A desvalorização do trabalho intelectual – hipocrisia! – exclusivo

Tiago Tristão Artero

Quando escolas, universidades e locais de convivência social valorizarem o trabalho intelectual como sendo “trabalho duro”, teremos um ganho cultural (necessário) e um desenvolvimento social (urgente). A hipocrisia está em acharmos que ‘trabalhar duro é suar a camisa’, ‘estudar e contribuir para melhorar a humanidade não é trabalho’.

Desde os primórdios da humanidade, seja pelo senso comum (ensino informal), seja pelo conhecimento erudito (geralmente desenvolvido via ensino formal), o aprendizado e o trabalho intelectual fazem parte da sobrevivência do ser humano.

Certamente, muitos saberes estão vinculados a práticas manuais, como a carpintaria, a execução da engenharia e da arquitetura, gastronomia e uso de ervas para curar doenças. No entanto, boa parte dos saberes, muito antes de Sócrates e Platão, são disseminados oralmente e, posteriormente, via registro escrito.

O problema é que há uma parte da nossa cultura (Brasil e outros países) que, de forma velada, hostiliza os indivíduos que incansavelmente produzem conhecimento e também os que acessam o arcabouço intelectual desenvolvido ao longo das gerações para melhorarem seu trabalho. Não falo aqui somente de professores, mas de todos os que buscam na literatura uma base para desenvolver suas atividades cotidianas, em geral (e as laborais, também).

Parece que trabalhar, no Brasil, significa pegar na enxada. Por certo, se os negros escravos (não somente estes, mas os índios, descendentes de japoneses, italianos, alemães, espanhóis e outras nacionalidades que para o Brasil vieram) não tivessem, a duras penas, suado para gerar as lindas construções que temos nas cidades brasileiras mais antigas, não teríamos a estrutura a qual desfrutamos hoje.

No entanto, infelizmente, existe um intenso preconceito para com aqueles que “descansam” seus “quadris” (para não utilizar outro termo) em uma cadeira e realizam um trabalho que é tão exaustivo quanto (ou mais exaustivo que) o trabalho braçal dos “trabalhadores”. Ora, trabalhador é aquele que pega em uma enxada, ou executa repetidamente uma atividade em uma linha de produção fabril, mas aquele que estudou horas a fio, exaustivamente, para desenvolver a tecnologia dos instrumentos, aperfeiçoou-os, elaborou e criou novas possibilidades de ação, este não é trabalhador?

O próprio Marx, que ressaltou a luta de classes e valorizou o “trabalhador” (braçal), não era ele um trabalhador? Não expôs sua família a todo tipo de intempérie e necessidade para que pudesse, exaustivamente, elaborar um sistema de ideias?

Ao que me parece, por vivermos no capitalismo, as pessoas precisam sobreviver e para isso trabalham. Incessantes piadas acerca dos que estão “sentadinhos” na frente de um computador, com o ar condicionado ligado e um frigobar ao lado só contribuem para a desvalorização do trabalho predominantemente “mental”. Gerentes, proprietários e comerciantes, professores, autores de material didático e criadores de tecnologia eletrônica (entre outros), estes, iniciam seu trabalho ao despertarem em suas camas e, muitas das vezes, não se desligam do labor ao retornarem aos seus lares, pois as ideias, soluções e criações não cessam ao estarem distantes fisicamente do local de trabalho.

Enquanto acharmos que ser “chefe” ou ser cientista, ou, até mesmo, estudar para melhorar a prática profissional não são ações de trabalhadores, viveremos reféns das necessidades imediatas… alienados.

Portanto, antes de acharmos que somente “quem trabalha é a pessoa que sua a camisa”, saibamos que o trabalho intelectual é exaustivo e exige um nível de concentração, refinamento e flexibilidade mental sofisticado o bastante que nos dão o direito de afirmar: “trabalhar duro é obter conhecimento!!!”.

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