Nós, do social, e os nós do social: Um diálogo com Paulo Freire

Monica Abranches

Você já se perguntou qual é o papel de nós, educadores e profissionais da área social nesses tempos? Vivemos um período onde surgem inquietações sobre as responsabilidades e potencialidades da atuação profissional no contexto atual onde emergem, com mais força em nosso país, setores que defendem uma ideia de Estado repressor da diversidade de ideias nos setores da educação, na política e na economia. É preciso pensar na efetivação de um projeto político para a atuação em várias áreas das políticas sociais que possa retomar e estimular soluções coletivas para fortalecer a democracia, estabelecendo um comprometimento com as classes mais vulneráveis e excluídas do país.

É necessário refletir sobre o que nós, educadores, professores, agentes sociais, vamos fazer para reagir a esses novos tempos que nos desafiam a combater os ataques crescentes contra a ética e os direitos humanos. Como vamos adequar nossas ações profissionais ao contexto de perseguição de atores que querem a democracia, a liberdade e a cidadania da população?

Refletindo sobre conteúdos e as experiências de educadores famosos, como Paulo Freire, nos resta praticar o verbo ESPERANÇAR que é “se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo

Para sobreviver a esses tempos, é necessário praticar cada vez mais o diálogo, como nos ensinou Paulo Freire. Contribuir para construir um mundo menos discriminatório e injusto, através de uma relação pedagógica horizontal, e relembrar que precisamos nos perguntar para quem e em benefício de quem estamos trabalhando.

Nesse sentido, é preciso refletir sobre nosso lugar nesse mundo e de que forma os profissionais de todas as áreas de conhecimento podem agir em nome da construção de uma alternativa de combate a esse movimento de regressão de ideias. Como fazer? Onde buscar inspiração para ações pedagógicas e sociais que garantam a conquista da dignidade e da cidadania? Como vamos reinventar nossa prática diante desses desafios? Como vamos defender radicalmente a cidadania e os direitos humanos?

As experiências como a Educomunicação, que estimula a reaproximação das práticas da comunicação popular, a Educação em Direitos Humanos e as práticas de Metodologias Ativas como espaço de construção dialética de nova leituras do mundo, defendem a importância de colocar a fala dos indivíduos assistidos como ponto de partida de nossa ação pedagógica e como orientadora de nossa intervenção. E ainda, a indicação da valorização do cotidiano das pessoas como um passo importante para conduzir a leitura do mundo e um degrau para transformá-lo.

Partindo dessas referências é preciso compreender de que forma vamos nos reinventar nas diversas profissões e assumir uma prática pedagógica que estimule ainda mais a autonomia dos indivíduos e a participação política, compreendendo os desafios contemporâneos da sociedade que vive a era da informação e o advento das fake news. Para aqueles que atuam com as políticas públicas e, consequentemente, diretamente com a população, temos experienciado a forma como esse fenômeno do fundamentalismo de ideias e das notícias falsas tem promovido um obstáculo aos avanços das políticas sociais e dificultado a ação profissional. Nessa perspectiva, as categorias de Assistentes Sociais, Psicólogos, Pedagogos, Terapeutas Ocupacionais, Comunicólogos, Professores, têm identificado dificuldades de atuar com a população mais empobrecida que está mais suscetível a aceitar a imposição de ideias como: contra vacinação, direitos de trabalhadores apresentados como privilégios, perda de direitos para “ajudar” o desenvolvimento do país, ameaças comunistas, ideologia de gênero nas escolas, entre outras. Informações que desgastam e regridem o trabalho das políticas de assistência social, de saúde, de educação e promovem a resistência da população em relação às informações técnicas e encaminhamentos dados pelos profissionais de várias áreas.

As tecnologias atuais, que tanto ajudam na comunicação, também têm sido utilizadas para disseminar as notícias falsas obtendo maior alcance e transmitidas cada vez mais rápido pela sociedade e, ainda, com a disseminação ajudadas por robôs. Notícias apelativas que nos envolvem emocionalmente e podem provocar desastres na sociedade como nas eleições brasileiras de 2018.

Diante desses contextos, penso que NÓS, DO SOCIAL, devemos trabalhar como mediadores para a formação política da população e incentivadores dos processos de participação popular. É preciso refletir sobre o trabalho educativo das profissões fundamentado no processo de conscientização defendido por Paulo Freire que nos coloca a necessidade de que cada pessoa precisa entender a sua condição no mundo para se libertar.

É fundamental retomar fortemente a ideia da inclusão das pessoas como participantes da elaboração e avaliação das políticas, alterando a importância das ações políticas para a sociedade que passa de mera receptora dos benefícios para a condição de proponente e, logo, protagonista. Estratégias de rodas políticas de discussão, como nos círculos de cultura propostos por Paulo Freire, podem promover um aprendizado das pessoas sobre a coisa pública, além de exercício do diálogo, da escuta de diversas ideias e da possibilidade de fazer parte da construção das ações de saúde, da educação, da assistência social, da habitação, entre outras.

Outras ações a retomar nesses novos tempos para avançar na luta pela dignidade humana é se perguntar: Qual a nossa disputa no projeto de emancipação humana? Como estamos contribuindo com uma nova cultura política e participação cidadã? Como é nossa contribuição para que as pessoas se eduquem na perspectiva dos direitos humanos?

Em suas reflexões, Paulo Freire nos chama para que façamos uma luta de classes e apoiemos as populações mais vulneráveis, uma escolha pelos “esfarrapados do mundo” (Pedagogia do Oprimido, 1970). Isso nos coloca frente a nossa responsabilidade de praticar uma educação em prol dos direitos humanos, até mesmo contra os governos no Brasil que continuam praticando violações contra os cidadãos, desde a ditadura militar.

É com esse olhar que devemos analisar as condições e os resultados do trabalho de TODOS NÓS, DO SOCIAL, através de uma prática pedagógica em prol da formação política dos indivíduos, buscando compreender como pode se dar a organização política e de identidade coletiva dos usuários dos serviços públicos com os quais atuamos em nosso cotidiano profissional. É preciso assumir o compromisso de uma postura político-pedagógica que não seja meramente a inclusão formal das pessoas nas discussões das políticas públicas sem participação efetiva. Vamos lá, colegas! Mobilizar espaços de discussão sobre a conquista de direitos, identidades culturais, justiça e outros temas, trabalhando com autores e pesquisadores que possam nos ensinar sobre o trabalho de conscientização, comunicação popular, sobre metodologias ativas, fortalecimento dos direitos humanos, soluções coletivas e educação emancipadora.


Imagem de destaque: Caricatura do Educador brasileiro Paulo Freire, feita por André Koehne. female wrestling http://www.otc-certified-store.com/eye-care-medicine-europe.html https://zp-pdl.com/get-a-next-business-day-payday-loan.php https://zp-pdl.com/apply-for-payday-loan-online.php www.zp-pdl.com https://zp-pdl.com/emergency-payday-loans.php https://zp-pdl.com/online-payday-loans-in-america.php

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