ENEM: os números e suas interpretações

Foram divulgadas nesta quarta feira, dia 05 de agosto, as notas das escolas cujos alunos participaram da última edição do  ENEM. São mais de 15.500 escolas de todo o país. Chamou a atenção, na apresentação dos resultados, a exposição mais detalhada e fundamentada dos dados pelo Ministro da Educação e pelo Presidente do INEP. Ultrapassando a mera apresentação das notas, eles contribuíram para o maior e melhor entendimento do significado dos resultados alcançados pelas escolas.

Apesar de, mais uma vez, os meios de comunicação se apresentarem especialmente interessados em construir rankings das escolas e em explorar exaustivamente a comparação entre as escolas públicas e as escolas privadas, tanto o Ministro Renato Janine como o prof. Francisco Soares, chamaram a atenção para algumas dimensões daqueles dados que não estão imediatamente visíveis. Uma dessas dimensões é, justamente, a dificuldade de considerar pura e simplesmente  a qualidade da escola brasileira.

Como tem defendido este Pensar a Educação em Pauta é uma grosseira redução da noção de qualidade da educação e, mesmo, da escola, dizer que ela se reflete diretamente e, como querem alguns, exclusivamente nas notas do ENEM. A educação é uma área muito complexa do mundo social justamente por se referir ao conjunto dos investimentos coletivos e individuais de formação das novas gerações que chegam ao mundo. Se, neste sentido, a educação não pode ser reduzida à escola, a qualidade desta não pode ser reduzida, também, às notas obtidas por seus alunos em um exame pontual e nacional, por mais bem elaborado que este seja.

São vários os  pesquisadores em educação que têm chamado a atenção para a construção social e pedagógica dos números da educação e, mais especificamente, das notas dos alunos e das escolas no ENEM. E os dados publicados pelo INEP mostram aquilo que há muito já se sabe: as desigualdades escolares acompanham as desigualdades sociais e econômicas. Se, por um lado, as escolas não fazem milagres, por outro, é preciso considerar que as escolas impactam seus alunos de maneiras muito diferenciadas, e isso não é captado observando-se apenas as notas nos exames de grande escala como o ENEM.

Assim, como já se observou em várias pesquisas, o efeito da escola sobre os alunos pode ser muito  maior numa escola com menor nota do que aquelas que estão no topo dos rankings. Essa consideração é importante pois  nos permite sublinhar o esforço e o investimento feito pelas milhares de comunidades escolares em todo o Brasil para  manter as crianças e jovens na escola e para garantir as condições para que estes aprendam.

Neste sentido, é de grande força simbólica o chamado ranking alternativo publicado pelo INEP indicando que, quando se considera o tamanho da escola, o fato de 80% dos alunos realizarem ali todo o ensino médio e o atendimento a alunos de nível sócio-econômico baixo ou muito baixo, temos agradáveis surpresas. Neste caso, por exemplo, as escolas públicas melhor colocadas são todas na região Nordeste do país.

Esse é apenas um dos exemplos que nos mostram como os dados estatísticos, sejam eles quais forem, podem servir aos mais diversos usos, e que os mesmos números podem ser mobilizados para posições opostas. É, portanto, louvável o esforço do Ministério da Educação, por meio do INEP, de tornar menos opacos e mais transparentes os modos de sua produção e a indicação de possibilidades de sua interpretação.

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