GAME OVER?

Jacqueline Caixeta

O que não falta nesta época do ano são imagens de formaturas acontecendo pra tudo quanto é lado. Algumas formais, outras bem informais, mas todas com aquele gostinho de fim, de que acabou!

Nos eventos, sejam missas, celebrações, colações de grau, enfim, nestes eventos formais, muita seriedade e medo de errar falas, quebrar protocolos e fazer tudo certinho. Os estudantes nem parecem aquelas almas livres a rir e zoar em sala de aula, ficam todos quietos e preocupados com o ritual que estão vivendo. Alguns até conseguem quebrar o protocolo e sair um pouco daquele momento solene, mas a maioria, nem respira com medo de errar algo.

Nas festas, ah, nas festas eles voltam a ser aquelas almas livres e felizes que nos enlouqueceram por  tantos anos, que nos desafiaram, nos tiraram do lugar de donos do saber e nos levaram para o lugar de quem ainda tem muito a aprender. Eles se soltam, dançam, cantam, se jogam nas pistas como se não houvesse amanhã!

Eles estão indo embora de nossos braços, de nossos colos, de nossos olhares sempre atentos para  corrigir, incentivar e desafiar a serem melhores. Eles estão saindo da escola que,  para muitos, foi a única durante 15 anos. Eles estão, literalmente, pulando de fase e o jogo continua.

O que eles não sabem é que nós, que ficamos aqui na escola, continuando o ciclo de formaturas eternas, nós estamos com um frio na barriga e a sensação de que: será que fizemos tudo?

Será que conseguimos formar mesmo esses seres tão jovens? Será que a palavra certa seria formar? Formar, me remete a alinhar, colocar dentro de um mesmo modelo (forma). Será que é isso mesmo que eu quero fazer? Será que trabalhei para que todos saiam dentro de um mesmo “padrão de qualidade”? Ah, quantas controvérsias a educação me permite fazer! 

Que saiam da escola dentro de um excelente padrão de qualidade pedagógica, quero, mas se for pra sair todos com os mesmos pensamentos e as mesma habilidades em lidar com o mundo afetivamente e socialmente, não quero não. Não quero entregar para a sociedade um monte de robozinhos! Não quero que dos muros da escola em que atuo, saiam jovens que não se permitem errar, não se permitem ousar, não se permitem desafiar seus limites e ir além. Não quero ser acusada de jogar para o mercado de trabalho gente sem criatividade, que fica presa dentro de um único formato, que se sente feliz e realizada com o básico do básico, com a nota para passar.

Quero um mundo de oportunidades para meus queridos formandos e quero que eles saibam que serão responsáveis pelas oportunidades, que terão que arregaçar as mangas e correr atrás, que podem e devem errar e ter medo, o que não podem e nem devem, é ficar parados reclamando do sistema e lamentando que não conseguiram algo. Quero que tenham coragens absurdas e medos medíocres para seguir em frente. Mesmo batendo com a cara na porta, quero que não desistam de abrir outras e, se for preciso, metem o pé e abram porque ninguém vai fazer por eles o que só eles podem fazer.

A sensação de vê-los formandos me arrepia a alma e me deixa inquieta sempre, todos os anos. Seja nas formalidades dos eventos de formatura em que todos se mostram “formados” dentro de protocolos e o que fazer na hora certa, até às festas em que se libertam e experimentam a vida com mais leveza e alegria, em ambos, converso com o meu eu educadora e me questiono: como será o amanhã dessas pequenas criaturas que pensam que acabou tudo? Mal sabem que tudo é muito pra quem só tem dezoito anos, que a vida ainda tem vários recomeços e muita coisa ainda vai acontecer. Não, definitivamente, não é, ainda, game over!

Fico então, sentada a observar como eles se comportam nesta fase e a dialogar comigo sobre o que realmente quero deles daqui pra frente. Quero pouco, só quero que tenham coragem pra continuar e amor pra distribuir. Que não tenham medo de errar porque o erro é a vida lhe dizendo pra tentar de novo que você só está aprendendo, sempre.  Que sejam éticos e honestos, humildes e valentes, ousados e estudiosos, pessoas do bem, que sejam e façam o bem neste mundão de meu Deus.

Peço licença para dizer que a inspiração do texto veio após a formatura dos meus queridos formando do Colégio Alumnus.

Com afeto,

Jacqueline Caixeta

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