Bang-Bang: vamos matar crianças?

Marcelo Silva de Souza Ribeiro

 

É claro que existe uma diferença entre o que é dito e o que se faz, entre o discurso e a ação. Contudo, palavra e gesto não estão dissociados e os processos educativos evidenciam isso quando, por meio da palavra, informamos, sugerimos, indicamos e transmitimos. E de modo semelhante, por meio do gesto, damos modelos, possibilitamos imitações e enriquecemos os caminhos a serem seguidos. Gestos e palavras se intercambiam e tem gêneses integradas – isto é que nos ensina, por exemplo, a psicologia do desenvolvimento.

Palavra e gesto são, portanto, interdependentes, sobretudo quando pensamos o processo educativo envolvendo pais e crianças. Assim, a cena exibida e replicada para todo o país, do presidenciável Bolsonaro, carregando uma criança e fazendo o gesto de apontar e atirar uma arma de fogo, tem um forte impacto no cotidiano de uma nação, mas principalmente na orientação educativa e relacional que enseja.

Bolsonaro, como um líder político de um país inspira pessoas, serve como horizonte e elege símbolos que norteiam as vidas dos brasileiros. Um gesto assim de atirar e uma palavra assim de bang-bang não pode ser percebido como algo inocente, incólume. As repercussões podem ser desastrosas no modo como a sociedade apreende e reelabora valores e esses, por suas vezes, são articulados aos processos educativos, que são decisivos para o desenvolvimento das crianças.

A cena ainda pouco retratada está muito longe das brincadeiras vividas pelas crianças de atirar, de matar, de guerrear, de lutar… A depender do contexto de desenvolvimento das crianças, tais brincadeiras até ajudam as crianças a elaborarem e a lidarem com sentimentos de raiva e ou frustrações, por exemplo. A cena em questão é da dimensão do valor e indica, inclusive, como solução para algumas mazelas do país, a ideia de que a violência deve ser combatida com violência. Uma coisa é a austeridade em relação aos crimes, corrupções… outra coisa é acreditar que a violência vai combater a violência. Bang-Bang!

O Bang-Bang, portanto, seria a metáfora da violência como forma de lidar com a própria violência. Porém, essa metáfora extrapola o combate à violência (violência no sentido convencional que se refere aos crimes, assaltos, furtos, latrocínios, etc) e vai para o campo mesmo das relações interpessoais. O Bang-Bang seria um modo de lidar também com os conflitos e com o que envolve as diferenças.

O farol reforçado por Bolsonaro orienta o Bang-Bang, no campo social, como meio para lidar com os conflitos e as diferenças, daí a intolerância sendo uma espécie de anti valor a ser cultivado. As portas estão abertas para intensificação da banalização quanto ao machismo, ao racismo e a homofobia, problemas já crônicos no Brasil.

Uma sociedade do Bang-Bang regride o processo civilizatório e deixa mais vulnerável certos grupos sociais, como as crianças. Será que veremos mais crianças morrerem? Vamos matar crianças? Bang-Bang!!!

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