A avaliação da EAD na UFMG

Otavio Henrique Ferreira da Silva

No dia 06 de julho de 2016 foi realizada na UFMG uma reunião com a comunidade acadêmica para tratar sobre a situação da Educação a Distância-EAD na Universidade. O encontro foi uma iniciativa da Comissão Própria de Avaliação-CPA e foram convidadas para do debate a Diretoria de Avaliação Instituicional-DAI, a Diretoria de Inovação e Metodologias de Ensino-GIZ, o Centro de Apoio à Educação a Distâcia-CAED, a Pró-reitoria de Graduação-PROGRAD e o público em geral interessado na temática.

Em termos históricos, as atividades de educação a distância na UFMG iniciam-se a partir do final da década de 1970, e seu início ocorreu não nos cursos de graduação e sim e outros tipos de cursos oferecidos ao público externo. O principal objetivo era permitir com que pessoas de outras localidades mais distantes de Belo Horizonte, pudessem ter acesso a formação da UFMG visto que em grande maioria esse público não teria outra oportunidade de formação.

No início dos anos 2000 a UFMG já se organizava para projetar uma política própria de EAD. Até o ano de 2005 aconteceu em parceria com a Secretaria Estadual de Educação de Minas Gerais, o “Projeto Veredas”, que formou em nível de graduação aproximadamente 14 mil professores da educação básica.

Diante ao crescimento da oferta de educação a distância no Brasil, surge a proposta da universidade aderir ao programa do Governo Federal “Universidade Aberta do Brasil-UAB” criado na gestão do presidente Lula. Este modelo é considerado tripartite pois conta com a colaboração da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior-CAPES, das universidades e também necessita da participação dos municípios que fazem adesão ao programa. As ações são prioritariamente voltadas para a educação básica.

A UFMG adere ao programa a partir do ano de 2007 e os primeiros estudantes desse modelo de oferta da EAD começam a formar entre os anos de 2012 a 2016. A partir da formação das primeiras turmas a UFMG passa ocupar lugar de destaque na formação a distância, pois consegue levar trabalhadores qualificados para regiões carentes de profissionais em determinadas áreas da graduação. Também, os estudantes da UFMG na modalidade a distância conseguem passar em diversos concursos, muitos tem sido aprovados em seleções de pós-graduação e os processos de avaliação demonstram indicadores de que estudantes de EAD da UFMG possuem a mesma qualidade dos estudantes dos cursos presenciais. Isso desmistifica o preconceito que a sociedade tem em desqualificar os cursos a distância, demonstrando que esse preconceito será superados com mais investimentos em educação.

O CAED é responsável por fazer a gestão do programa na UFMG e até o início de 2016 a universidade conta com uma estrutura de 43 pólos espalhados pelo estado de Minas Gerais (há pólos também que atendem o estado de São Paulo). São 5 cursos em nível de graduação, 6 cursos de especialização e 13 cursos de aperfeiçoamento. Para cada pólo buscou-se ao máximo atender as exigências legais e proporcionar aos estudantes uma estrutura aproximada dos cursos presenciais que acontecem no campus universitário. Durante as ofertas de cursos de graduação foram oferecidas um total de 3.828 vagas. Os alunos que estão com a matrícula em andamento somam 3.078, sendo que já formam aproximadamente 605 profissionais oriundos de várias regiões do estado.

No entanto algumas mudanças que vêm ocorrendo na política implantada pelo Governo Federal nos últimos anos, tem gerado uma irregularidade na oferta de cursos a distância pela universidade. E com as mudanças que foram realizadas no início deste ano a política de EAD tem sido impactada, afetando com isso, os estudantes que ainda estão com os estudos em andamento. Essas modificações referem-se a trocas nas regras e condições para a oferta das turmas a distância, principalmente houve cortes e reduções nas bolsas dos tutores que são um dos elementos principais da educação a distância.

A partir das limitações do modelo UAB e ciente da importância que a política de EAD tem representado para o estado de Minas Gerais e para a população que necessita de políticas de inclusão social, a UFMG chamou a comunidade acadêmica para retomar o projeto de institucionalização da EAD na universidade que havia sido interrompido após a adesão a Universidade Aberta do Brasil.

A UFMG tem ciência de que se trata de um projeto caro, mas, no entanto, é extremamente necessário ao se ter em visto o objetivo de democratização do ensino superior. Também a educação a distância cada vez mais tem ganhado espaço na sociedade e por isso é preciso que a universidade esteja em diálogo com as novas tecnologias de informação e comunicação.

Uma política de educação a distância na UFMG precisa ser independente de ações governamentais e com isso atingir as atividades de graduação, pós-graduação, pesquisa e extensão, pois uma política universitária não se resume em pequenas ações, mas em ações em todos os espaços acadêmicos. Os cursos presenciais e a distância não podem mais estarem isolados uns dos outros como se fossem atingir finalidades distintas, mas é preciso integrá-los e aproximar cada vez mais as ações pedagógicas e administrativas das duas modalidades de educação.

Nesse sentido a UFMG vem promovendo algumas mudanças como o reconhecimento de disciplinas a distância na carga de trabalho dos docentes e a aceitação de que é necessário colocar em um patamar de equidade o trabalho dos docentes de educação presencial e de educação a distância. Em relação aos discentes, tanto os matriculados nos cursos presenciais como os matriculados nos cursos a distância, poderão cursar disciplinas nas diferentes modalidades, promovendo assim um intercâmbio de experiências em ambas possibilidades educacionais.

Um dos possíveis caminhos a serem seguidos para que a política de educação a distância da UFMG se torne uma realidade e que para fique cada vez mais fortalecida institucionalmente, se passa pela regulamentação dos colegiados dos cursos a distância e a pela articulação desses com os demais colegiados dos cursos presenciais.

Na opinião de alguns dos coordenadores de cursos EAD que estavam presentes no debate, não há uma gestão democrática nos cursos a distância da UFMG, isso ocorre porque ainda não foram implementados os colegiados desses cursos e nos colegiados dos cursos presenciais, há pouco espaço para socializar os problemas e desafios que a EAD enfrenta.

Infelizmente, a gestão da EAD da universidade fica concentrada nas mãos dos coordenadores e sub-coordenadores de curso e o debate da educação a distância não pode ficar concentrado nas mãos de apenas um grupo de pessoas, as discussões precisam ser compartilhadas e as decisões precisam ser colegiadas.

É fundamental que de agora em diante a comunidade acadêmica se aproprie dessa discussão e contribua na construção da política de EAD na UFMG, pois diante a um cenário em que os cortes de recursos no ensino superior tem cada vez mais intensificado com as ações de um governo federal ilegítimo e golpista, se a briga não for comprada nesse momento em que a gestão universitária está interessada em institucionalizar a EAD e garantir assim em seu orçamento a oferta dos cursos a distância, a tendência será com que cada vez mais aumente o número de pessoas excluídas da educação superior e, que cada vez menos haja concursos para professores e técnicos-administrativos do ensino superior, e também que cada vez mais precarizados fiquem os profissionais que trabalharem com a EAD nas minúsculas ofertas de cursos que vierem a ser oferecidas.

Otavio Henrique Ferreira da Silva – Mestrando em Educação e Docência/UFMG. Bolsista do GIZ/PROGRAD/UFMG. Profissional da Educação na rede municipal de Betim/MG. Conselheiro Municipal de Educação/Betim. Membro da Comissão Articuladora Fórum Mineiro de Educação Infantil.

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