Aqueles cinco por cento

Dalvit Greiner

Sempre ouvi que cinco por cento das pessoas tem uma dificuldade insuperável de aprendizagem escolar. Para mim é um mito, como aquele de que não usamos nem dez por cento de nossa cabeça animal. Gosto de estatísticas no seu devido lugar e quanto maior o número de estudantes mais apelamos para estatísticas generalizantes para falar de indivíduos. Tudo bem que o retrato feito pela estatística é útil, mas a ação para reverter qualquer gráfico deve ser feito no indivíduo. Aquilo que Bauman chama de reforçar o pilar mais fraco da ponte, e não o contrário, para passarmos com nosso caminhão.

Numa pesquisa rasteira pela internet deparei-me apenas com um artigo, porém significativo, pois esta lá no sítio do Ministério da Educação. O que significa a conferência de uma certa autoridade ao pesquisador e ao assunto, quando afirma que “que as dificuldades de aprendizagem, que provocam frustração em pais, professores e principalmente estudantes, atingem cerca de 5% da população escolar atual”. Isso era em 2014, mas, creio que ainda se mantém. E, segundo a autora, a questão deixa de ser exclusivamente do professor e passa para a psicopedagoga.

Daqui entendo porque temos tantos cursos de especialização em Psicopedagogia espalhados por esse país continente, criados de forma incontinente até mesmo à distância. Pela quantidade anunciada já devíamos ter resolvido essa questão em nossas escolas. Apesar de não se recomendar um psicopedagogo para cada caso, conforme alerta a conselheira vitalícia da Associação Brasileira de Psicopedagogia – ABPp, professora Luciana Barros de Almeida, deparei-me com uma escola municipal em Belo Horizonte em que metade do seu quadro matutino era de psicopedagogos e psicopedagogas. Nunca entendi porque aquela escola tinha tantos problemas de aprendizagem no primeiro ciclo que eram automaticamente transferidos para o segundo ciclo. Ou seja, a quantidade de profissionais não resolvia a questão: faltava planejamento, para ficarmos apenas na crítica ao sistema.

Dessa forma, constatado o problema de que cinco por cento da população escolar não aprende percebo que nossos sistemas educacionais também não se preocupam com a outra parte da constatação: o que fazer com esse pilar tão fraco. Professores de terceiro ciclo, como eu, deparam-se todos os anos com estudantes desmotivados porque não compreendem o que se lê nos livros didáticos nem o que se diz nas aulas, por mais simplificados que os tornemos. E, o que é pior, misturados com outros estudantes que já adquiriram as habilidades mínimas de leitura e escrita. Isso dificulta nosso trabalho na medida em que não há tempo para nos dedicarmos a esses estudantes. Em geral, também não temos as habilidades necessárias para colaborar com o crescimento desse estudante. Não somos alfabetizadores. Pessoalmente arrisco-me a fazê-lo porque também atuo na alfabetização de adultos. Mas, as diferenças de condições e situações de aprendizagem são gritantes, bem o sabemos.

Passada toda uma vida escolar, após nove anos no sistema educacional, esse estudante é expulso do sistema com uma certificação que confirma a sua conclusão no ensino fundamental. Ele não pode mais voltar à escola, mesmo que sinta necessidade ou desejo. O certificado é um atestado que afirma que algo foi feito naquele individuo, mas não diz o quê foi feito. Enquanto isso, as estatísticas geradas por nossas avaliações sistêmicas apontam o baixo grau de proficiência que nossos governos fazem questão de ignorar. Ler esse detalhe da estatística é apenas para os chatos. Agir sobre esse detalhe da estatística significa investir na formação de professores, no planejamento coletivo, no atendimento a esse estudante: significa um custo que o poder público não quer fazer.

E assim nosso estudante vai para o ensino médio. Aquela etapa em que chamamos de instrução e especialização e não mais de educação, apesar de ser parte da educação básica. Porém é o momento da escolha e a instrução torna-se um valor maior que a educação. O processo educativo está pronto? Claro que não. Ele é contínuo, mas o estudante, já quase um adulto e já quase totalmente inserido no espaço público já está também quase pronto. Já é capaz de escolhas. E ai… Que opção tem nossos estudantes que não adquiriram aquelas competências mínimas básicas do ler, escrever e contar?

Vejo dois caminhos que passam pelo abandono. Primeiro: as dificuldades de aprendizagem não minimizadas no tempo certo, somadas às dificuldades sócio-econômicas, farão o estudante abandonar o ensino médio já no primeiro ano. Esse número chega hoje a 12,7%. Em geral, não retornam. Quando retornam é porque outro mais novo desistiu. Os que tem dificuldade de aprendizagem não retornam. Segundo: abandonados em sua vida escolar os governos não reconhecem que a dificuldade de aprendizagem é uma medida acadêmica que não demonstra falta de inteligência deste estudante. Assim, nossos governos não oferecem nenhuma outra possibilidade de aprendizagem profissional que não seja a escola. Definitivamente, esse estudante foi abandonado.

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