A deseducação do negro: por que ler Carter G. Woodson nos dias de hoje?

Alexandra Lima da Silva

Dr. Carter G. Woodson (1875-1950).

Considerado “o pai da história negra” nos Estados Unidos, os livros de Carter G. Woodson ainda não tinham merecido atenção do mercado editorial brasileiro. Nascido no estado da Virgínia (Estados Unidos) no ano de 1875, Woodson foi um dos fundadores do importante periódico The Journal of Negro History, em 1916. Publicado em língua inglesa no ano de 1933, com o título The Mis-education of Negro, em 2018 o livro foi traduzido para o português e publicado no Brasil com o título A deseducação do negro. Nas palavras do próprio autor, o livro é fruto de 40 anos de reflexão a respeito da educação e das relações raciais.

Para o autor: “A única questão que nos preocupa aqui é se essas pessoas ‘educadas’ estão realmente equipadas para enfrentar a provocação diante delas ou inconscientemente contribuir para sua própria ruína, perpetuando o regime do opressor”, pois “o opressor tem o direito de explorar, incapacitar e matar os oprimidos”. A principal crítica do autor reside no fato de que, para ele, a educação que as pessoas negras nos Estados Unidos recebiam reproduzia a lógica do opressor. Ou seja, não era um instrumento para a prática da liberdade, e sim, de dominação, e “mesmo em escolas para negros, então, são lugares onde devem ser convencidos de sua inferioridade”.

A principal tese de Woodson neste livro é que, nos Estados Unidos do pós-abolição, a educação formal que as pessoas negras recebiam não era crítica e não era instrumento de transformação e contestação. Outro ponto de crítica do autor reside no fato de que a educação formal, em especial a escola, valorizava os conteúdos eurocentrados e inferiorizava os saberes de outras culturas, principalmente as de matrizes africanas.

O livro estrutura-se em 18 capítulos: A base do problema; Como perdemos o alvo; Como nos afastamos da verdade; Educação sob controle externo; O fracasso de aprender a ganhar a vida; O erudito negro deixa as massas; Dissenção e fraqueza; Educação profissional desmotivada; Educação política negligenciada; A perda da visão; A necessidade de serviço em vez de liderança; Empregados no lugar de funcionários públicos; Entenda o negro; O novo programa; Orientação vocacional; O novo tipo de profissional necessário; Maiores esforços em servir o país; e O estudo do negro.

Num momento em que cidades estão em chamas pelos protestos contra o caráter violento e genocida do racismo, em que estátuas de colonizadores estão sendo destronadas, é importante recuperar as vozes daqueles que se levantaram contra uma educação que ensinava a obedecer. Hoje é tempo de se levantar e lutar por uma educação como prática de liberdade.

Para saber mais

WOODSON, Carter. A deseducação do negro. São Paulo: Medu Neter Livros, 2018.


Imagem de Destaque: Dr. Carter G. Woodson (1875-1950).

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *