado em relação à educação.

Em artigo publicado em um Jornal de Rio Espera, por exemplo, A. César Junior, em debate provocado pelas comemorações do Centenário da Independência, afirma que a educação não existia ainda, uma vez que ela alcançava uma parcela muito pequena da população. De acordo com César Junior, naquele momento, a educação era um privilégio de menos de um quinto das crianças brasileiras, “de modo que para quatro quintos do povo brasileiro não há educação nenhuma, quer dizer, são eles incapazes de participar da civilização”.

Para o colunista do Jornal Rio Espera, assim como para outros, não poderia haver nação sem que a educação alcançasse centralidade tanto nos discursos como nas realizações políticas a âmbito nacional. A educação, juntamente com o trabalho, seria os pilares para a nação que se buscava consolidar.

Passados quase 100 anos das comemorações do Centenário da Independência, cá estamos nós, às vésperas de comemorar os 200 anos desta data que mexe tanto com o imaginário nacional. Tal lá como cá, estamos em um momento político no qual as disputas pelos sentidos da educação e pela ideia de nação brasileira estão ocupando não apenas as páginas dos jornais, mas telas de TV, computadores e celulares. Às vésperas do bicentenário estamos prestes a “comemorar” o 07 de Setembro à luz do obscurantismo e de uma nação que exclui e segrega, que entende o civismo e a apatia social como caminhos. Mas ainda podemos fazer diferente e, assim como há 100 anos atrás, podemos ocupar os mais diversos espaços para denunciar o silêncio do governo e defender uma sociedade que, por meio de uma escola de qualidade, promova uma mudança na estrutura social que permita que todas e todos sejamos a nação que desejamos.


Imagem de destaque: Parada Infantil no Campo de Santa’Ana. Jornal Careta, 30 de setembro de 1922. Acervo da Biblioteca Nacional. http://www.otc-certified-store.com/diabetes-medicine-usa.html https://zp-pdl.com/fast-and-easy-payday-loans-online.php zp-pdl.com https://zp-pdl.com/fast-and-easy-payday-loans-online.php

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