Educação, recursos naturais, saberes e fazeres: ética e ecologia nas Comunidades tradicionais

Vagner Luciano de Andrade

Ludimila de Miranda Rodrigues Silva

Quando se discute recursos naturais na educação dois elementos vêm à tona: ética e ecologia. E o professor de Geografia tem muito a contribuir neste sentido devido ao fato de sua disciplina ser uma ciência ampla e abrangente, que, utilizando de inúmeros conceitos originários de outras áreas, procura fazer uma análise completa da relação entre ser humano e meio ambiente e das inúmeras relações naturais e sociais que acontecem sobre o espaço. Ao compreendermos que este espaço mantém uma estreita relação com o homem, sendo inseparáveis, devemos como professores contribuir para que o ser humano seja consciente, crítico e atuante na busca da qualidade de vida e justiça social, porém com harmonia e equilíbrio sem imprimir uma marca destrutiva no planeta. Para isso, é de suma importância a consciência crítica na formação dos alunos para que eles analisem o ambiente natural e social que os cercam, bem como as relações estabelecidas em ambos. A análise e a crítica certamente levarão à reflexão e a ação necessárias à transformação deste mundo num lugar mais justo e harmônico, onde todos tenham acesso à vida em sua plenitude.

É fato que as comunidades tradicionais são mestras em saberes e fazeres, nos quais a ética (saber) e a ecologia (fazer) se alternam no manejo cultural do meio. E a transferência deste legado, historicamente acumulado, se dá através da educação. É a dádiva da vida em comunidade construindo a sustentabilidade. A ecologia, a ética e a análise ambiental enquanto práticas educativas são uma realidade cultural do Alto Jequitinhonha. Eduardo Magalhães Ribeiro, Flávia Maria Galizoni e Luiz Henrique Aparecido Silvestre retratam esta prática educativa a partir do texto “Comunidades rurais e recursos comuns nas chapadas do alto Jequitinhonha, Minas Gerais”. Nesta região mineira os cultivadores fazem a gestão dos recursos naturais que são usufruídos em comum. Embora sejam relativamente escassos, mas abundantemente diversos, eles passam por uma normatização produzida pelas próprias comunidades que definem consumo, gerenciamento e poupança dos estoques de bens e recursos ecossistêmicos como água, cultivos e madeira. A comunidade é um complexo organizativo de âmbito cultural que atua na coordenação dos agricultores, articulando as características ambientais, existenciais e familiares.

De outro lado, a família é a unidade física e cultural de reprodução do trabalho e da produção. Comunidades estruturadas a partir de unidades familiares oferecem um panorama histórico específico da complexidade cultural, econômica e social da região das nascentes do rio Jequitinhonha. Como estes grupos vivem próximos ao meio que exploram, conseguiram elaborar um profundo conhecimento sobre os recursos essenciais e vitais, visando sua conservação comum. Mas essa visível liberalidade no uso dos recursos renováveis se abrevia apenas aos membros da comunidade. A restrição é um primeiro aspecto observado na conformação das regras de uso dos recursos disponíveis.

Observando-se diferentes ciclos de permanências e rupturas, há uma enormidade de ofertas que o meio ambiente propicia para o uso coletivo das famílias. Como estes recursos são disponibilizados pela natureza, pode-se pensar que não possuem usos éticos legitimados e, portanto, regulamentados pelas comunidades rurais. Sabiamente, tais recursos não são utilizados desregradamente pelas famílias, sem nenhuma forma de controle da própria comunidade.

O que se observa é que as normas de apropriação e exploração desses recursos

constituem formas comunitárias de gestão ética das ofertas da natureza. As áreas de extração são regidas e geridas por códigos que combinam a necessidade das famílias e comunidades com o recurso natural em questão.

Graças ao conhecimento, conservação e regulação, as famílias conseguem viver com falta de chuva, migrações temporárias ou definitivas, sazonalidade do trabalho agrícola e escassez relativa de alguns bens. Assim, conhecer e viver em seu território é, ao mesmo tempo, condição ética e ecológica para normatizá-lo e mecanismo para consolidar sistemas produtivos dedicados a descobrir e otimizar novas fontes de recursos. O saber sustentável é a face do pertencer, do produzir e do gerir, que são reproduzidos e aplicados ao seu espaço de vivência coletivo. Posto isso, faz-se cada vez mais necessário agregar aos conhecimentos locais do Alto Jequitinhonha novas alternativas aos agricultores, tais como as inovações dos sistemas agroecológicos e sua inserção no mercado consumidor, a agroindústria familiar, a licenciatura camponesa, o turismo rural e o ecoturismo como alternativas de fortalecimento da identidade, territorialidade e sustentabilidade local. 

Neste contexto, a Educação do Campo incrementa a capacidade e os saberes do estudante para o comprometimento consigo mesmo, com o outro, com a comunidade, com a vida e com o planeta, formando assim novos cidadãos que derrubem os atuais padrões de egoísmo e competição estruturados na sociedade. Para isso é indispensável uma educação camponesa voltada para a ética, os valores humanos, a preservação do meio ambiente, a cultura, o gênero e o consumo responsável, contribuindo, dessa maneira, para a formação do educando em sua totalidade e incentivando a paz, a criatividade, a sensibilidade, a responsabilidade e o respeito.

Também são necessários investimentos nos professores e supressão da exclusão social, da retenção e da evasão escolar, ainda expressivosno cotidiano da escola camponesa. A instituição escolar ao frisar a importância da autonomia dos alunos no processo de aprendizagem ressalta a importância da autopercepção do cotidiano e da realidade, visando o desenvolvimento de um conhecimento integrado, que o levará ao entrelaçamento ético (busca) e à totalidade do ser ecológico (percepção e comunhão com o outro, com o meio), preparando esses atores sociais para uma participação coletiva, que vinculada aos valores sociais e a ação responsável, destroem sentimentos e atitudes de egoísmo, individualidade, indiferença, desprezo enão-comprometimento. Os objetivos das teorias educativas do campo expressam, nesse sentido, a essência cristalina da sustentabilidade: contribuir para a formação plena do ser humano (ética) e das demais formas de vida (ecológica).

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