Pensar além das rampas!

 

Em minhas andanças pelas escolas e lendo sobre tantas outras, quando pergunto sobre inclusão, a primeira coisa que falam é sobre as rampas. Chega a ser engraçado, fazem questão de falar da acessibilidade e das verbas investidas na construção de rampas. Fico pensando: que lindo, mas, e aí?

Será que incluir é apenas construir rampas?

A inclusão vai muito além de qualquer acessibilidade que permita a locomoção. De que adianta construir rampas e desconstruir a ideia de direitos e equidade? Será que essas escolas que fazem a maior propaganda de seus espaços físicos adaptados e bem planejados por arquitetos famosos, já pararam para pensar além das rampas? Já se deram conta da complexidade que é incluir?

Quando pensamos em inclusão, muito pouco se fala em escutar o indivíduo, seja criança, adolescente, adulto ou idoso, sobre o que pensam e como se sentem incluídos. A primeira pessoa a falar de inclusão deve ser quem dela necessita. Escutar as pessoas com limitações, sejam físicas, cognitivas, emocionais ou sociais, é a chave para se perguntar se estamos, de fato, incluindo.

As escolas precisam buscar mais formação e conhecimentos para serem competentes o suficiente para garantir que a inclusão aconteça de maneira equânime. Não adianta dizer que os professores que cursaram a faculdade estão preparados para a inclusão. Não estão, ninguém está e sabem por quê? Simplesmente porque encaram o conceito de inclusão totalmente errado. Como resolver isso? Primeiro admitindo que pouco ou nada sabem sobre inclusão, depois, buscando formação continuada, conversas abertas e transparentes com famílias e especialistas, sempre de ouvidos e olhos atentos aos que mais interessa a inclusão; as pessoas com deficiências.

Não é fácil, nada fácil. Muitas vezes a escola precisa caminhar sozinha na busca por diagnósticos que as famílias preferem ignorar. Outras vezes, famílias escondem diagnósticos na esperança de que “naquela escola” seja tudo diferente. Delegando as dificuldades dos filhos às escolas anteriores ou aos seus profissionais.

Enfim, incluir é a arte de saber ouvir e ver bem além do que está obvio. É ter, além de competência técnica, sensibilidade e percepção para entrar em mundos tão fechados que insistem em ficar no anonimato. É saber que ser diferente é um direito de todos, que é normal, legal, bacana, não ser igual e buscar, na diferença, a riqueza das oportunidades que cada um tem de aprender.

Todos aprendem, isso é fato. O que temos que ter bem claro é que os tempos de aprendizagens são diferentes e tá tudo bem. Não precisamos sufocar ninguém para aprender no tempo do outro, mas também não podemos ficar de braços cruzados esperando este tempo chegar. O aprendizado se dá com insistentes buscas e muita experiência. Proporcionar vivências específicas para que, dentro de suas limitações, consigam crescer a avançar com processos de aprendizagem, é o caminho para que a inclusão aconteça.

Saber que, dentro da mesma deficiência ou síndrome, as pessoas são diferentes e aprendem de maneiras diferentes, é libertador. Muitas vezes escuto pessoas dizendo coisas do tipo: a criança com síndrome de Down consegue ser alfabetizada com tal método. Engano, as crianças, mesmo com a mesma síndrome, são diferentes e o que deu certo para uma, não necessariamente dará certo para outra. Temos que parar com estes paradigmas ultrapassados sobre certezas. Precisamos atuar com mais competência e discernimento. Ninguém é igual e ninguém aprende igual, ponto. Ter ciência disso já é um bom começo para incluir.

Inclusão é tema que cabe em muitas páginas e este artigo é apenas uma pequena mostra, uma simples cutucada em quem acha que incluir é construir rampas de acesso. Incluir é bem mais que isso e precisa ser discutido em todos os espaços de formação de professores, com famílias e sociedade, pois, a inclusão não é tarefa apenas da escola, é obrigação de toda uma sociedade e direitos das pessoas com deficiências.

Para além das rampas, vamos buscar estudo, pesquisas, arregaçar as mangas e trabalhar para que o direito ao aprendizado esteja ao acesso de todos.

Com afeto,

Jacqueline Caixeta

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