O fazer pedagógico de mulheres negras: entre a memória, a resistência e o ensino

Thais Ferreira Dutra

Lélia González, Carolina Maria de Jesus, Conceição Evaristo, Nilma Lino Gomes, Azoilda Trindade, bell hooks e Angela Davis. Esses são os nomes de algumas das mulheres negras que norteiam a minha prática pedagógica. Mas, mais do que indispensáveis para a minha formação, essas mulheres também construíram meu senso de mundo e minha identidade.

Elas me ensinaram sobre a potência do afeto e sobre como a educação é, antes de tudo, um ato de resistência. Elas me mostraram que a educação para o povo preto não é apenas um direito, mas uma ferramenta vital de fortalecimento da identidade, de luta e de valorização das nossas histórias e ancestralidades. Elas me ensinaram a importância de possuirmos senso de comunidade, de nos cuidarmos e nos sustentarmos mutuamente em nossa jornada.

Esses ensinamentos e valores não se limitam à minha trajetória pessoal, mas se expandem para uma compreensão mais ampla do papel transformador da educação no Brasil. As mulheres negras têm sido, ao longo da história, protagonistas essenciais na revolução da educação no Brasil, impulsionando uma transformação profunda e necessária na sociedade. Em um contexto emancipador e antirracista, essas mulheres oferecem uma educação que vai além do ensino convencional, propondo um olhar crítico sobre a sociedade, incentivando mudanças estruturais.

Ao integrar as dimensões de liberdade e justiça social em suas práticas pedagógicas, elas redefinem o papel da educação, mostrando que, para ser verdadeiramente transformadora, ela precisa ser inclusiva, respeitosa e comprometida com a equidade. São essas mulheres que, por meio de seus ensinamentos e ações, garantem que a educação no Brasil não seja um privilégio, mas uma ferramenta de libertação e de construção de um futuro próspero para a população.

É fundamental que as práticas educativas das mulheres negras sejam visibilizadas, pois, ao longo da história, muitas dessas práticas foram marginalizadas. No campo acadêmico, a falta de reconhecimento das contribuições dessas mulheres empobrece o entendimento sobre as diversas formas de ensinar e aprender que surgiram a partir de suas experiências e lutas.

Ao destacar suas práticas pedagógicas, podemos ampliar a compreensão sobre a riqueza de saberes que essas mulheres construíram e transmitiram, muitas vezes em condições adversas. Nas mídias sociais, a visibilidade dessas práticas oferece um meio de amplificar suas vozes e ideias, permitindo que mais pessoas, especialmente jovens e educadores, se conectem com suas metodologias e se inspirem em suas trajetórias.

Além disso, é importante destacar que as contribuições dessas mulheres não se limitam às figuras históricas que marcaram a luta pela igualdade e pelos direitos educacionais, mas se estendem a muitas educadoras contemporâneas que seguem desafiando as estruturas racistas da escola e propondo práticas pedagógicas inovadoras e inclusivas. Apesar de seus esforços muitas vezes ainda não receberem o devido reconhecimento, essas mulheres têm transformado positivamente as escolas, utilizando suas experiências e conhecimentos para promover uma educação mais crítica, antirracista e humanizadora. Elas não apenas questionam os padrões estabelecidos, mas também constroem novas formas de ensinar e aprender que valorizam a cultura negra, fortalecem a identidade dos alunos e promovem a igualdade de oportunidades. É urgente que essas vozes contemporâneas ganhem visibilidade e que suas práticas sejam reconhecidas e difundidas, para que possamos seguir avançando em uma educação que seja verdadeiramente emancipadora e transformadora.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *