Ecologia e gestão ambiental na educação infantil

Vagner Luciano de Andrade
Ilda Rosa de Paula Chaves (*)

“Vamos falar das crianças, é delas este paraíso que estamos a destruir. O Éden existe e está no coração das crianças, se está lá está salvo.” (autor desconhecido)

 

O homem é um ser cultural que, ao se apropriar historicamente do espaço natural para sobreviver, modifica-o, resultando na maioria das vezes em inúmeros impactos socioambientais. Na segunda metade do século XX surgiram problemas ambientais alarmantes decorrentes do papel de subserviência da natureza em relação à sociedade moderna. Decorrente disto, a coletividade atualmente vive um dilema: se por um lado o ser humano conquistou consideráveis benefícios, melhorando amplamente sua qualidade de vida, por outro lado o planeta vive uma crise mundial sem precedentes na história. Com isso, sítios naturais foram drasticamente reduzidos pela ação antrópica, espécies animais e vegetais foram extintas, rios e mares contaminados, tudo em nome de um modelo econômico dilacerador e excludente, denominado capitalismo. Até parece terrorismo ambiental, mas, se o homem continuar com sua ação devastadora, o próprio prejudicado será ele mesmo. Neste sentido ficou evidente a necessidade de mecanismos de sensibilização, conscientização e informação que levassem os seres humanos a refletirem sobre a realidade e os conflitos existentes entre humanidade e natureza.

Emergiu-se então a inevitável necessidade de um olhar cuidadoso e consciente para com a temática ambiental, claramente perceptível na sociedade atual. Como resposta, nasceram movimentos oficiais de nível mundial como a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada em Estocolmo em 1972; Eco-92 no Rio de Janeiro, em 1992; Rio+5, realizada em 1997, em Kyoto, no Japão; a Rio + 10, em Joanesburgo (África do Sul), em 2002; dentre outros, considerados eventos de grande importância. Neste contexto, a carta de Belgrado, escrita por vinte especialistas em 1975, na capital da antiga Iugoslávia, destacou a importância da Educação Ambiental como ação de grande relevância ao propiciar meios efetivos à solução dos problemas ambientais em escala local e global. Este documento declara que a principal meta da Educação Ambiental seria o pleno desenvolvimento de um cidadão consciente do ambiente integral, preocupado com os problemas associados a esse ambiente e que tenham atitudes, conhecimentos, envolvimentos, habilidades e motivações para trabalharem individual e coletivamente em busca de soluções para problemas atuais bem como prevenir futuras ameaças. Assim, entende-se que a Educação Ambiental contribui para a compreensão do ambiente em suas variadas dimensões: cultural, ecológica, econômica, ética, política, social, tecnológica, sensibilizando cidadãos quanto à defesa de todas as formas de vida e incentivando a mobilização coletiva a partir das causas e conseqüências que afligem o planeta Terra em sua totalidade.

Quando se pensa em Educação Ambiental pensa-se em diferentes eixos temáticos, suas conexões e desdobramentos. O objetivo central deste trabalho é discutir brevemente os impactos atuais das questões ambientais na Educação Infantil e possíveis perspectivas estratégicas para o seu desempenho curricular nesta etapa inicial de escolarização. Dentro desta perspectiva, pretendem-se debater as posturas, práticas e valores atualmente adotados pela educação quanto às exigências ambientais contemporâneas tecendo considerações sobre como os instrumentos teóricos de Ecologia e Gestão Ambiental são aplicados em demandas e questões locais, a partir do núcleo escolar. Assim, Ecologia e Gestão Ambiental devem ser discussões presentes na prática docente da educação infantil incentivando e viabilizando possibilidades educativas a partir da realidade de inúmeros abrigos, creches e escolinhas, públicas e/ou privadas em diferentes regiões do país.

Por não se consolidar como conteúdo específico e/ou obrigatório da educação infantil e na básica, a Educação Ambiental por vezes é uma metodologia opcional em diferentes escalas do ensino e em distintas esferas educacionais. Evidentemente, nesta realidade, a Educação Infantil ainda não assimilou em sua prática educativa questões contemporâneas como ecologia e gestão ambiental inovando e ampliando as possibilidades do cotidiano educativo. Teoricamente tida como a fase inicial do processo educativo, esta fase é uma das mais importantes na vida de um ser humano permitir e viabilizar sua apresentação enquanto pessoa, seu entrosamento social e posterior ambientação no mundo coletivo. Muitas vezes esta etapa educacional ainda se limita apenas a objetivos comunitários e filantrópicos, não inovando no ensino/aprendizagem e comprometendo processos educativos subseqüentes na primeira fase do Ensino Fundamental. Assim é indispensável, investigar processos e/ou potencialidades nas áreas de Ecologia e Gestão Ambiental na prática docente de educadoras infantis e sua apropriação/aplicação por parte dos alunos em diferentes unidades escolares evidenciando experiências e incentivando novas práticas e posturas. Aqui entende se Ecologia como prática curricular formadora e a Gestão Ambiental como prática cotidiana na gestão/administração do espaço e os elementos ambientais que garantem seu funcionamento e manutenção: água, eletricidade, materiais e lixo.

 

Fonte: arquivo Escola Vila / Via: Catraquinha

Atualmente, as educadoras infantis são formadas a partir de cursos de Pedagogia e/ou de cursos de Magistério, de nível pós-médio, sendo insuficiente e às vezes inexistente o conteúdo curricular de formação ambiental. Depois de formadas, as educadoras em sua atuação profissional não vislumbram possibilidades e potencialidades no dia-a-dia da função. São muitas as funções acumuladas: o zelo pela segurança física, o brincar, a alimentação e o sono, a psicomotricidade e a socialização, dentre outros elementos. Assim, a unidade de Educação Infantil, primeira etapa na formação escolar de um indivíduo deve ser o espaço inicial de cidadania e democracia ao contribuir para a resignificação e valorização da natureza por parte dos alunos, ampliando assim os índices locais de educação ambiental. Na Educação Infantil é possível e viável desenvolver ações de leitura e apropriação do espaço natural local, incentivando os(as) pequenos(as) a perceberem e se apropriarem de suas realidades socioambientais, bem como através da aula-passeio repensar a realidade local a partir da reflexão sobre os impactos existentes.

Na observação do método pedagógico das educadoras infantis, bem como na observação do espaço físico escolar e sua praticidade e funcionalidade, é possível pensar e viabilizar atividades pedagógicas integrando ludicidade e formação socioambiental através de atividades diversas: dia de expressão artística, exibição de vídeos educativos, momentos de contação de histórias e peças teatrais, mural ecológico, oficinas lúdico-pedagógicas, roda de brincadeiras e musicalização, rodinha de conserva sobre a natureza e teatro ecológico com fantoches. Na observação da prática docente é possível identificar potencialidades temáticas próximas da realidade diária dos alunos como a água e o lixo, por exemplo. Assim, deve-se pensar na questão ambiental como algo diário e inerente ao contexto educacional incentivando o planejamento pedagógico da educadora sobre a temática, levando-a inclusive a conhecer projetos ambientais existentes. Somente assim a percepção e interpretação ambiental passarão a ser algo presente na vida de alunos e educadores e não apenas numa única data específica, ou seja, apenas no dia do meio ambiente quando a unidade escolar se enche de murais com pegadas dos pequeninos (as), decora-se a sala com a chamada “árvore dos sonhos” ou se distribui os peixes de origami, sem nenhuma fundamentação e/ou reflexão sobre a complexidade do assunto e sua urgência. Ecologia e gestão do meio ambiente se efetivam enquanto vivência e instrumento de inclusão, cidadania, qualidade de vida para todos sem distinções.

Fonte: Grupo Violes

(*) Tecnóloga em Gestão Ambiental pela Universidade Norte do Paraná – UNOPAR.

Imagem de destaque: Fonte: Ecologia Urbana

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