“Direita e esquerda ainda existem?”

Cleide Maria Maciel de Melo

 

“E se existem ainda, e estão em campo, como se pode dizer que perderam completamente o significado? E se ainda têm um significado, qual é ele?”. Com essas perguntas, Norberto Bobbio dá início ao prefácio da primeira edição (1994) de seu livro sobre o tema das posições políticas, esquerda e direita, Direita e esquerda: razões e significados de uma distinção política. Sua iniciativa foi uma resposta aos argumentos de que tais noções teriam caído em desuso, mas, no entanto, permeavam os discursos dos que disputavam o governo do parlamento italiano.

Qual é a tese apresentada e defendida? Para o autor, esquerda e direita são duas noções antitéticas, portanto, excludentes: não é possível a um mesmo sujeito ser considerado (ou se auto-intitular) como pertencente à essas duas posições, ao mesmo tempo. A posição adotada frente à questão da igualdade, estabeleceria a distinção entre “ocupantes” da esquerda e da direita. Entretanto, considerando que o “conceito de igualdade é relativo, não absoluto”, três variáveis deveriam consideradas: “a) os sujeitos entre os quais se trata de repartir os bens e os ônus; b) os bens e os ônus a serem repartidos; c) o critério com base no qual fazer a distinção”. Bobbio sintetiza essas variáveis em três perguntas: “igualdade sim, mas entre quem, em relação a que e com base em quais critérios?”

O tema do livro é desenvolvido em oito capítulos curtos. O impacto da obra, em especial a contra-argumentação de que foi alvo, levou o autor a acrescentar, na segunda edição em 1995, uma Resposta aos críticos. O sucesso da publicação – tanto pelas adesões, quanto pelas oposições – justificou a terceira edição, em 1999. Nessa edição, além de uma Introdução à nova edição, Bobbio acrescentou três apêndices. Merece destaque um deles: o artigo de Perry Anderson – uma resenha crítica ao Direita e esquerda – e a carta de Norberto Bobbio em resposta a esse artigo. Chamo a atenção para esse apêndice, porque ele contém, no subtítulo O papel do centro (p. 160 a 163), uma síntese do conteúdo do livro, elogiada pelo autor em sua carta. Anteceder a leitura desse item antes de iniciar a dos capítulos, é uma sugestão…

Penso que esse livro merece ser lido. Num momento em que, o governo do nosso país, é presidido por uma gestão que classificamos “de direita” e considerando que a alternância de posições revela a presença do “jogo democrático”, mais que nunca, precisamos qualificar nossos argumentos para o exercício de oposição. Mesmo admitindo que a defesa da igualdade possa representar um argumento insuficiente na conceituação do que seria a esquerda, não podemos negar sua força. Se conseguirmos avançar na direção da redução das desigualdades, teremos realizado parte significativa do “dever de casa”. Para Bobbio, “o impulso em direção a uma igualdade cada vez maior é […] irresistível.”. Mais ainda, a luta pela igualdade é a “estrela polar” da esquerda!

29 de março de 2019


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