A pluralidade de um movimento

No eixo do universo feminino

Ivane Laurete Perotti

 “A vida é como um sonho; é o acordar que nos mata.”

Virginia Woolf

 

Passa-me o sabão!

Instada acerca da natureza interlocutiva e crendo que, com gestos respondesse, forçou a toalha a desfiar-se sobre a louça branca. Pouco mais de uma pia adornava o cenário burlesco. O centro fora de foco permanecia na linha da construção dúbia. Ela não sabia, mas responder à ignorância era o mesmo que acertar o alvo com a própria pele esticada na ponta da lança tardia.

Não sabia!

Em pé diante da montanha nodosa que se eriçava dentro dela, calçou os olhos no único caminho aberto pelos círculos da conversa sem extensão, à sombra de uma tingida e doce cumplicidade: ela com ela mesma.

Não era novo o reflexo no espelho: desdenhava-se singularmente o tempo do reconhecimento e quem chefiava a incursão mergulhava no que sobrara do lago de Monet. Cores? Sim! Sempre! Como aquarelas em pó sopradas contra o vento morno dançando nas cerdas de um pincel indômito e invisível. Ela! Ela de novo! Aquela mulher que espreitava por entre os cílios da alma nua: almas femininas dormem com os olhos esgazeados em regaços cobertos de rendas.

Ah! Decanas prosas desnutridas borbulhavam possibilidades na conversa interrompida. Esfaceladas em colóquios, as frases emocionais emendavam-se fora da cadência sintática: o desencanto pela interrupção forçava as janelas dos ouvidos a trancarem-se por dentro e por fora. Martelos morfológicos batiam em retirada: olhar sem eco. Ele não percebia? Baixa conversa de porta de banheiro em noite sem lua. Outra mulher nua!

Passa-me o sabão!

Ele não ouvia! E na falta do verbo fecundo, a mulher das pernas de fora, do peito marcado, do rosto comprido enjaulava a hóspede tresloucada em gavetas de pomposa educação: sai da casca! Sai da casca! Se se fizesse ouvir, a outra, insana e criativa, daria conta de baixar um exército. Sim, infértil ideia de usar saias! Sem baionetas a postos, a guerra dos sexos marcava vitórias sem comemoração.

Pudica e bela escondeu-se nos fiapos da toalha e cedeu a voz para mais uma corte de apelação:

Passa-me o sabão!

E com a fatalidade das crenças impúberes, ela explicou ao companheiro que tão somente alcançasse a barra de saponáceo posta do outro lado do balcão. Ele acreditou e assim o fez.

Sobre a louça branca ficaram os restos de uma conversa jamais introduzida.

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