A ciência que não pode ser colocada em prática

Tiago Tristão Arteiro

Parece cada vez mais distante a produção científica em relação à vida real. Engana-se quem pensa assim. A ciência reflete sobre a ação do ser humano no mundo, as leis da física (que, de alguma forma refletem no meio social), a tecnologia, as relações entre os indivíduos, a política, etc. O que ocorre é que, caso o conhecimento científico não interesse aos mecanismos produtivistas, fica guardado, “proibido” de ser aplicado.

Embora não haja mais a necessidade de enforcar ou queimar em praça pública aquele que contesta o status quo, as guerras estão aí para provar que os interesses econômicos mostram-se acima da vida humana.

Quem produz conhecimento, o faz, muitas vezes, com o entendimento da função social da ciência e da tecnologia, portanto, de forma desinteressada a manutenção das desigualdades sociais. O que se faz com esse conhecimento a partir daí? Estoca-se, proíbe-se de aplicar, condena-o. Aí está uma das origens das ideias de uma “escola sem partido”, a não socialização do conhecimento (em todas as áreas, em especial, na área das humanas).

Se a ciência não serve mais à sociedade, com ela morre o conhecimento. Parece que urge produzir somente um tipo de conhecimento, aquele que não contradiz as leis da produção e do consumo. A educação toma, segundo essa lógica, um caráter utilitarista, fazendo com que as pesquisas e o conhecimento sejam tratados com bastante “cuidado” – para que não contrariem as verdades estabelecidas.

Empreender é a palavra da vez. Empreender do ponto de vista da criatividade, da busca pelo próprio sustento, da aplicação da força do trabalho em algo que se acredita, mostra-se como algo positivo. Não é por isso que ele está em alta na sociedade em que vivemos, mas porque depende de você o sucesso ou insucesso da sua iniciativa. Não porque seja ruim esforçar-se por algo que acredita, mas porque há fatores externos imprevisíveis que farão você “merecer” ou “não merecer” o sucesso.

É aí que entra a competitividade. Arraigada em nossa sociedade. Nos esportes, nos filmes, nas relações sociais e, pasme-se, nas escolas. É algo tão naturalizado que se espalha nas relações sociais, familiares, conjugais. Começa a fazer parte de nossa identidade, da cautela para tomar a decisão x ou y, da forma de pensar, falar, agir. Dá-se visibilidade ao capaz e ao não-capaz, ao desempregado e ao bem-sucedido, ao “diferente” e ao que possui “bons costumes”. O diferente (mesmo que seja maioria) é aquele moribundo, negro, negra, homossexual, mendigo, aquele que possui distúrbios, problemas, limitações, analfabeto, trabalhador braçal. Medicaliza-se o anormal (será que porque é preciso corrigir o diferente ou porque é preciso vender remédio, mesmo!?).

Onde estávamos? Falando sobre o papel da “ciência permitida” e o da “ciência condenada”. Por que não utilizar a ciência como balizadora das construções na área urbana, da área da saúde, da busca pela garantia dos direitos de todos (alimentação, saúde, moradia, acesso ao conhecimento)?

A “ciência permitida” circula livremente nas escolas e universidades, a ciência condenada, às vezes, também pode circular, no entanto, com menos recursos, com menor “aplicabilidade” no mundo em que vivemos. Não porque não seja aplicável, mas pelos inúmeros mecanismos que, de algum jeito, a neutralizam.

Se ainda há dúvidas quanto a esse fato, pensemos no quanto as decisões políticas e a gestão no mais diversos âmbitos são direcionadas a interesses distantes da justiça social. Quantas leis são criadas e aplicadas sem uma consulta efetiva nas produções científicas que poderiam contribuir para a formulação de políticas públicas garantidoras de uma sociedade mais humana?

Enquanto isso, sigamos produzindo conhecimento e fazendo ciência. Mas não só isso. Vamos caminhar em direção à socialização do saber que, de posse de todos, formarão uma nova consciência de humanidade que se busca, norteada pela ciência, mas não qualquer ciência, uma ciência que repercuta o olhar crítico do/da pesquisador(a) e a história da sociedade.

A ciência que não pode ser colocada em prática é aquela pela qual vamos l

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