Coisas de doido

Dalvit Greiner

Nas poucas intervenções que fiz, na condição de gerente de educação ou formador, perguntei certa vez numa escola: “Aproximadamente, quantos estudantes desta escola precisam de um psicólogo?” Os professores e as professoras foram rápidos em responder: mais ou menos uns 500. Imagine que mercado de trabalho maravilhoso! Quinhentos adolescentes na fila de seu consultório. Isso representava 75% do total de estudantes da escola e muito dinheiro na conta do psicólogo que fosse atender aquela escola. Rimos bastante e não mandamos o psicólogo para os 500 estudantes.

Aprendi, recentemente, que isso é sintoma. Na verdade, quem precisava, e precisa, de um psicólogo na escola é o professor. Todos? Claro que não, ou claro que sim! Quem precisa de ajuda deve ser ajudado, principalmente aqueles profissionais que lidam com essa impossível arte que é o educar. A meninada da pá virada continua cada vez mais da pá virada. Ou seja, continuam adolescentes mesmo. É claro que nenhum adolescente saudável é louco pelos estudos. Eles têm mais o que fazer com seu celular, seu jogo, sua turma. Então, eles têm que aprender, na marra, que estudar é uma coisa necessária, apesar de chata e difícil. Cabe a nós, professores e professoras, buscar aliviar esse fardo que deve ser imposto pelos adultos que os criam.

Escola, às vezes, parece uma coisa de doido! E quando o professor ou a professora adoece, a primeira reação é perder o controle diante da turma. É claro que precisamos de ajuda. E nossa primeira ajuda deve vir daqueles que nos ajudam a conduzir os estudantes. Porém, mesmo que tenhamos vontade de atear fogo em tudo, não o fazemos porque gostamos muito da nossa profissão, de nossos meninos e nossas meninas, da sua inocência infantil e do seu frescor adolescente.

Por essas e outras é que não entendo porque a Câmara Municipal de Belo Horizonte ainda não rejeitou totalmente os projetos da vereadora Nely Aquino e do vereador Rafael Martins, ambos do Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB). O que querem tais representantes do povo? Querem obrigar “monitores, professores e demais funcionários que tenham contato direto com alunos a realizar exames psicológicos periódicos” (PL 448/2017). Assim, de posse de um atestado de sanidade mental, poderemos continuar a exercer a nossa profissão.

Ambos justificam seus projetos na tragédia que aconteceu no município de Janaúba-MG, em outubro de 2017, na qual morreram 14 pessoas. Imediatamente, nossos egrégios edis perceberam que todo mundo que tem contato direto com alunos são incendiários e assassinos em potencial, necessitando, periodicamente, ter atestada sua sanidade mental. Assim se faz a lei, no calor da hora. O fato não é corriqueiro, um vigia que surta, mas perfeitamente possível. Qualquer um podia tê-lo feito. Até mesmo alguém de fora da escola, que tivesse ido ali visitar alguém. Um vereador ou uma vereadora, por exemplo. Quem surta não avisa o dia e a hora que surtará. A gente não vê.

Os projetos continuam em tramitação e, por isso, cabe um alerta aos nobres vereadores: a escola é um dos lugares mais seguros – senão o mais seguro – para uma criança ou um adolescente neste país. De vez em quando a gente grita, dá um sacode pra não perder o prumo. Mas é lá, na companhia de monitores, professores e demais funcionários, que nossos alunos têm certeza de que serão respeitados em toda a sua integridade, podendo sonhar à vontade com o que quiserem ser na vida. Inclusive vereadores.

Que tal consultar os professores e as professoras antes de pensar a Escola? A gente entende muito dessa Instituição.

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