Educação e tipologias turísticas: leitura das paisagens e realidades.

Mayara Aparecida Pereira Tavares1

Vagner Luciano de Andrade

O turismo é um excepcional agente transformador da coletividade, seja em qualquer um de seus eixos, cultural, pedagógico, social, de natureza, dentre outros. Proporciona experiências reais de socialização, troca cultural e noções de educação patrimonial. Porém, na era da socialização virtual, tão presente, há dificuldades em trazer a atenção aos aspectos mais amplos que o turismo provoca. 

As novas tecnologias, proporcionam algumas dificuldades ao turismo e a preservação patrimonial, pois, a fotografia, por exemplo, tornou-se fundamental para abastecer as redes sociais das pessoas, o que é bom para difundir conceitos e divulgar espaços, porém, por muitas vezes, consome e limita o trabalho in loco. Neste ensejo, deve-se ater a aquele turismo desplanejado, que muitas vezes transformam destinos como sítios históricos, museus e comunidades em mero simulacros para o registro fotográfico. 

O setor turístico, em sua maioria, é uma força mercadológica que muito contribui na preservação de bens patrimoniais, bem como atua como difusor das especificidades locais.  Porém, uma grande parcela da coletividade, ainda não compreende a dimensão da relevância do aprendizado proporcionado pelo turismo, seja no meio pedagógico ou no convencional. 

Os locais de turismo, precisam de planejamento e bons projetos educacionais, para que não se tornem meros locais de uma passagem “ausente” e desconexa. O reconhecimento e valorização das especificidades locais, fortalece o sentimento de pertencimento do nativo em manter suas tradições culturais e características espaciais, como a conservação do meio natural e/ou arquiteturas. Um destino turístico com estas qualidades proporciona uma real experiência cultural e ambiental ao visitante que retornará à sua residência com muitos novos aprendizados. Sendo assim, os profissionais e gestores do turismo necessitam compreender as demandas da sociedade e do turista de maneira a obter experiências inovadoras para ambos atores.

A conexão entre os atores (nativos e turistas) e os espaços físicos pode ser melhor conduzida pelo guia de turismo, profissional este imbuído de conhecimentos locais e chancelador das demandas dos visitantes. O trabalho do guia de turismo credenciado, qualificado na área de ensino, seja como arte-educador, biólogo, filósofo, geógrafo, historiador, sociólogo e demais formações docentes, desempenha um protagonismo significativo. Assim, sua ação que permeia bases científicas à realidade dos destinos, conduz a um turismo sustentável pautado no conhecimento e respeito. 

Esta modalidade de turismo pedagógico é de grande valia tanto para turistas quanto para alunos do ensino formal. Mas será que o turismo pedagógico é aplicado nas instituições de ensino como uma metodologia extra no processo de aprendizado?  Nesta discussão, se inserem termos como “aluno-leitor”, ‘turista-leitor”, dentre outros, potencializando o aprendizado por meio da leitura de paisagens e realidades. 

A concepção de patrimônio, seja material ou imaterial, é algo largamente debatido e traz a clareza de sua importância cultural para a sociedade. A socialização e a assimilação do patrimônio unificam a noção de identidade e pertencimento no imaginário popular. Especificamente, a atividade turística para fins de ensino, objetiva exemplificar como o turismo se torna agente educador do patrimônio cultural/natural; expor problemas sociais e culturais causados por interesses políticos e privados na preservação do patrimônio. Pensar novos estímulos de aprendizado sobre patrimônio cultural/natural através do turismo. 

Nas diversas possibilidades de relação entre história, patrimônio e turismo, o presente expõe a importância de difundir esta relação para que o futuro da educação patrimonial se efetive através do incentivo aos trabalhos, tanto pelo poder público, quanto pelo privado, valorizando as nuances de cada setor turístico, expondo a importância da compreensão da sociedade civil acerca do que é patrimônio cultural/natural e do porquê preservá-lo. 

Principalmente, o território brasileiro, resguarda excepcional potencialidade no que tange a conservação do patrimônio cultural/natural, veiculados à pesquisa.  Decodificar, resguardar e apreciar o patrimônio é uma escolha para a permanência de receptáculos pretéritos, tido como referência para a sociedade. Assim no âmbito da educação formal, um objetivo geral se faz necessário em todas visitações, para que o aluno consiga perceber os conceito de sala de aula diretamente aplicados na realidade, com percepções acerca do patrimônio cultural/natural, da educação patrimonial e valorizando o Ser/Estar presente. 

O turismo tem intensa afinidade com o patrimônio cultural e acontece com mais magnitude nos centros históricos das urbes, espaços onde a memória reside. O patrimônio cultural/natural é abarcado como a objetivação da cultura histórico-social da humanidade, e, carece ser compartilhado, o que é o objetivo da educação patrimonial. 

Assim, evidencia-se a necessidade de que a educação patrimonial deve ser amplamente difundida, bem como valorizada e trabalhada na sociedade local. Se utilizada como protocolo no turismo estudantil, forma alunos em leitura/percepção/reflexão das diferentes paisagens e realidades. Reforça-se que essa Formação conecta interdisciplinarmente Biologia, Geografia, História e outras disciplinas da educação básica. O aluno/turista precisa ler e compreender o aspecto cultural, histórico e social da comunidade visitada, ou seja “decodificar e interpretar” as paisagens. 

Quando se versa sobre patrimônio, educação e turismo, notam-se poucos projetos de pesquisa com tendências a expansão dessa potencial temática, em diferentes instituições do país e do mundo.  O turismo necessita de um maior desenvolvimento nas relações entremeadas com a educação. Para que a atividade proporcione significativos avanços é necessário que escolas, governo, guias de turismo e outros profissionais trabalhem juntos objetivados na conservação do patrimônio ambiental/cultural, no respeito às comunidades locais e bom aprendizado que vai além da sala de aula.  Portanto, visitações turísticas proporcionarão um amplo valor agregado ao aluno, e assim fotos terão maior importância do que a de abastecer redes sociais.

 

1Guia de Turismo e Discente do Programa de Graduação em História – Bacharelado do Centro Universitário Internacional – UNINTER. 

 

Para saber mais:
CARDOZO, Poliana Fabiula; MELO, Alessandro de. PATRIMÔNIO, TURISMO CULTURAL E EDUCAÇÃO PATRIMONIAL. Educ. Soc., Campinas, v. 36, nº. 133, p. 1059-1075, out.-dez., 2015.

CASTELO BRANCO, Patrícia. M. Patrimônio histórico e turismo: Uma construção social. 2008. (Disponível em: www.iphan.gov.br)


Imagem de destaque: Alunos sendo recepcionados por monitores na entrada da Gruta do Maquiné, Cordisburgo/MG, em 2017 (Autoria: Vagner Luciano de Andrade). 

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