Educação Obsoleta em uma Sociedade Obsoleta – exclusivo

Tiago Tristão Artero

Esquecemo-nos das revoltas em Londres ocorrida há pouco tempo? Esquecemos a tragédia diária em que vive o Brasil e as revoltas ocorridas em um espaço de tempo cada vez menores?

É verdade que tragédias como a ocorrida em Paris (refiro-me aos atentados terroristas) ofuscam outras, não menos impactantes socialmente.

Diante de uma sociedade que torna-se obsoleta a cada instante, ninguém melhor do que Zygmunt Bauman para traduzir a liquidez do mundo no qual vivemos.

Antes roubávamos (1º pessoa do plural que refere-se a nós, seres humanos) para adquirirmos alimento ou algum outro bem que considerávamos primordial. Hoje, roubamos para adquirir o que consideramos necessário: status social, acesso a tecnologia, “ostentação”… fazendo com que os ”criminosos” em potencial multipliquem-se em uma proporção geométrica, tanto quanto nossas “necessidades” aumentam.

Muitas das revoltas em cidades “desenvolvidas” não têm uma bandeira e não levam estampadas em uma bandeira as ideologias de um partido x ou y. Muitas são as tentativas de explicar os comportamentos de revolta da população, entre eles a falta de uma efetiva educação formal (escolas), a derrocada de valores familiares, a falta de perspectivas sociais e econômicas e a intolerância à corrupção (de políticos e de outros segmentos que detém o poder).

Para alguns pensadores, a sociedade de consumo – que valoriza muito mais o que consome em detrimento do desenvolvimento moral individual e/ou coletivo – demonstra a necessidade de valorizar o temporário e mostrar os produtos de seu consumo a todos. O desemprego crescente e a falsa impressão de que os cidadãos conseguirão manter algumas conquistas alcançadas, por exemplo, pelos seus pais, geram uma insegurança que se manifesta em formatos diferentes. “Aproveitar o ‘agora’ e pagar quando puder” sempre foram preceitos que deram base ao crescimento econômico e ao ilusório “desenvolvimento social”.

Como consequência de uma instabilidade nos valores, na economia, nas famílias e na religião, onde fica a escola?

A escola daria foco em “tentar” resgatar esses valores? A revolta de indivíduos de uma “sociedade de consumo” contra uma “sociedade de consumo” parece redundante e incoerente, pois, se pudessem, muitos estariam participando de “orgias” de consumo (como refere Bauman), mesmo que por poucas horas (o mesmo vemos, no Brasil, quando criminosos entram nas casas, destroem o que não podem levar, defecam no chão e consomem o que há na geladeira, antes de irem embora – fato de revolta ignorado nas análises que estruturam as políticas públicas tradicionais). As estruturas sociais e o falso sentimento de organização caem por terra a partir do momento em que vemos, por exemplo, grandes massas de revoltosos, sem uma causa específica, destruindo símbolos do capitalismo (expressão máxima do consumo), como vidros de agências bancárias e concessionárias de veículos (receio que grande parte dos indivíduos gostariam de ter os melhores carros ou contas mais ‘gordas’). Isto demonstra que revolucionar pelas urnas (voto) não é mais suficiente. Busca-se um sistema de valores diferente do atual. Qual? Ainda não se sabe, está em construção.

Quando das entrevistas de Bauman dispostas na internet, não havia ocorrido os atos terroristas em Paris (2015), mas sua fala parecia prever revoltas e instabilidades cada vez maiores.

No contexto escolar, o currículo oculto parece falar cada vez mais alto… sentimentos e necessidades dos alunos diferentes da “estrutura” pedagógica manifestada pelos professores e idealizado a partir do Projeto Político Pedagógico (elaborado a partir de intensos debates com os alunos, sociedade e todos os outros atores da escola… só que não).

O aumento da geração “nem nem” (nem trabalha, nem estuda) retrata um problema que não é só do Brasil, mas fruto de uma geração melhor…? pior…? Líquida!

Há um fato que julgo incontestável: a falta de conhecimento “de causa” de nós, professores, e a cristalização em ações que inibem o protagonismo infantil/juvenil só aumentam a insegurança das crianças e jovens.

O resultado é claro e pode ser visto todos os dias no noticiário, podendo ser retratado a partir da seguinte comparação: o que acontece com um animal quando está inseguro e acuado? Ataca!

Portanto, antes que nossas crianças e jovens ataquem, é preciso que se efetivem mudanças urgentes em nossas estruturas e convenções sociais cristalizadas historicamente, em especial, nas escolas. A começar pelo desenvolvimento do pensamento crítico… pensamento crítico em relação aos sistema de avaliação… à organização da escola… às mudanças necessárias para o engajamento dos alunos em pesquisas, em projetos, em um mundo real que é transdisciplinar.

Assim, esperamos que as tragédias individuais e coletivas sirvam para revermos nossos conceitos, nosso conhecimento, nossa atuação, pois uma escola obsoleta só contribuirá para a tentativa frustrada de atuar em uma sociedade que não existe mais (porque está obsoleta).

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