A universidade e a cidade: questões, tensões, perspectivas​

As efemérides nos ajudam a lembrar a importância da memória e das comemorações na constituição da vida social. Somos o que somos pelo que nos lembramos, ou esquecemos, do que fomos! Isso vale também, até certo ponto, para as instituições. Por isso, nesse momento em que nos preparamos para comemorar os 120 anos da fundação da cidade de Belo Horizonte e os 90 ano da UFMG, é possível e preciso discutir a relação entre a universidade e a cidade.

Há, no mundo ocidental, uma clara articulação entre a constituição do mundo urbano e a organização de instituições e modos de produzir e organizar os conhecimentos próprios da efervescência cultural, política e intelectual da cidade. É o ambiente citadino que, de forma muito especial, põe em evidência questões e tensões novas que ensejam respostas inéditas e inovadoras.

Não é por acaso, então, que a organização das primeiras universidades seja contemporânea da lenta, mas contínua, urbanização da vida europeia a partir do século IX e X. De lá para cá, pelos mais diversos percursos, cada vez mais as cidades foram se constituindo nos polos mais dinâmicos da vida social e a universidade, como instituição responsável pela formação em mais alto nível e pela elaboração das questões mais candentes de sua época, passaram a compor a paisagem urbana.

Como sabemos, centros de saber e poder, as universidades nem sempre tiveram relações amistosas com as outras instituições e poderes constituídos. Não raramente, o mundo e o fazer universitários entraram em choque com as Igrejas, os Príncipes e, mesmo, na modernidade, com o Estado Nacional, que viam em sua autonomia e independência uma ameaça. Outras vezes foram essas mesmas instituições que criaram e apoiaram as universidades como forma de melhorar e intensificar sua atuação sobre as populações e a realidade social como um todo.

Para nós, hoje, esse tema é de grande importância. Qual o lugar e a importância das universidades num mundo cada vez mais globalizada, mas que também, e paradoxalmente, exprime e reinventa continuamente formas de ser-estar no mundo que são devedoras de tradições locais e específicas? Qual o papel das universidades num mundo cada vez mais urbanizado e, paradoxalmente, que a cada dia atualiza formas antigas de cerceamento da ação dos sujeitos no espaço público?

Qual o lugar e o papel da universidade em um mundo que funciona urbanamente 24 horas por dia e no qual o conhecimento e a formação são continuamente capturados pela lógica do mercado e do capital e, ao mesmo tempo, continuam sendo formas potentes de inventar e projetar utopias mais igualitárias e libertárias? Quais as formas e a partir de que lógicas podemos pensar de forma bela e justa a relação entre as nossas universidades e as cidades que as acolhem?

Será que as universidades podem contribuir para a superação de visões binárias de mundo – inclusão x exclusão; dentro x fora; conhecimento x desconhecimento; ciência x obscurantismo; inovação x tradição… – que ainda marcam a vida e as representações dos sujeitos da cidade? De outro lado, é possível pensar uma universidade que incorpore explícita e objetivamente as tensões, demandas e criações advindas dos mais diversos movimentos que se expressam na cena da cidade? Ou, ainda, é possível pensarmos que, nestes casos, não existe um lado (o da universidade) e o outro lado (o da cidade), mas que esses lados se (con)fundem na dinâmica da história?

Se comemorar é um ato de memória no coletivo, esperamos que em 2017 uma das mais importantes cidades do país – Belo Horizonte – e uma das mais importantes universidades brasileiras – a UFMG – encontrem formas institucionais, políticas, culturais, intelectuais e outras para celebrarem os intensos e diversificados vínculos que as unem e fazem com que suas histórias e suas memórias se confundam. Oxalá consigamos avançar nessa direção!

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