Educação, cultura popular e superstições: o treze de agosto, um dia como qualquer outro

Vagner Luciano de Andrade

Eis Agosto, com muito gosto, uma oportunidade única de se alinhar educação à cultura. E por falar em datas comemorativas e seu amplo uso no cotidiano de professores e alunos, falemos de agosto, ou melhor, do dia treze, especificamente. O domingo desta semana, mas precisamente em 13 de agosto, data em que se comemorou o tradicional dia dos pais, era para ser uma data como qualquer outra, mas o dia mencionado é envolto em superstições e demonstra nuances populares e múltiplas crendices. Nesta data comemora-se também o dia do Pensamento. Assim, o pensamento é sem sombra de dúvida, a principal característica e capacidade que difere o ser humano dos demais seres vivos existentes no planeta Terra. Mas se há racionalidade, por outro lado, há cultura dispersa no senso comum com imaginários que povoam a mente de inúmeras pessoas, a milhares de anos. Assim não somente a capacidade de pensar, mas também de produzir crendices, mitos e superstições, diferenciam a comunidade humana das demais comunidades bióticas existentes.

Agosto ganhou a fama de azar quando criado, recebendo a superstição de mês da inveja. Mês do folclore, procede do latim Augustus, sendo o oitavo mês do calendário gregoriano. Foi assim decretado em honra a César Augusto, que não quis diferenciar-se de Júlio César, para quem se batizou o mês de julho. O nome é, portanto, uma homenagem ao romano, por ficar com “inveja” de o imperador antecessor ter 31 dias e exigiu que o seu mês também tivesse. Antes dessa mudança, agosto era o sexto mês no calendário de Rômulo e, portanto denominado de Sextilis ou Sextil. O número 13 é considerado sinal de azar ou sorte, dependendo da cultura e da percepção. Na história da cultura, o treze é um número considerado incompleto. Em diferentes civilizações pelo planeta, o número 12 é considerado completo, devido a uma série de situações: para os cristãos, eram 12 os apóstolos de Jesus; para os astrônomos da Antiguidade são 12 as constelações do Zodíaco; para povos agrícolas mesopotâmicos são doze os ciclos lunares durante um ano solar, que formam os 12 meses; para os judeus eram 12 tribos de Israel; e a contagem suméria tinha como base 12 unidades, derivando a dúzia. Assim, o 13 é considerado um número irregular, sinônimo de infortúnio. O número 13 é tão temido que alguns lugares, como nos Estados Unidos, prédios não possuem o décimo terceiro andar. Por lá, o número 13 também tem uma força histórica, pois o país alcançou a independência com suas 13 colônias, representadas pelas 13 listras da bandeira. E para quem acredita em outras forças místicas, a décima terceira carta do Tarô é “A Morte”.

Dia do Economista comemorado em 13 de agosto.

Existem lendas da mitologia nórdica que reforçaram os mistérios quanto ao número 13 e espalharam a superstição pela Europa. Na morada dos deuses, foi dado um banquete para 12 divindades, mas Loki, espírito da discórdia e do mal, não convidado, promoveu desentendimento entre as divindades. Na briga, o deus favorito, Balder morreu gerando a crença de não se convidar 13 pessoas para uma festa. O número 13 é tido ora como sinal de infortúnio, ora de bom agouro. Se a sexta cair no dia 13 de qualquer mês é um mau sinal, considerada popularmente como uma data de má sorte. Para a população, no geral, todo cuidado é pouco neste dia de azar. Supersticiosamente, somando a data de azar (sexta-feira) com o número 13 tem-se o mais azarado dos dias. Foi numa sexta, que Jesus foi crucificado. No dito popular, é considerado o melhor dia da semana, pois é o último dia de trabalho precedendo o lazer no sábado e domingo. Para o Islamismo, é um dia de descanso e oração. O pesquisador da cultura popular, Nathanael Souza, destaca que a fama da data é algo inexplicável somente com fatos, sendo impossível contê-la. Para o professor, a superstição liga-se ao mito e à fé, no qual se acredita ou não. Assim, não há como prová-la ou descaracterizá-las com aspectos científicos.

A palavra é originária do latim Sexta Feria e de mesma acepção existe em galegomirandêstétum. Povos pagãos antigos reverenciavam seus deuses dedicando este dia ao astro Vênus originando as denominações espanhola e italiana, viernes e venerdi. Povos europeus reverenciavam a deusa anglo-saxônica da fertilidade, criando os termos em inglês friday, dia de Frige, e alemão Freitag, dia de Freya. Outro fato histórico ocorrido em um domingo, 13 de agosto é o início da construção do Muro de Berlim, em 1961. Agosto ainda é marcado como o mês das bombas de Hiroshima e Nagasaki na 2ª Guerra Mundial, do massacre de protestantes da noite de São Bartolomeu, em 24 de agosto na França, e do início da 1ª Guerra Mundial em 1914. Historicamente no Brasil, a queda do avião de Eduardo Campos, o acidente que matou Juscelino Kubitschek, e o suicídio de Getúlio Vargas se deram no respectivo mês. Mas espere, há coisas boas como o dia do canhoto, que promove uma discussão significativa numa sociedade preconceituosamente educada pela diretriz do Destro. No ano de 2004, mais precisamente no dia 13 de agosto ocorreu em Atenas, a abertura oficial dos Jogos Olímpicos numa festa memorável.

Dia do Canhoto comemorado em 13 de agosto.

Assim, a educação deve analisar cientificamente a relação entre racionalidade, pensamento e cultura através da relação entre mitos, crendices e superstições existentes em diferentes lugares da Terra, numa perspectiva filosófica e interdisciplinar, contribuindo para didatizar esta relevante discussão. Portanto elencou-se um determinado dia na história mundial, carregado de simbologia, o “treze de agosto”, e partir dele é possível analisar como o mesmo se caracteriza como um dia comum, com acontecimentos positivos e negativos, nascimentos e mortes, como os demais do ano. O dia treze de agosto, por sua vez, é o dia do pensamento, bem como opostamente é o dia do azar, do desgosto, do cachorro louco, do amuleto no bolso e outras superstições populares presentes em realidades camponesas e citadinas de todo o mundo. A partir do respectivo dia busca-se analisar na cultura popular, eventuais registros de diferentes tempos e espaços, de mitos, crendices e supertições relacionados ao mês de agosto, à sexta-feira, ao número treze e ao gato preto, contribuindo para desmistificar simbologias equivocadas, mas acima de tudo contribuindo para a reflexão e devida valorização da sabedoria popular. Que treze de agosto não seja sinônimo de azar, mas sim de sorte por existir uma educação cultural planetária, tão complexa e rica de histórias e significados. Que esse seja o pensamento de todos, escrito por destros e canhotos, sem economia de palavras!

Dia do Pensamento comemorado em 13 de agosto.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *