Formando leitores

Iriam Starling

Em geral, a população reconhece a importância da leitura na educação, mas não é consenso a literatura apenas como entretenimento. Sem prazer na leitura, ela é logo abandonada quando se sai da escola. É sabido que a criança tende a imitar seus pais, as pessoas a quem admira e que lhe são próximas. Claro que pais, amigos e pessoas queridas leitores, não necessariamente despertam na criança ou no jovem o gosto pela leitura. É preciso muito mais do que bons exemplos para que eles não abandonem a leitura.

Mas o que é preciso para se formar bons leitores? Como melhorar esses índices no Brasil? Estas são perguntas que nós, pequenos editores, nos fazemos diariamente. Há muito o que se debater em torno desse assunto, mas, em primeiro lugar, penso que concordamos que é preciso que haja livros à disposição das pessoas para que elas possam lê-los, ou seja, têm que ter acesso a livrarias, bibliotecas ou, pelo menos, internet. Parece óbvio isso, mas temo que não seja tão óbvio assim para a maioria dos nossos governantes. Poucas são as políticas públicas voltadas para o estímulo à criação e manutenção de bibliotecas públicas e de livrarias. Há uma maior concentração destes estabelecimentos nas regiões sul e sudeste, especialmente nos municípios de grande porte, mas quando se caminha para pequenas cidades e para o interior do país, o cenário muda drasticamente. Muitas vezes, quando encontramos uma biblioteca pública em municípios pequenos, de até 50 mil habitantes, ela não passa de um depósito organizado de livros que fecha em finais de semana e feriados e não tem uma programação para atrair o público leitor e estimular a leitura, não fazem pesquisas e muito menos produzem matérias para livros e periódicos. Os usuários, nessas bibliotecas, em sua maioria, são das escolas locais, em busca de livros indicados pelos professores para alguma atividade didática. Mudar este cenário requer uma força tarefa dos setores que gravitam em torno do livro. Grandes mudanças costumam partir de baixo e não de cima. Afinal, a quem interessa que o povo tenha acesso a bons livros? Ao que parece, a intenção do governo é justamente o contrário, pois o novo “pacote” de tributação do ministro Paulo Guedes aumenta em cerca de 12% os impostos sobre o livro. “Segundo Paulo Guedes, “pobre” não frequenta livraria. Cientes dessa realidade, pequenos editores vêm se organizando em meio à pior crise do setor livreiro no Brasil, com intuito de se ajudar mutuamente e criar mecanismos de estímulo à leitura. Veremos, nos próximos anos, uma mudança substancial neste mercado.

Em plena crise econômica brasileira desde 2015, agravada pela pandemia da COVID-19, paradoxalmente, diversas microeditoras têm surgido, enquanto livrarias, gráficas e outras editoras de médio e grande porte vêm fechando em cascata. É notório a dificuldade financeira de grandes empresas que trabalham com livro. Afinal, o que está acontecendo? Os leitores não desapareceram, mas há quem diga que diminuíram e outros que eles vêm aumentando, especialmente entre jovens, o que é um alento.

A questão passa pelo modelo de negócio que, embora ultrapassado, tem encontrado muita resistência de mudanças entre os livreiros e distribuidores. No mundo dos negócios não há compaixão: quando o cenário muda, ou você muda com ele ou morre.

Na cadeia do livro, o maior ônus cabe à editora. É ela que produz o livro: paga o ilustrador, o capista, o diagramador, o designer gráfico, o ISBN, os revisores, a gráfica e o que mais for necessário. Estes custos são desembolsados antes que o livro seja efetivamente comercializado. E ainda tem o percentual do autor nas vendas do livro. Este é o único que fica “a ver navios” se o livro encalhar, mas tem a vantagem de não ter desembolsado os custos da sua produção, ou seja, todos os prejuízos financeiros ficam na conta da editora. Não estamos tratando aqui de autores que se autopublicam, isto é uma conversa para outro texto. De um modo geral, quando se tem um comércio, o comerciante compra o produto para revendê-lo com uma margem de lucro. Em minha família há muitos comerciantes: farmácia, açougue, pequenos mercados, lojas de presente, entre outros. Todos eles compram para revender. Entretanto, quando se entra no mercado livreiro, nem os distribuidores e nem as livrarias compram o livro para revendê-lo. O editor consigna o livro para eles, ou seja, se vender, recebe e se não vender, “quebra”. Quem precisa se virar para fazer o marketing dos livros é a editora, pois os vendedores não correm o risco de empatar seu capital numa mercadoria que não tenha saída. Haja vista que a editora tem que dar um desconto no preço de capa de cerca de 50%, mas que varia de 30 a 80% para as diversas distribuidoras e livrarias.

Por isso, as editoras vêm procurando vender diretamente ao público consumidor, através de lojas virtuais, vendas em eventos literários, participando de editais e até criando suas próprias livrarias físicas. As editoras estão se reinventando, e as livrarias e distribuidoras que não fizerem o mesmo estão fadadas à falência. Repensar esse comércio desigual baseado no desconto do preço de capa do livro e na consignação é fundamental.


Imagem de destaque: PIXNIO

 

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