A divulgação científica e o futuro das universidades

Editorial do número 341  Jornal Pensar Educação em Pauta 

A despeito dos negacionistas dos mais diversos matizes, passou a ser imperativo  que a vida dos seres humanos e não-humanos que habitam o planeta seja, em boa parte, governada por conhecimentos e instrumentos originados de pesquisas científicas. A despeito de nosso conhecimento ou consciência do tema, as ciências estão no centro de experiências e controvérsias sobre a vida, e a sobre a morte, na contemporaneidade.

No caso do Brasil, os sucessivos levantamentos demonstram que a quase totalidade da pesquisa científica, em todas as áreas dos conhecimentos, é realizada pelas universidades, centros e institutos públicos. São estas instituições as responsáveis pela produção da ciência que impacta amplos setores da vida nacional, das políticas públicas à produção de mercadorias e serviços os mais diversos.

Esta centralidade, no entanto, contrasta com a percepção da população sobre a ciências e sobre as universidades públicas. De um modo geral, há um amplo desconhecimento sobre tais instituições e sobre sua importância científica.  A despeito da produção científica e, mesmo, da ampliação das matrículas e da capilaridade das instituições públicas de pesquisa, ensino e extensão, a população continua a desconhecer o que se faz nas universidades públicas.  Em qualquer época e lugar essa situação seria de grande gravidade. Mas, hoje, momento em que as universidades e a própria ciência vivem sob fogo intenso dos negacionistas e/ou oportunistas que ocupam os mais altos cargos da República, ele ganha ares de grande dramaticidade.

Como mobilizar  a população e, mesmo, a classe política para a defesa das universidades públicas se estas as desconhecem quase que completamente? Como angariar apoio público para o financiamento da pesquisa se a população não sabem para que e para quem vão tais recursos?

É certo que tai problema não surgiu nos últimos anos. Essa foi a percepção, por exemplo,  de um estudo realizado em 2015:  ele mostrava que apenas 13 de cada 100 pessoas souberam dizer o nome de uma instituição científica. E as mais conhecidas não eram as universidades! (https://cartacampinas.com.br/2019/04/populacao-nao-sabe-que-as-universidades-publicas-sao-as-fabricas-de-ciencia-e-tecnologia-do-brasil/). O Problema é de larga duração e remete aos momentos fundadores da própria nacionalidade brasileira e às formas de produção e reprodução de nossas desigualdades as mais diversas. Da concentração territorial das mesmas ao baixíssimo número de pessoas que as frequentam, já que o Brasil tem um dos percentuais de matrícula de jovens no ensino superior público no mundo, muitos são os motivos pelos quais a população desconheçam as instituições científicas brasileiras.

Parece-nos, no entanto, que nossas dificuldades e desigualdades histórias e estruturais não eximem de responsabilidades neste estado de coisa. Uma delas, certamente, é o descaso com que a maioria destas instituições tratam a comunicação com a população. De um modo geral, todo o esforço é voltado para a comunicação acadêmica com os pares, relegando aos “militantes” da divulgação científica a responsabilidade de comunicar com os interlocutores não especializados.

O fato de as instituições universitárias não serem conhecidas deveria chamar a atenção de seus dirigentes e pesquisadores(as) para a importância de ocuparem o espaço público  e as mobilizar para profissionalizar e estruturar a comunicação pública das ciências e ampliar a interlocução com a população. E isso não apenas para criar mecanismos de autodefesa, mas, sobretudo, para ampliar o poder da própria população no controle das ciências e das instituições científicas públicas. Da resposta das instituições públicas a esse desafio está a depender o seus futuros e suas contribuições para a construção de uma sociedade mais igualitária e democrática no Brasil.

Nota: na versão anterior informamos erroneamente que o estudo acima referido era recente. No entanto, ele é de 2015. Por isso, pedimos desculpas.


Imagem de destaque: Arquivo PEPB – Pesquisadores da UFMG apresentaram suas pesquisas na praça Afonso Arinos no centro de Belo Horizonte.

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A divulgação científica e o futuro das universidades

A despeito dos negacionistas dos mais diversos matizes, passou a ser imperativo  que a vida dos seres humanos e não-humanos que habitam o planeta seja, em boa parte, governada por conhecimentos e instrumentos originados de pesquisas científicas. A despeito de nosso conhecimento ou consciência do tema, as ciências estão no centro de experiências e controvérsias sobre a vida, e a sobre a morte, na contemporaneidade. 

No caso do Brasil, os sucessivos levantamentos demonstram que a quase totalidade da pesquisa científica, em todas as áreas dos conhecimentos, é realizada pelas universidades, centros e institutos públicos. São estas instituições as responsáveis pela produção da ciência que impacta amplos setores da vida nacional, das políticas públicas à produção de mercadorias e serviços os mais diversos.

Esta centralidade, no entanto, contrasta com a percepção da população sobre a ciências e sobre as universidades públicas. De um modo geral, há um amplo desconhecimento sobre tais instituições e sobre sua importância científica.  A despeito da produção científica e, mesmo, da ampliação das matrículas e da capilaridade das instituições públicas de pesquisa, ensino e extensão, a população continua a desconhecer o que se faz nas universidades públicas.  Em qualquer época e lugar essa situação seria de grande gravidade. Mas, hoje, momento em que as universidades e a própria ciência vivem sob fogo intenso dos negacionistas e/ou oportunistas que ocupam os mais altos cargos da República, ele ganha ares de grande dramaticidade.

Como mobilizar  a população e, mesmo, a classe política para a defesa das universidades públicas se estas as desconhecem quase que completamente? Como angariar apoio público para o financiamento da pesquisa se a população não sabe para quê e para quem vão tais recursos?

É certo que tai problema não surgiu nos últimos anos. Essa foi a percepção, por exemplo,  de um estudo realizado em 2015:  ele mostrava que apenas 13 de cada 100 pessoas souberam dizer o nome de uma instituição científica. E as mais conhecidas não eram as universidades! O Problema é de longa duração e remete aos momentos fundadores da própria nacionalidade brasileira e às formas de produção e reprodução de nossas desigualdades, as mais diversas. Da concentração territorial das mesmas ao baixíssimo número de pessoas que as frequentam, já que o Brasil tem um dos percentuais de matrícula de jovens no ensino superior público no mundo, muitos são os motivos pelos quais a população desconheçam as instituições científicas brasileiras.

Parece-nos, no entanto, que nossas dificuldades e desigualdades históricas e estruturais não eximem de responsabilidades neste estado de coisas. Uma delas, certamente, é o descaso com que a maioria destas instituições tratam a comunicação com a população. De um modo geral, todo o esforço é voltado para a comunicação acadêmica com os pares, relegando aos “militantes” da divulgação científica a responsabilidade de comunicar com os interlocutores não especializados.

O fato de que as instituições universitárias não sejam conhecidas deveria chamar a atenção de seus dirigentes e pesquisadores(as) para a importância de ocuparem o espaço público  e as mobilizar para profissionalizar e estruturar a comunicação pública das ciências e ampliar a interlocução com a população. E isso não apenas para criar mecanismos de autodefesa, mas, sobretudo, para ampliar o poder da própria população no controle das ciências e das instituições científicas públicas. Da resposta das instituições públicas a esse desafio está a depender o seus futuros e suas contribuições para a construção de uma sociedade mais igualitária e democrática no Brasil.

 

Nota: na versão anterior informamos erroneamente que o estudo acima referido era recente. No entanto, ele é de 2015. Por isso, pedimos desculpas.


Imagem de destaque: Arquivo PEPB – Pesquisadores da UFMG apresentaram suas pesquisas na praça Afonso Arinos no centro de Belo Horizonte.

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