Escola: economia ou desenvolvimento social?

Tiago Tristão Artero

 

É na escola que, de forma sistêmica, os signos se constituem de maneira a alcançar o produto do trabalho humano, o conhecimento. Ao relegar à escola um ensino neutro, o que ocorre é a negação da cultura, é a afirmação de que não existe ideologia ou práticas sociais predominantes. Não raro, é possível escutar no senso comum que, no processo reflexivo social seja dentro ou fora da escola, aqueles que discordam ou apontam caminhos alternativos na maneira de conceber a sociedade são indivíduos que concorrem para os males sociais.

O perigoso discurso de que “olhar” para o mundo de uma maneira crítica traz prejuízos ao desenvolvimento, por exemplo, de um país ou de um grupo de indivíduos muitas das vezes inibem iniciativas de mudança. Na educação (na pública, mas, em especial, na privada) isso é notável, pois em muitos casos, concorda-se com um tipo de ciência, concorda-se com uma concepção de educação e sociedade, do contrário, há represálias que visam afirmar que um ensino “neutro” é necessário. Leia-se “neutro” como continuidade das práticas sociais e concepções predominantes. Na educação pública é possível visualizar, com as devidas restrições temporais, uma relativa autonomia de produzir ciência e difundir o conhecimento a partir de um viés menos “engessado” (do ponto de vista da ressignificação da sociedade, da educação e da própria ciência). O cuidado que se deve tomar é a valorização do ensino público e da ação docente, uma vez que a sociedade depende das escolas e universidades para pensar as contradições existentes e sua necessária superação.

Se por um lado é possível perceber que concepções reducionistas sobre a função da escola (notavelmente, quando se nega seu papel social) se reduz as ações na escola a práticas superficiais, a observações imediatas da realidade, por outro urge superar este tipo de ensino em busca de novas formas de percepção do mundo, refletidas, aprofundadas de maneira que se note os aspectos sociais, as limitações históricas, as alternativas de compreensão e produção de novos conhecimentos. O conteúdo trabalhado na escola pode contribuir com esse avanço, a mediação pelos signos e o desenvolvimento dos indivíduos pelo (e a partir) conhecimento. Mas que seja um conteúdo percebido em sua historicidade e nas possíveis contradições que apresente.

Como ressignificar o papel da escola, percebendo-a como geradora de novos conhecimentos e contestadora de outros, visando o desenvolvimento dos indivíduos e da sociedade como um todo?

A depender das diretrizes contidas, em particular, no “sistema” brasileiro de educação e de formulações/reformulações propostas de maneira incisiva este objetivo se torna cada vez mais distante. Ao tornar-se cada vez mais distante, mostra-se como mais urgente. São leis e medidas desapartadas daquilo que, historicamente, já se avançou nas discussões – da academia, presentes nos fóruns de educação, enfim, das produções existentes em todos os níveis do ensino – e que não incorporam ou superam o que já se alcançou.

Propagandas de que são necessárias reformas no ensino caminham em sentido contrário do que realmente seria uma reforma no ensino. Mas, ao se notar as contradições, percebe-se que há uma distância bastante considerável entre reformas superficiais e reformas necessárias na educação. Conceber que a prática docente e o conceito de escola são aspectos para serem discutidos no momento atual, certamente poderá promover mudanças esperadas tanto no “tipo” de conhecimento desenvolvido pela escola, quanto na própria organização da mesma em seus aspectos de socialização/produção do conhecimento. Afinal de contas, que tipo de “desenvolvimento” estamos buscando, econômico (em especial, na economia de outros países) ou social (na profundidade e criticidade que a palavra “social” merece)?

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