A TFP tomou o poder no Brasil

Dalvit Greiner de Paula

Já faz algum tempo que a Tradição, Família e Propriedade – TFP não vem aparecendo como esse nome na cena pública brasileira. Não que ande meio caída pelas tabelas. Pelo contrário, anda espalhando ideias por todos os lados do país e domingo (17/04/2016), em dia de votação da admissibilidade do impeachment da presidente Dilma Roussef, as suas ideias apareceram com força. A TFP venceu!

A TFP é o melhor símbolo do conservadorismo político em qualquer tempo e lugar. Surgiu nos anos 1960 e vem se mantendo com bom número de associados. Está presente emmais de 30 países, todos do ocidente. Veja lá nosítio. Domingo, os deputados federais fizeram da votação o palanque eleitoral do conservadorismo em todos os sentidos e explicitaram, em público, toda a pauta pela qual os movimentos sociais vêm lutando contra. Foi uma aula de clareza política.

Mas, voltemos à TFP. Como o nome diz, a TFP defende a Tradição (assim mesmo, com letras maiúsculas), mas uma tradição que se atualiza, na medida em que “o verdadeiro progresso não é destruir, mas somar; não é romper, mas continuar para o alto”. E era a favor dessa tradição, dessa concepção de tradição que nossos deputados votavam domingo.

O Brasil vinha bem até FHC. Afirmavam que aquilo era a verdadeira social-democracia, a união do capital representado pelo então PFL (atual DEM) com o trabalho (será?) representado pela centroesquerda PSDB (será?). E a tradição vinha se mantendo, até que os governos do PT (que tentou reproduzir o modelo) resolveram mudar os rumos inovando e mantendo algumas conquistas sociais. Então aviltou-se a tradição. Não houve, na visão conservadora, nem soma nem continuidade para o alto. Não houve progresso. Houve sim, destruição e rompimento do modelo tradicional pelo qual as elites no Brasil se mantem no poder. É preciso retornar. Quer algo mais tradicional do que a bandeira, o hino, a Renovação Carismática, alguns evangélicos, o povo (qual povo foi invocado?), Deus? Tudo e todos invocados para manter a tradição.

Mas, quer maior prova de tradição do que a Família, o outro tripé da TFP? Como a família foi invocada, homenageada, beijada, ovacionada. Mas, qual modelo de família? Aquela que “gera necessariamente a tradição e a hierarquia social”, ou seja: Jesus, Maria e José, a Sagrada Família. Esse é o modelo: pai, mãe, filhos. Então, um beijo para a esposa, o netinho que vai nascer, a filha que carregará os meus valores e os transferirá para os meus netos, um beijo para o meu pai e minha mãe. Nenhum deputado que votou pelo “Sim” homenageou – claro, nem sequer homenagearia – as milhares de famílias monoparentais, cujas mulheres lutam cotidianamente para manter seus filhos. Sem contar os outros modelos familiares que lutam para serem reconhecidas pelo Estado e pela Sociedade. Um dos deputados chegou a gritar que “esse Governo destruiu a família”. Como? Apoiando os outros modelos de família que tem tantos ou mais direitos quanto o modelo conservador?

E, por fim, “pela minha Chapecó”; “pelos transportadores”, “pelo agronegócio” lá de Minas, Goiás e Mato Grosso, do Paraná e do Pará, pois “o fundamento da propriedade está na própria natureza do ser humano”, segundo a TFP. Então a defesa da propriedade significa desfazer o Estatuto do Desarmamento, como apregoou um deputado, para que assim, na medida em que o Estado não tira o sem-terra, o proprietário atira, pois tem todos os recursos e a legalidade necessários para fazê-lo.

Nosso Congresso conservador deve muito à TFP. Como o deputado integralista Plínio Correia de Oliveira, eles nunca dariam um sim para educação, saúde, reforma agrária, moradia popular, universidade para todos. Enquanto na Praça da Estação, em Belo Horizonte, cantávamos “Vai passar”, de Chico Buarque, nossa Câmara dos Deputados ensaiava o seu samba-enredo. Busquem a música na rede.

Eis a letra para cantar juntos:

Samba Enredo da TRP

Língua de Trapo

TRP pede passagem, pra mostrar sua bateria

E seu passado de coragem, defendendo a Monarquia

Salve Pinus Zorreira Zorrileira, precursor da linha-dura

Grande baluarte da ditadura

Legislador da Inquisição, implacável justiceiro

Homem de grande erudição, lia Mein Kampf no banheiro

No tribunal de Nuremberg, defendeu o Mussolini

Sob os auspícios do Lindenberg

E hoje ele se preocupa com a infiltração comunista

No clero progressista (e o Lefebvre)

Lefebvre, fiel companheiro incomparável amigo,

Irrepreensível mentor

Exerce completo fascínio e vai incutindo em Plinus

O gênio conservador

Digno de um poema do Ezra Pound, quer que o

Brasil se transforme num imenso Play Ground

No carnaval a escola comemora nascimento de Nossa Senhora

E a defesa da tradição, cantando esse refrão:

Anauê, Anauê, Anauá, TRP acabou de chegar (repete)

E hoje sou fascista na avenida, minha escola é a mais querida

Dos reaça nacional (repete)

Plim, plim, plim, plim, plim, plim, plim, plim, plim,

Era assim que a vovó seu Plinus chamava

Disponivel em: https://www.letras.mus.br/lingua-de-trapo/524368/

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