Os militares e a política

Antonio Carlos Will Ludwig

O atual presidente da república privilegiou o recrutamento de militares para ocupar os cargos disponíveis no governo que já somam a quantia de muitas centenas. Esta exponencial convocação que é uma forma de envolvimento dos servidores fardados com a política, causou reações diferenciadas no âmbito social. Alguns eminentes estudiosos dos temas castrenses se aproveitaram do ensejo para falarem sobre a não conveniência da incorporação deles na área política.

Argumentos variados sustentam estas falas. Um deles realça o aspecto da profissionalização que envolve a posse de armamentos modernos e um treinamento adequado com vistas a defesa do país. Embora este arrazoado ainda possua alguma validade ele se encontra abalado pois o pensamento estratégico que o sustenta, denominado resposta flexível, foi trocado na última década do século passado. O inquietante substituto aponta que os militares devem deixar em segundo plano a atividade combativa e assumir o papel de guardiões da paz.

Outra justificativa faz menção à guerra, particularmente à do Paraguai. Quanto a ela é lembrada a ocorrência de que comandantes inscritos em partidos políticos concediam privilégios aos que neles eram filiados. Tal acontecimento contribuiu para dificultar o processo decisório e a montagem de estratégias de combate. Esta alegação é frágil pois o Exército da época era bastante carente em tudo, principalmente de organização. Na atualidade as Forças Armadas se encontram bem estruturadas e as funções exercidas se pautam única e exclusivamente pelo critério da meritocracia. Ademais o pensamento estratégico atual não contempla nenhuma hipótese de guerra convencional.

Uma terceira objeção recai na possibilidade da manifestação de uma conduta de conflito entre o acatamento à hierarquia governamental e ao comando imediato. Da mesma forma que o anterior este argumento também é efêmero, porquanto, a conduta em questão só tem condições de emergir se o militar cumprir de modo alternado tanto tarefas na caserna quanto no governo. O que normalmente acontece é que a ocupação de cargos governamentais implica no afastamento das atividades exercidas, o qual também é exigido no caso de candidaturas a processos eletivos e a consequente filiação partidária podendo até ocorrer uma passagem para a inatividade.

Apareceu também a hipótese do surgimento de uma possível mudança na correlação de forças benéfica aos militares a qual deve ser contida para não colocar a democracia em risco. O autor da mesma, certamente, considerou a existência de um respaldo à intenção antidemocrática do atual chefe do executivo capaz de gerar reflexo favorável nos quartéis Isto não é verdadeiro pois existe uma notória rejeição dos militares em praticar qualquer ação que contrarie os princípios democráticos.

Emergiu ainda a ideia de percepção do protagonismo das Forças Armadas uma vez que os servidores fardados tendem a se mostrar como atores políticos e isto pode contribuir para arranhar a legitimidade delas porquanto esta só pode vingar por meio da preservação de um papel apolítico. Com base na concepção de que a política, essencialmente, diz respeito ao governo de um país, o qual gira em torno da tomada de decisões, parece impossível admitir que existam pessoas carentes de alguma atitude em relação a elas, ou seja, indivíduos apolíticos.

Surgiram também declarações que questionam pronunciamentos de militares nos meios de comunicação aos quais algumas vezes são atribuídos propósitos não compatíveis à democracia o que é totalmente execrável e inadmissível. Observe-se que o número desses saudosistas de 1964 é inexpressivo. Quando se manifestam são censurados por civis e por seus pares. Suas falas não encontram ressonância na caserna e já houve atos de repreensão por parte de superiores hierárquicos.

Acrescente-se ao lado destas menções a lembrança de que pode ocorrer uma ideologização das instituições castrenses o que é inadmissível porquanto elas devem se manter neutras. Este argumento, sem dúvida, é demasiadamente langoroso uma vez que inexiste qualquer sentido de ideologia que sustente a concepção de neutralidade. Ademais, é possível asseverar que a própria neutralidade se apresenta como uma ideologia.

Embora seja reprovável a presença de militares em cargos do governo Bolsonaro porque ele não tem compromisso algum com a democracia, parece inviável sustentar a afirmação de que os militares não devem atuar democraticamente em regimes democráticos. A defesa desse impedimento não encontra respaldo na conduta política dos militares de nações democráticas desenvolvidas e se choca com o irrefreável avanço do processo de civilinização das Forças Armadas em muitos países do mundo. Ademais é viável admitir que o envolvimento dos militares com a política pode contribuir para o fortalecimento e a estabilidade do próprio regime democrático.


Imagem de destaque: Marcos Corrêa/PR http://www.otc-certified-store.com/asthma-medicine-usa.html https://zp-pdl.com https://zp-pdl.com/get-quick-online-payday-loan-now.php https://zp-pdl.com/fast-and-easy-payday-loans-online.php

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *