A classificação biológica e a ordem secreta das coisas

Vagner Luciano de Andrade

Fernanda Aparecida Peixoto*

 

O objetivo desse texto consiste em apresentar brevemente a complexidade da classificação biológica no âmbito do aprendizado de alunos do 7º ano do Ensino Fundamental. Possuindo apenas a função de categorizar os diferentes seres vivos, a classificação demanda por inovação dos processos tradicionais de mediação pedagógica. Tema de extrema complexidade, permite de forma investigativa e ativa a compreensão dos alunos e alunas sobre a fauna e flora local e os prejuízos ambientais causados nos ecossistemas pela ação humana. Tendo o educando como o principal responsável pelo seu aprendizado, o professor atua como supervisor e orientador dos conteúdos e propostas metodológicas. As primeiras noções sobre os seres vivos, em especial, animais e plantas são evidenciadas nas séries dos anos iniciais, sendo estas questões epistemológicas das Ciências Naturais revisitadas nas etapas seguintes: anos finais e ensino médio. Porém é fato que a categorização biológica, por mais complexa que pareça, tem suas limitações, fazendo com que pesquisadores revisem sempre as classificações dos seres vivos com vistas à compreensão da vida em sua totalidade.

A necessidade de se organizar e se classificar as coisas é algo inerente ao homem. Carolina Junqueira dos Santos,em seu texto o “Atlas do Impossível: os jogos construídos na obra de René Magritte através de uma possível leitura de Foucault”, alega que a classificação é algo inviável aos humanos, portanto um desafio constante e eterno. A autora cita o ornitorrinco como exemplo. Transcreve-se aqui um pequeno trecho de sua escrita:

“A ordem desconhecida e realizada todos os dias pelos homens. A necessidade, desde os primórdios de uma civilização qualquer – a necessidade de se classificar cada objeto encontrado. Saber os lugares a que pertencem, a matéria de constituição, as funções. A ordem é silenciosa, sim, nada sabemos da ordem das coisas. Não somos parte delas para entender os sistemas que as explicam, as denominam e as selecionam. Sim, somos nós os classificadores. Mas de repetente nos perdemos em meio a nomes e funções. Por que um objeto tem tal nome e não outro? Sim, a arbitrariedade dos signos. A arbitrariedade de cada escolha feita. Nada podemos saber, nós do que um nome altera no objeto”.

No contexto escolar, a classificação biológica se limita ao uso de livros e raramente de documentários sobre o tema. Neste contexto exemplifica-se que o trabalho de campo numa contextualização de estudo do meio oferece chances únicas de se aplicar a complexa questão da classificação biológica na realidade de alunos. Como recorte espacial, elencou-se a paisagem ecológica da Serra do Maludo, integrante da cidade de Desterro de Entre Rios, a 160 quilômetros da capital mineira. Num determinado dia, uma professora de ciências do 7° ano propôs um debate sobre quais biomas pertenciam à flora local, e também quais animais eram mais encontrados no entorno da Escola Estadual Nossa Senhora de Fátima. Depois de saber a opinião dos alunos e alunas, observando que alguns equívocos, a docente decidiu propor uma aula de estudo do meio, levando-os para fazer uma trilha na serra. Uma série de combinados foi empreendida e os alunos listaram o que poderia ser feito e o que não deveria para o êxito da atividade. A trilha consistia em uma subida leve pela Serra do Maludo que fica em frente à sede municipal da pequena cidade de sete mil moradores. Estando localizada bem próxima da escola, não seria necessário o fretamento de meio de transporte, visto que se iria e voltaria caminhando facilmente,bem como o fácil acesso não ofereceria risco algum aos educandos.

Desterro de Entre Rios, na Serra do Maludo
Imagem: Pouso & Prosa

Noções de coleta de espécies foram repassadas aos discentes para que a identificação das espécies vegetais pudesse ser feita posteriormente. Durante a trilha ecológica, a professora pediu que coletassem e fotografassem a maior parte de plantas diferentes, anotando onde cada uma delas foi encontrada, e também que registrassem os animais encontrados, em sua maioria, invertebrados.Chegando ao ponto mais alto da trilha, foi encontrada uma bela nascente, que dá origem ao córrego que desagua no ribeirão Capela Nova, tributário responsável pelo abastecimento hídrico da cidade, para surpresa de muitos, pois, a mesma ficava em um local bastante elevado da serra do Maludo. Pode-se observar que apesar de utilizada diariamente como atalho pela população da zona rural que se dirige à zona urbana, percebeu-se que tanto a nascente quanto toda a trilha estavam livrem de qualquer poluição, e pouco alterada pela ação humana.Já no caminho de volta foi observado na região da ponte do ribeirão mais próximo à cidadeum ponto repleto de poluição, com destaque para lixo e esgoto sem tratamento.

Voltando à escola, como tarefa de casa, a professora pediu que os alunos pesquisassem plantas semelhantes às que foram registradas e classificassem de acordo com o bioma pertencente, pedindo auxílio aos pais e avós, que certamente já conhecem as respectivas espécies.No dia seguinte, seriam comentados a questão da complexidade da classificação biológica e, paralelamente, os códigos culturais utilizados pelas populações camponesas para a respectiva identificação. Uma estratégia pedagógica para fixação dos elementos de classificação biológica de espécies é a frase “Rato Frito Com Orégano Fica Gostoso, Experimente”, utilizada para memorizar a organização Reino/Filo/Classe/Ordem/Família/Gênero/Espécie (ReFiCOFaGE). O debate que se seguiu demonstrou que a classificação, muito embora pareça difícil, não é impossível, bem como não é eterna, dada a evolução da Vida no Planeta.

Foi observado coletivamente que grande parte das plantas pertencia ao bioma da Mata Atlântica, visto que a maioria das árvores era de grande e médio porte, formando uma mata fechada e densa em alguns pontos da serra. Porém, foi possível verificar plantas pequenas e rasteiras com galhos retorcido sem alguns pontos, caracterizando o bioma do Cerrado, e gramíneas exóticas destinadas à pecuária local. Identificou-se a ampliação da cultura de eucalipto na paisagem da localidade evidenciando problemas ecológicos futuros. Os animais que os alunos e alunas relataram ver consistiam na maior parte em insetos, muitas espécies de aracnídeos e inúmeros pássaros. Por fim, a professora esclareceu qualquer dúvida adquirida durante o estudo do meio. Norteando o aprendizado dos educandos, pediu-se para que eles e elas fizessem um paralelo observando o local que não havia poluição, onde se encontrou uma nascente limpa como decorrência da pouca ação humana, com o lugar do ribeirão poluído e grandes mudanças negativas encontradas. Por último, destacou-se a possibilidade de novas classificações biológicas devido a novas espécies ainda a serem descobertas e catalogadas. A associação da vegetação com a água potável fechou os trabalhos e discussões sobre o tema, demostrando uma facilidade, antes inimaginável.

PARA SABER MAIS

A ordem Secreta das Coisas

*Fernanda Aparecida Peixoto é Discente do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas pela Universidade Metropolitana de Santos, matriculada e frequente no Polo Desterro de Entre Rios – MG

Imagem de destaque: pen_ash via Pixabay

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