Para além da escola
São muitos anos lidando com a inclusão dentro dos muros da escola. Quantas dificuldades, quantas lutas, derrotas e vitórias, tudo com muita perseverança sempre.
Os livros, cursos, palestras e a grande vivência, fizeram parte da minha formação em busca de colocar em prática uma inclusão que, na lei é muito bonita, mas no dia a dia da escola, se esbarra em tantas barreiras que, fazer a inclusão acontecer, é uma árdua tarefa. Sempre fiz certo? Lógico que não! Muitas vezes fiz discursos lindos e minha prática foi um desastre. Tantas outras, briguei com escola, sistema, famílias, especialistas, defendendo que a inclusão acontecesse o mais próximo da realidade de cada aluno. O fato é que incluir exige saber, muita competência teórica, mas também, muita ousadia, teimosia e persistência.
Mas, com todos os percalços, nunca deixei de acreditar que é possível incluir, que é possível fazer com que cada aluno, de acordo com suas debilidades, pudesse mostrar também suas incríveis habilidades e que o direito de aprender pertence a todos. E assim, nestes anos todos venho trilhando por caminhos desconhecidos buscando fazer com que a inclusão aconteça.
Dentro das escolas, aos trancos e barrancos, vamos lutando pela inclusão, no entanto, todavia, essas crianças e adolescentes não vivem apenas dentro da escola. Eles têm uma vida além dela e fico pensando se a sociedade tem feito seu dever de casa direitinho quando o assunto é inclusão.
Será que os pais de crianças e adolescentes ditos “típicos”, sabem lidar com seus amiguinhos “atípicos”? Será que esses pais, fazem questão de ensinar aos seus filhos sobre inclusão? Quando tem uma festinha, será que todos os colegas são convidados? Ou será que aquele “esquisito” da turma, não é convidado? Desculpem a palavra esquisito, mas é bem assim que muitas crianças e adolescentes atípicos, são chamados por seus colegas. É muito comum, infelizmente, ouvir essa palavra para se referirem a um colega. E os pais dessas lindas crianças e adolescentes consideradas típicas? O que andam fazendo para que seus lindos filhos aprendam sobre a inclusão? Se não estão fazendo nada, ou, pior, se estão contribuindo para que eles não tenham vivências com tais, colegas, estão perdendo muito. Estão perdendo a oportunidade de que seus filhos aprendam sobre solidariedade, respeito, diferença, amizade, colaboração e tantos outros valores que não aprenderão nem com os melhores livros e professores. O convívio com o diferente, é extremamente rico pelo simples fato de nos fazer descobrir que também somos diferentes e carregamos nossas potencialidades e nossos fracassos.
Saindo um pouco do contesto familiar, vou para o mercado de trabalho. Será que o mercado de trabalho está pronto para receber jovens atípicos? Sei que existem leis, e, ainda bem que existem, mas quem cumpre, cumpre só para cumprir uma estatística ou realmente acredita que ter um funcionário atípico pode fazer a diferença na sua empresa? Será que as empresas, fábricas, comércios, hospitais, repartições públicas, enfim, será que todos sabem exatamente como fazer para que a inclusão seja respeitada e real? Ter um funcionário PCD só porque a lei me obriga, não quer dizer que estou contribuindo para o crescimento daquela pessoa e tampouco para o crescimento da minha empresa. Inclusão é bem mais do que cumprir uma lei, inclusão é criar oportunidades de crescimento e aprendizado para todos o tempo todo.
A inclusão precisa existir dentro e fora da escola. Dentro da escola, mesmo com tantas dificuldades, buscamos nos preparar sempre, mas e fora? Como que anda essa inclusão quando esse adolescente sai da escola e cai no mercado de trabalho? Será que nossa sociedade tem discutido isso? Será que precisamos ficar criando novas leis sem que as que existem sejam cumpridas? O direito à escola e ao mundo do trabalho, é de todos. Temos a responsabilidade de trazer essa discussão para nossas mesas de conversas. Esta é uma pauta de toda uma sociedade, afinal de contas, qualquer um de nós pode, de uma hora para outra, ter algum tipo de limitação e nos tornarmos pessoas com deficiência.
Para além da escola, vai também nossa coragem e ousadia em gritar pela inclusão porque as crianças atípicas crescem e o mundo, também é delas. É preciso questionar espaços e pessoas sobre a inclusão e como estão lidando com os desafios que ela nos traz. O direito à inclusão é uma briga de todos nós que acreditamos em um mundo mais fraterno, solidário e respeitoso.
Jacqueline Caixeta