Espaço, tempo e memória: os territórios turísticos como recursos didáticos

Vagner Luciano de Andrade (*)

Dos patrimônios que se formaram no passado e que na atualidade ainda se apresentam conservados, grande parte são de tipo monumental, cuja presença e reconhecimento são determinantemente mais valorizados na sociedade ocidental. Como fazer com que os discentes os percebam enquanto elementos relevantes da coletividade? Monumentos materializados no espaço e no tempo retratam elementos relevantes na vida e história de um povo, sendo, portanto significativo ícone da memória coletiva. Ao retratar diferentes elos de rupturas e permanências, resgatam um legado único, indiscutivelmente relevante como patrimônio a ser valorizado e preservado.

Assim a educação básica deve prover meio para sua apropriação e apreensão. Por sua vez, permite significativos laços entre cultura e turismo, ao promover a visitação e consequente reflexão sobre sua historicidade. Além dos monumentos, a arquitetura também se destaca na paisagem turística, sendo em alguns casos também o próprio monumento em si, aqui denominado de arquitetura monumental – como exemplo clássico, o casario e as igrejas de Ouro Preto, portais de acesso imediato aos tempos passados e testemunho vivo do Brasil Colônia. Perceber diferentes patrimônios deve ser o legado da educação transformadora.

A arquitetura, expressão de uma forma popular de vida, é o símbolo de identidade e diversidade de uma região e parte integrante da paisagem humana. Como fazer com que alunos entendam a arquitetura como a consolidação das diferentes dinâmicas que compõe a paisagem? Os valores turísticos da arquitetura apresentam traços populares comuns e singulares que identificam espaços geográficos, definindo formas próprias de habitat em espaços rurais e urbanos. Caracteriza-se principalmente pela grande capacidade de adaptação à ecologia da região e a utilização de materiais próprios do local, não se vinculando exclusivamente à motivação cultural, mas também à valorização do ambiente e de particularidades. A arquitetura é portanto produtora final de saberes e fazeres do lugar.

Marco Bocão/PML

Tradicionalmente pouco valorizada, padrões populares de arquitetura estão sendo vistos, nas últimas décadas, como recurso turístico, principalmente quando apresentam exotismo ou escassez de elementos originalmente preservados. Qualquer manifestação popular de arquitetura, reconhecida por parte da administração pública e proteção como patrimônio leva consigo um potencial educativo abarcando diferentes formas e possibilidades de aproveitamento turístico, evidenciando ainda mais os atrativos localizados no entorno. A arquitetura transita no tempo e no espaço remetendo a diferentes territorialidades e reportando a diversas perspectivas culturais, materializando-as para a posteridade. Alunos ao visitarem Ouro Preto, por exemplo, vivenciarão in loco como a arquitetura materializa a história da colonização europeia no Brasil e nas Minas Gerais. Diferentes conteúdos entre Aleijadinho e as corporações de oficio serão didatizadas em campo.

Permitir aos alunos apropriar-se da arquitetura local é exercitar a vivência do patrimônio enquanto conteúdo primordial para a educação básica. Viajando através da memória, no espaço e no tempo, os principais estilos, períodos ou culturas presentes no contexto brasileiro, sem realizar uma análise exaustiva de todos eles, estão dispersos por diferentes territórios culturais, em todo país.  E criar vontades que se desdobrarão futuramente no sentido de se entender a rica historia brasileira e seus diferentes patrimônios. Há patrimônios para cada conteúdo, seja dos anos iniciais e finais do fundamental, seja para estudantes do médio.

Brasil, terra da diversidade cultural e natural e seus múltiplos patrimônios. Inicialmente espacializam-se os territórios da Pré-história, como o Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, e a região cárstica de Lagoa Santa em Minas Gerais, bem como inúmeros sambaquis dispersos pelo litoral brasileiro. No que se refere à Antiguidade, no Brasil, não há vestígios monumentais que remontam aos árabes, celtas, egípcios, fenícios, gregos e romanos.  O feudalismo também não passou por aqui e já em termos de Modernidade, há territórios que remetem às culturas ibéricas, como os inúmeros monumentos da época de colonização portuguesa no Brasil, em especial no Nordeste brasileiro com destaque para Recife (PE), Salvador (BA), e Natal (RN). Outras influências européias também podem ser identificadas em diferentes lugares do país nos remetendo às tentativas de invasão por parte de não-ibéricos, como os holandeses e os franceses.

Embora o Renascimento tenha ocorrido na Europa, este conjunto de fatores culturais influenciou posteriormente o desenvolvimento e construção de muitos outros estilos em diferentes partes do mundo. Quanto ao Gótico, aqui materializado como uma releitura, ou o neo-gótico, temos a catedral da Sé na cidade de São Paulo e as Igrejas da Boa Viagem e Basílica de Lourdes, em Minas Gerais. Por fim, merecem destaque monumentos e obras arquitetônicas do art-deccó e do Neoclássico, com a existência de monumentos destes estilos em várias cidades e capitais, com destaque para a Praça da Liberdade, em Belo Horizonte (MG), cidade onde encontra-se um ícone recente do Modernismo, a Cidade Administrativa de Minas Gerais, obra recente de Oscar Niemeyer que também projetou a capital brasileira.

Porém, em contra partida, sem desconsiderar outros estilos, a maior expressão artística e cultural brasileira é o barroco, seja em sua simplicidade como o barroco paulista, seja em seu ápice como o barroco mineiro, seja em sua essência como o barroco litorâneo, de influência mais próxima do europeu. Nenhum estilo tão esplendoroso no tempo e no espaço como é o território barroco com a preservação de inúmeros conjuntos arquitetônicos em todo o país, alguns declarados como patrimônios da humanidade.

De extrema complexidade, símbolo de efemeridade e existencialismo, o Barroco materializa o conflito, a contradição, a crise. Nascido como movimento religioso contra a Reforma Protestante expressa o dualismo, a culpa, a indisciplina, a oposição, a rejeição e a morbidez. Em uma sociedade de opressão marcada por forças antagônicas que se chocavam proclamava a máxima do “carpe diem”, posicionando-se fantasiosamente acerca da tragédia e da efemeridade da vida. Artisticamente se caracterizou pelos efeitos sensoriais (cor, som, forma, volume, sonoridade), pelas figuras de linguagem (antítese, metáfora, metonímia e o paradoxo), imagens violentas, pelo jogo de palavras e pelo vocabulário sofisticado. Destacam-se neste contexto, as Minas Gerais com os casarios, igrejas e monumentos de Ouro Preto, Mariana, Congonhas, São João Del Rey, Tiradentes, Diamantina, Sabará e Santa Luzia e também as cidades de São Luiz, no Maranhão, e Salvador, na Bahia. Fazer com que alunos se apropriem então desta riqueza patrimonial é um desafio a ser construídos por educadores de todo país. Então como diriam nossos discentes: “bora lá”?

Fonte: Megattur

 

(*)Guia de Turismo Regional/Nacional educador e mobilizador da Rede Ação Ambiental e ex-aluno da FaE/UFMG com formação em Geografia e Turismo. E-mail: botafogo321@yahoo.com.br. https://zp-pdl.com/apply-for-payday-loan-online.php www.zp-pdl.com

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