Customização curricular na escola dos jovens? – exclusivo

Roberto Silva

As diretrizes curriculares nacionais para o Ensino Médio, publicadas em janeiro de 2012, apresentam a possibilidade da construção de itinerários formativos opcionais e diversificados. Ao indicar outras formas de oferta e organização desta etapa da Educação Básica, procura, do ponto de vista curricular, “fomentar alternativas de diversificação e flexibilização”. Tais alternativas, sob um princípio democratizador, estimulariam “a construção de itinerários formativos que atendam às características, interesses e necessidades dos estudantes e às demandas do meio social, privilegiando propostas com opções pelos estudantes” (art. 17). Considerando as históricas lutas por escolarização juvenil, engendradas no contexto brasileiro, o pressuposto acima enunciado é bastante representativo.

Entretanto, ao longo deste breve texto, problematizarei os regimes de implementação de determinadas políticas curriculares no País que tendem a  individualizar os processos de seleção dos conhecimentos e/ou disciplinas a serem estudados nas escolas públicas. Em elaborações recentes, nomeei esse processo de “dispositivos de customização curricular”. Sob esse entendimento, em tais políticas os próprios estudantes são responsabilizados por seus percursos formativos, ancorando suas decisões em seus interesses ou mesmo nas oportunidades que a economia do conhecimento venha a lhes possibilitar. Mas,  por que falo em “customização curricular”?

A expressão customização, derivada do inglês customization, tem sido utilizada recorrentemente na Contemporaneidade. Assume sentidos de personalização, de diferenciação ou mesmo de adaptação para usos particulares. Customiza-se de acordo com os gostos e as preferências dos diferentes públicos. Customizam-se roupas, veículos, bolsas, objetos domésticos, ou ainda, como sugeria uma publicação juvenil recente, “customiza-se a si mesmo”. A referida noção, como sinalizei em outro momento, tornou-se um imperativo para quem busca individualizar sua forma de estar no mundo.

Considerando a escola como uma instituição coletiva, destinada a promover aprendizagens comuns, quais consequências poderiam ser derivadas deste dispositivo? Ainda  que seja uma questão controversa – e que exija estudos mais sistematizados – arrisco uma resposta, junto a Bauman e Donskis no diálogo “Cegueira Moral”. De acordo com os pensadores, a preocupação estaria no “perigo de perder nossa capacidade de acompanhar o que está acontecendo no mundo e de nos solidarizarmos com as pessoas que sofrem”. A privatização e a individualização das responsabilidades poderiam ser materializadas na expressão “faça você mesmo”, ou mesmo na própria crise das instituições e das organizações políticas hodiernas.

Em linhas gerais, sinalizo que a construção de uma escola atraente  e inovadora – que promova mudanças significativas no Ensino Médio –  tem sido centrada na individualização dos percursos formativos. Porém, em minha argumentação, procuro apresentar algumas ressalvas, dentre as quais os perigos de uma “indiferença moral”. Na defesa de formas curriculares mais democráticas, o reconhecimento dos dispositivos de customização curricular pode nos provocar a pensar formas de escolarização com maior potencialidade de interlocução; pois, como lembra-nos Bauman, “embora uma atitude consumista possa lubrificar as rodas da economia, ela joga areia nos vagões da moralidade”.

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