Das (Im)Potências da Educação

O crescente investimento dos grupos antidemocráticos a favor do esvaziamento das possibilidades educativas da escola e, na mesma direção, a favor do controle do professor, propondo o cerceamento da ação docente, nos faz acreditar que esses grupos reconhecem na escola uma grande potência formativa, sendo capaz não apenas de definir identidades sexuais e de gênero das pessoas, mas também por formar sua perspectiva política e ideológica, e muito mais.

Tais grupos, ao mesmo tempo em que defendem o esvaziamento da função formativa e crítica da escola, estabelecem que esse vazio deva ser constituído por perspectivas autoritárias, machistas, racistas e homofóbicas. Mas essa, eles dizem, é a normalidade da boa escola que, infelizmente, nos últimos anos, foi tomada de assalto por esquerdistas, marxistas e comunistas.

Por outro lado, frente à escalada dos grupos autoritários, racistas, machistas e homofóbicos que invadiram o espaço público nos últimos anos, não foram poucas as pessoas que se perguntaram pelos resultados da “educação para a cidadania” estabelecida como política pública de educação, no país, desde os anos de 1980. Se tanto se falou e se fez para tornar a escola democrática e a educação uma arma a favor da cidadania, o que aconteceu que as práticas autoritárias as mais diversas parecem contar com o apoio de gerações de estudantes que foram formados nessa escola?

Um e outro lado parecem, ainda, acreditar demasiadamente na potência da escola. Isso nos faz lembrar a expressão “entusiasmo pela educação” cunhada pelo historiador da educação Jorge Nagle, em seu clássico livro Educação e Sociedade na Primeira República , para nomear e analisar a crença depositada pelos republicanos na educação escolar para superar todos os males herdados do Império e, mesmo, da nascente República. Abrir uma escola era fechar uma cadeia, esvaziar os hospitais, construir a ordem e o progresso. Enfim, a escola seria a responsável pela reforma social!

O problema, como sabemos, é que ao longo do século XX expandimos a escola, mas também a pobreza e a desigualdade, e não fomos muito felizes na construção de uma cultura política efetivamente democrática, de reconhecimento e promoção das diversidades e da igualdade. Isso deveria nos fazer ter consciência das muitas impotências da escola. A escola não pode nada e nem pode tudo. Ela pode! Mas, pode o que e como?

À resposta a essa questão têm se dedicado nossos(as) melhores teóricos(as) e pesquisadores(as). Há muita coisa já produzida sobre isso. Mas os políticos, empresários e muitas professoras e professores, gestores e agentes sociais se recusam a reconhecer tanto as impotências quanto a produção da área. É mais fácil lutar a favor de ilusões ou contra moinhos de vento.

Enquanto isso, aqueles que desde sempre supervalorizam as potências da escola sempre têm uma justificativa fácil para sermos uma das 10 maiores economias do mundo e uma das sociedades mais desiguais do planeta. A culpa é da escola que temos! Antes era a sua ausência; agora é sua qualidade. Enquanto não temos uma escola de qualidade, tudo é permitido, tudo é autorizado; menos a ação “política” dos professores e alunos, pois essa atrapalha a verdadeira aprendizagem, aquela que interessa, a de português e matemática, pois, conforme defende um candidato à prefeitura de uma das maiores cidades do país, uma pessoa não pode sair da escola sem saber “ler e escrever, somar e dividir”.

A escola não pode mais e nem menos. Mas o que a escola pode mesmo?

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