Culturas orais, culturas do escrito: Intersecções

Priscilla S. B. Verona

Originado de uma reflexão coletiva realizada pelo Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Cultura Escrita da Faculdade de Educação da UFMG, o livro Culturas orais, culturas do escrito: Intersecções, organizado por Mônica Yumi Jinzenji, Ana Maria de Oliveira Galvão e Juliana Ferreira de Melo, apresenta ao leitor dezoito estudos que visam contribuir para o avanço do conhecimento sobre as múltiplas dimensões do campo da cultura escrita. Lançando luzes sobre novos elementos para a problematização teórica do tema, a obra convida o leitor a mergulhar no universo das intersecções entre culturas orais e culturas do escrito. Pelo prefácio inquietante de Anne-Marie Chartier, por meio do qual somos levados a problematizar a clássica oposição entre cultura escrita e cultura oral, somos também instigados a compreender a obra em sua refinada maneira de refletir o lugar ocupado pelo escrito em outros tempos históricos e espaços. De uma antiga cultura escrita que sempre esteve atravessada pelas marcas da cultura oral, até o poder exercido pelos que detinham a pena, dominando aqueles que tinham apenas a palavra, as reflexões presentes na obra constituem uma teia de significados onde os autores vão nos indicando como as práticas de escrita, de leitura e as trocas orais se encontram, se complementam.

A obra é dividida em quatro partes: instâncias educativas, objetos, sujeitos e as relações que se desdobram entre o escrito e outras linguagens. Para tanto, os autores e autoras buscam mobilizar suas reflexões no sentido de alargar a discussão sobre os modos de participação nas culturas do escrito entre o final do século XIX e início do XXI. Nos capítulos que se seguem são propostas algumas vias de entendimento para investigar a cultura escrita: no primeiro momento buscam ampliar a compreensão do papel que as instâncias educativas, para além da escola e família, têm desempenhado na constituição da cultura escrita. Abordando ainda a Igreja e o teatro como espaços formativos, onde as práticas de leitura e oralidade contribuem para promover o desenvolvimento das habilidades de leitura, somos também levados a refletir sobre a interdependência entre essas instâncias. Visando levar o leitor a compreender o lugar que o escrito ocupava em determinados contextos, os autores trouxeram análises em que objetos que integram a vida material e simbólica dos sujeitos são evidenciados. Entre eles, o livro, a correspondência e também um objeto ainda pouco observado que é o Haiku. Entre um capítulo e outro, à medida que nos entregamos à leitura, é possível assimilar que os lugares simbólicos e materiais que são ocupados pelo escrito no decorrer dos tempos foram e estão sendo construídos historicamente por sujeitos e grupos sociais. São evidenciadas na obra trajetórias de sujeitos e grupos que se relacionam de algum modo com o universo da escrita. E, no sentido de ampliar o olhar que tem conduzido as pesquisas sobre o tema no Brasil, as quais por sua vez tendem a evidenciar em maioria sujeitos que se relacionaram com instâncias legítimas da produção do escrito, a obra movimenta-se para além, tirando o leitor de uma zona de conforto. A série de textos segue ampliando o debate e traz estudos que abordam sujeitos ainda pouco visualizados nas suas relações com o escrito, dentre eles mulheres quilombolas, leitores de fotonovelas bem como sujeitos de meios populares. Ao final as reflexões visam compreender a relação do escrito com outras dimensões da linguagem, não somente com a cultura escrita mas com outros universos, como da cultura digital e da imagem.

A obra se apresenta como referência obrigatória para os estudiosos das culturas do escrito e das culturas orais, e com sagacidade nos instiga a não dicotomizar estes dois universos. Tais dicotomias, muito frequentemente embasadas em compreensões já melhor problematizadas, legitimaram, durante muito tempo, a ideia de superioridade da escrita e das sociedades que fazem uso da escrita. Assim, as reflexões reunidas por Jinzenji, Galvão e Melo (2017) se fazem cruciais para a compreensão de matizes mais complexas que vêm sendo evidenciadas e que são fundamentais para refinar o debate sobre escrita e oralidade.

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