Cultura da Paz e Educação nos estádios de futebol: como ensinar as crianças a torcer?

Paulo Henrique de Souza 

“Não existem métodos fáceis para resolver problemas difíceis”

René Descartes

A experiência esportiva nos estádios de futebol deveria ser uma celebração do talento, do espírito competitivo e da união entre torcedores e atletas. No entanto, o episódio recente entre Flamengo e Atlético-MG, pela final da Copa do Brasil de 2024, ilustra a profunda necessidade de repensarmos a cultura da paz no esporte e a prática de “saber perder”. Em uma situação onde o Flamengo consagrou-se pentacampeão, não houve apenas disputa dentro de campo, mas também cenas lamentáveis de violência e descontrole.

Como educar nossas crianças que vão aos estádios a cortesia, elegância e espírito esportivo ou Fair play,  que é uma expressão americana mundialmente conhecida, que significa “jogo limpo” e está relacionada com a ética e a justiça?

Aos 37 minutos do segundo tempo, o gol de Gonzalo Plata, do Flamengo, provocou uma reação imediata e desmedida por parte de alguns torcedores do Atlético-MG. Copos e bombas foram arremessados em direção aos atletas do Flamengo, obrigando o árbitro Raphael Claus a interromper a partida. 

Os próprios jogadores do Atlético-MG (que foram mediadores) pediram calma e respeito, apelando aos seus torcedores para que não ultrapassassem os limites que separam a paixão esportiva da conduta cidadã. A cena foi emblemática, uma vez que os próprios protagonistas do espetáculo se viram forçados a agir em defesa da civilidade, tentando apaziguar uma torcida tomada pelo impulso da raiva e do descontrole.

O que testemunhamos, portanto, foi uma tentativa de resgatar a cortesia e a elegância mesmo em um momento de derrota. Saber perder é um aprendizado essencial, que ultrapassa o contexto esportivo. Na vida, as derrotas nos ensinam resiliência, humildade e respeito pelo esforço alheio. Essas qualidades, infelizmente, são muitas vezes desconsideradas em ambientes onde as emoções são intensas e os sentimentos de rivalidade podem transformar-se em atos de hostilidade e agressão. Trata-se do que chamamos de competências socioemocionais.

No futebol, como na vida, a educação para a paz e a prática do autocontrole são valores que precisam ser cultivados. Assistir a um jogo não deveria significar colocar-se em uma “arena de guerra”, mas sim participar de um momento de confraternização, onde a diversidade de sentimentos e emoções se alinha ao respeito mútuo e à tolerância. Torcedores e clubes têm a responsabilidade de adotar atitudes que promovam o bem-estar de todos os presentes e respeitem o direito de cada um à segurança e ao lazer.

A cultura da paz nos estádios de futebol não é uma utopia, mas uma necessidade. Ela se constrói pela educação emocional, pelo incentivo ao respeito, e pela conscientização de que os valores do esporte incluem saber perder com dignidade. Tal mudança de mentalidade exige engajamento coletivo de todos: dos clubes, dos jogadores, dos organizadores e, sobretudo, dos próprios torcedores. Afinal, o futebol é muito mais que uma partida; ele é parte de nossa cultura, identidade e história. Cultivar a paz e a elegância no esporte é um compromisso que cada torcedor, no momento da vitória ou da derrota, precisa assumir como um ato de cidadania e de respeito ao próximo.

E não foi nada educativo elevar o som do estádio no momento da comemoração do time adversário. Todos dizem que as crianças têm de ser educadas, mas domingo muitas famílias saíram da Arena MRV repensando sobre levar ou não suas crianças ao estádio. Fica a pergunta: como ensinar as crianças a viver e torcer pelo time que gostam, “sem perder a cabeça”?

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