A gente não quer só estudar

Dalvit Greiner de Paula

Morrer no tempo certo significa aproveitar a vida ao máximo, em intensidade e longevidade. Ficar doente, seja em qualquer idade, não é bom. Ninguém, em sã consciência, quer adoecer. A gente adoece por infortúnio, por descuido, por negligência e irresponsabilidade. O problema maior é quando nenhuma dessas condições são por sua culpa, conta e risco. A tentativa de empurrar a meninada – os jovens e adultos também – para a escola é resultante da irresponsabilidade de adultos que não tem pensado em outra coisa senão se ver livre dos cuidados com a crianças.

Estamos num momento de infortúnio que dito em outra palavra é azar. Nascemos e vivemos para ver uma pandemia. A última foi a Gripe Espanhola – que surgiu nos Estados Unidos – há um século e ganhou esse nome porque afetou sobremaneira a Espanha. Gerações e gerações padecendo de outras doenças provocadas por outros vírus. Porém, nenhuma dessas doenças do século XX haviam se tornado uma pandemia, atingindo o mundo dos humanos com tamanha virulência e letalidade. Estamos falando de mais de um milhão de mortos e trinta milhões de contágios. É um infortúnio que deveria ser tratado com o máximo de perícia, diálogo e compreensão da parte de todos para que pudéssemos minimizar os números de mortes e contágios. Não o fizemos, principalmente os governos! Não ficamos em casa e os governos não nos deram condições para tal.

E não nos deram condições por negligência e irresponsabilidade. No caso do Brasil, a negligência se inicia com o desmantelamento do principal sistema de saúde – eu diria do mundo! – por dois governos que se dizem neoliberais, ou seja, estritamente econômicos, na medida em que acreditam que “o mercado” – esse deus que domina o Leviatã – tem uma mão invisível que regula todos os interesses. Evidente que não, pois o deus mercado é alimentado com riqueza, muita riqueza, e os pobres vivem de outros recursos políticos que não aqueles comprados com a riqueza. Riqueza, aliás isso tem que ser dito sempre, somente os pobres produzem e são espoliados dela. Brandindo os chicotes da modernização, do crescimento, do livre mercado, os governos negligenciam cotidianamente os cuidados com todos, pois até mesmo aquela classe média – que se deixa corromper pela elite econômica – demanda o SUS na hora extrema.

E, por fim, tentam agora o máximo de irresponsabilidade, de falta de carinho e cuidado com essa geração ao tentar matar os mais novos. A expressão é forte, mas é isso mesmo. A Escola é um lugar de vida, muita vida no presente e no futuro. Porém, contraditoriamente, a Escola hoje é um lugar de morte. Morte pelo abraço, pelo contato, pela aproximação, pois é o único lugar do mundo onde as pessoas se sentem realmente livres. E, pessoas livres não querem a solidão dos lares (infelizmente), mas a solidariedade do ouvido, do abraço, do conforto. A Escola é um lugar em que, espontaneamente, nós vamos de encontro ao outro e aí como impedir que as pessoas se encontrem? E, infelizmente, esse encontro pode ser letal…

Então, imaginemos o que fazer num momento como esse para combater a irresponsabilidade de governos, de pais e também de candidatos, pois estamos em plena campanha eleitoral. Não obedecer, exercer nossa cidadania com uma nova forma de aprendizagem e votar em quem tem a vida como prioridade

Não obedecer significa dizer a todos os governantes – e seus candidatos de discurso pronto – que não! O Brasil e o mundo não estão em condições de voltar para a Escola, apesar de querer muito. E você pode dizer não de várias maneiras: existem mil e uma maneiras de dizer não. Mas, principalmente, deixar bem claro para pais irresponsáveis, diretores irresponsáveis de escolas privadas ou não e governantes irresponsáveis que o principal gesto de responsabilidade agora é manter as crianças dentro de casa, acolhê-las no melhor lugar que têm para ser acolhido, depois da Escola. E dar todas as condições para que isso aconteça. Mas, vai perder o ano letivo! Que bom que não vai perder a vida, não é mesmo?

Então, chegamos ao nosso segundo ponto: pais e mães devem ser ajudados pela Escola. Se, com a Escola presencial, não conseguimos promover um ensino e uma educação integral, creio que é chegado o momento de tentarmos instrumentalizar os pais para que cuidem desse aspecto da família: o lugar de desenvolver habilidades que a Escola não promove pois há um currículo oficial progressivo e retilíneo imenso. Nesse ponto, creio que não estamos indo bem. Temos mandado atividades e exercícios para a criançada. É correto mandar. O que tenho insistido é que a atividade escolar pode e deve envolver os pais. Um exemplo: peguemos uma criança de primeiro ciclo – ou menos – que precisa aprender lateralidade (e isso é importante para a escrita). Proponnha aos pais – ou a quem cuida da criança – brincadeiras para essa habilidade. Um pré-adolescente de terceiro ciclo que não desenvolveu bom raciocínio lógico: proponha jogos aos pais.

Isso tudo põe a vida coletiva como prioridade para a família. E, nesse momento, essa deve ser a nossa prioridade como educadores. Não temos mais crianças para educar, mas famílias inteiras. Assim, quem tem a vida como prioridade sabe que a maneira de chegar até as famílias é diversa. Podemos chegar via internet? Sim. Para aqueles mais afortunados que possuem equipamentos. Quem não tem equipamento, o governo tem condições de dar; basta querer. Podemos chegar via televisão ou rádio? Sim. Os governos deveriam ter exigido dessa concessão pública horários inteiros – manhã, tarde e noite – para ajudar nesse processo educacional. Os materiais instrucionais podem chegar via Correio, com o máximo de asseio e cuidado que também poderiam ser veiculados pelo rádio ou pela televisão.

Assim, não podemos nem devemos voltar à Escola hoje. Devemos sim, lutar para continuar com nossos filhos e filhas em casa, com o maior carinho e cuidado. Para o próximo ano, devemos votar naqueles que priorizam a vida e buscam soluções nos governos municipais de forma responsável e inteligente. A gente não quer só estudar. A gente quer ficar vivo! Esse é o nosso aprendizado cotidiano, com ou sem pandemia.


Imagem de destaque: Marcelo Camargo/Agência Brasil

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