Nesta semana se completam 204 anos da morte de Antônio Francisco Lisboa, o Grande Aleijadinho (29/08/1730-18/11/1814), a cidade turística de Ouro Preto se adapta a uma nova realidade: os atrativos turísticos, entre capelas, igrejas e museus, antes proibidos de serem fotografados em seus interiores, vivem a euforia e a fugacidade da fotografia imediata e, muitas vezes, vazia. Antes da adoção deste novo protocolo, estudantes e turistas se atinham cautelosamente à decodificação das belezas preservadas há séculos e se deslumbravam com a beleza monumental. Processos sociais, econômicos e políticos eram analisados com a ação de guias e educadores ampliando a percepção, a imaginação, o encantamento e a fruição dos sentidos. Um mergulho descritivo no passado do Brasil Colônia se efetivava através de portais do tempo escondidos em detalhes quase imperceptíveis dos altares barrocos. Assim, a educação e a cultura tendem a perder processos significativos com essa avidez por fotos a serem postadas em redes sociais, mas resta-nos adaptar as possibilidades educativas que fluem pela percepção visual e pelas imagens captadas.
O gosto barroco pela aproximação de realidades opostas, pelo conflito, pelas contradições violentas relaciona-se diretamente ao contexto sócio-histórico vigente naquela época. Nesta ocasião, as influências do paganismo renascentista confrontavam-se com a restauração e a revitalização da vida católica medieval. Fruto da síntese de duas mentalidades, a medieval e a renascentista, o homem era um ser contraditório, efêmero, platônico, existencialmente angustiado e perdido. Politicamente oprimidos e economicamente livres, os indivíduos tinham múltiplas possibilidades, mas a estrutura fechada de classes sociais do Antigo Regime lhes impossibilitava ascender socialmente. A consciência da efemeridade do tempo já existia na poesia clássica com o termo latim “carpe diem” (colhe o dia), enfatizando o desejo de aproveitar a vida, enquanto ela dura. E ela geralmente levava os poetas ao convite amoroso e sensual à pessoa amada. No Barroco, em virtude do forte sentimento religioso empreendido pela Contrarreforma, o carpe diem também se faz presente, mas sempre revestido de conflito, culpa e dor.
Quanto à forma e ao conteúdo, a arte barroca se materializava como uma rejeição constante da ordem das coisas, com temas que refletem estados de tensão da alma: amor ou ódio, campo ou cidade, castidade ou carnalidade, liberdade ou clausura, matéria ou espírito, pecado ou perdão, vida ou morte. A construção existencialista do mundo se acentua e amplia o sentido trágico com complexas figuras de linguagem. O resultado final é um emaranhado de difícil acesso e decodificação com linguagens rebuscadas e cheia de inversões permitindo múltiplas percepções e interpretações. Apesar de arte medieval caracterizar-se pela cultura e simbologia religiosa, o Barroco se apropria da técnica clássica renascentista buscando caminhos próprios, condizentes com as necessidades de expressão daquele momento.
Já o Rococó é um movimento artístico ainda com alguns vínculos com a arte barroca, mas que teceu caminhos próprios. Muitas vezes considerado um subgênero dentro do Barroco, denominado de Terceira Fase, considera-se o Rococó uma releitura e suavização da complexidade formal e dos excessos barrocos. Neste contexto, estudar o Movimento Barroco implica conhecer as condições em que vivia o homem da época, tanto na Europa, quanto no Brasil Colônia. Além do Barroco europeu têm-se no Brasil os barrocos jesuítico, litorâneo, mineiro e paulista. Mas independente de qualquer influência, o Barroco é um misto de efemeridade e existencialismo. Válido ainda é saber que Minas Gerais é referência nacional e internacional quando o assunto é Barroco. Várias cidades mineiras são visitadas diariamente por pessoas que querem ver, estudar e contemplar essa complexidade humanística e toda sua força de expressão. Os nomes de Aleijadinho e Athaíde, entre outros expressivos artistas barrocos, imortalizaram Minas, no Brasil e no Mundo.
Estudar o barroco mineiro nas paisagens de Ouro Preto é buscar ir além de seu rico patrimônio material e imaterial. É ampliar a percepção para além de altares e imagens. O barroco fala de seu tempo e de seu espaço. Grita ao vento, permanências e rupturas que não poderão jamais ser esquecidas. O conflito pelo ouro, a opressão e coerção da Coroa, os riscos de violência e morte, a escassez de viveres, as pestes e epidemias, a escravidão e a tortura, a vida e a morte. Assim guias e educadores transpõem os cenários da cidade em busca de sinais a serem evidenciados e explicitados. Estes brincam de esconde-esconde entre ladeiras, becos de servidão, igrejas, capelas, cemitérios, museus com turistas encantados e deslumbrados. Neste jogo, Felipe dos Santos, Tiradentes, Aleijadinho, Conde de Assumar, Mestre Athaíde, Tomás Gonzaga aparecem e reaparecem, muitas vezes sem serem percebidos ou evidenciados. Assim entendendo que o turismo e a educação são formas efetivas e inovadoras de se pensar a história e cultura do estado e nação, precisamos mais do que nunca reafirmar a importância dos panoramas das cidades coloniais mineiras, protagonizando a apropriação sensata e civilizada dos muitos elementos que a formataram ao longo da formação da nossa mineiridade e, sobretudo da brasilidade.
Imagem destaque: Praça Tiradentes (Ouro Preto-MG). Foto: Amália Cristian Dias de Almeida http://otc-certified-store.com https://zp-pdl.com/get-a-next-business-day-payday-loan.php https://zp-pdl.com/apply-for-payday-loan-online.php http://www.otc-certified-store.com/surgery-medicine-usa.html