CEFET-MG: memória de uma jornada escolar

 

Bárbara Braga Penido Lima

O ensino integrado de certa forma determinava quanto tempo eu passaria dentro do CEFET. Ter poderio sobre meus horários me deixava mais confiante quanto à minha postura de aluna. Primeiro, porque eu não assistia aula obrigada. Eu estava ali porque queria. Se eu estivesse cansada demais, podia dormir entre uma aula ou outra, havia o bosque, o gramado do campo de futebol, os bancos do hall do refeitório, o hall de entrada ou o próprio corredor. Todo mundo fazia isso. E muitas vezes estávamos cansados demais para assistir uma aula. Era uma rotina exaustiva. Aula do ensino técnico pela manhã, aula do ensino médio a tarde. Não raro, o período de provas e de apresentação de trabalhos coincidia nos mesmos dias. Era desgastante, enlouquecedor. “Como fazer uma prova de química, apresentar um trabalho de fundamentos de turismo e entregar um trabalho de inglês no mesmo dia? Por que cada professor acha que a matéria dele é a única que nós estudamos?” Essas eram as perguntas mais ouvidas nos corredores. Todos nós reclamávamos e amávamos aquele lugar. Eu reclamava demais, mas estava feliz por estudar ali.

O CEFET/CEFERNO tem um lugar especial no meu coração. Os professores sabiam tornar a matéria mil vezes mais difícil? Sim. Mas, aprendíamos a estudar e a nos ajudar. Perdi a conta de quantas vezes, no corredor, tirava dúvidas com alguém quando se exigia pressa no ensino. Também passávamos horas na biblioteca estudando e procurando exercícios, especialmente de matemática e física. Era comum ver todo mundo com folhas espalhadas pelo hall, corredor, bosque, organizando um trabalho, tentando entender uma equação, pelejando com um raciocínio de física. Ainda que os professores fossem bons, eles sempre partiam do pressuposto que nós também devíamos buscar o aprendizado. Minha formação, nesse sentido, teve um resultado eficiente: eu aprendi a me virar com o conteúdo. Aprendi a correr atrás de qualquer coisa que eu precisasse. O CEFET, com essa metodologia, formava um indivíduo mais autossuficiente e nos proporcionava uma rede de amigos que marcaria nossa memória.

Por três anos, convivi com as mesmas pessoas na mesma sala, por quase dez horas diárias. Viajamos juntos, partilhamos vitórias, recuperações, preocupações, noites mal dormidas, medos, sonhos, segredos, correrias e muito estudo. Formamos um laço. Para além da nossa residência, redefiníamos a ideia de família. Éramos, e ainda somos, muito apegados uns aos outros. Eu torci pelos meus amigos, assim como eles comemoraram minhas vitórias. A maior delas foi passar na recuperação medonha do “Antônio Aluísio”, que lecionava matemática. Todo mundo se ajudava um pouco. Todo mundo se divertia muito. A convivência era tanta que aprendemos a conhecer os hábitos e maneiras de cada um. Eu, por exemplo, saía de sala para dormir. Todos da minha sala sabiam disso.

E todos nós gostávamos de participar das atividades culturais promovidas pelo Grêmio, pelo próprio CEFET e da Festa Julina, na qual, por dois anos, eu trabalhei. No CEFET participei de feira de ciências e tecnologia, a famosa C&T. Era interessante ver o trabalho que os alunos produziam junto aos professores. A feira mais marcante foi a que ocorreu junto ao encontro do Mercosul sobre ciência e tecnologia. Praticamente não havia aulas nesse período e muita gente se habituou a falar o espanhol ou o portunhol por uma semana. Os trabalhos concorriam entre si, não era apenas uma apresentação. Tinha premiações. Havia uma certa apreensão para ver qual equipe seria vencedora, qual projeto seria o melhor. Era uma competição para todos, até para os alunos que fossem assistir. Pois, o que estava em jogo era também a fama do curso técnico de cada um. Apesar de nem todos os professores fazerem esse tipo de distinção, alguns fomentavam a disputa entre alunos com relação aos cursos técnicos. E concorriam sempre no quesito da dificuldade. Todos queriam mostrar que faziam o curso mais difícil. Como meu curso era de humanas, obviamente havia um certo preconceito sobre ele numa escola voltada para o campo das ciências exatas. Eu nunca me importei com esse tipo de coisa.

O que importava era ser aluno do CEFET, ter acesso ao ensino ofertado ali, participar de todas as atividades que o local promovia. Assisti a shows, competições de dança e de atletismo, concurso de redação e poesia. Participei de semanas culturais, com palestras sobre história e política do Brasil. Eu não estive condicionada ao modelo sala-quadro-professor. Minha formação foi mais ampla, rodeada de amigos. Nesses três anos que estudei ali, aprendi a amar o lugar como se fosse minha segunda casa. Foi lá dentro que decidi me tornar historiadora. Quando prestei vestibular, passei facilmente na UFMG – eu devia isso aos anos de CEFET. Quando decidi fazer pesquisa de iniciação científica, optei por retornar ao CEFET. Escolhi o mesmo quando fui fazer mestrado. Estudei no CEFET em dois períodos diferentes da minha vida: ensino médio e, muitos anos depois, o mestrado. Ninguém falou comigo da lição mais importante que o CEFET nos deixa: a de que podemos nos tornar aquilo que quisermos se soubermos lutar e que nunca lutamos sozinhos, sempre temos bons amigos para nos ajudar numa jornada.


Imagem de destaque: CEFET Campus 2. Foto: Luis Alceu

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