Corpos pela cidade acesa

Ivane Laurete Perotti

De pele. De ossos. De fomes. Do visto, notório, não vê. Do visto, sabido, não crê. Véu da lua.  Águas de cola. Marola social. Homem de pano. Corpos urbanos. Entranhas. Estranhas. Lençol de pedras. Veias do nascido. Fantasmas. Desenho de ossos. Calçadas abertas. Acesas. A cidade não dorme. 

De um lado da rua, o Angico Branco. Espirros verdes projetando-se sobre o corpo fundido. Fundiu-se aos paralelepípedos. Tragado. Indistinto. Raízes expostas. Da árvore. Do homem. Da miséria atropelando a noite. Sela arriada. Apetrechos de ocasião. Panos. Trapos. Papelão. Gira. Respira. Amigo. Cão. Uivo desconsolado. Leva. Mais um. Mais outro. In/di/GENTE. Gentes demais sob a mesma sacada. Medo da chuva.

No corredor da cidade, movem-se conceitos. De homem. De bicho. De capital. Além das pedras, as pernas. Feridas confessas. Ninguém põe a mão. Olhares ao longo. Invisível ostentação. Crescem os gritos. Mitos. Miséria. Motociata. Escolha do prato. Vazio. 

Peles murcham. O Angico vê. Peles pregam. O Angico vê. Urbano. Profano. Um corpo. Dois corpos. Um morto.  Mortos. Contribuintes da soma. Mortos na lona. Lama social. Não vê. Não crê. Não lê.

Ratos. Rastros. Restos. A noite copia o verbo. Ponto. Decreto. Interjeição. Ponto. Adepto. Segregação. Vem beijar a terra. Calçada espera. Outro lugar. De casa. De gente. Demora. Final. Um terço. Milagres gloriosos. Não pedem. Gasosos. Cravo. Madeira. Espaço na feira. Tomate na cesta. Um peixe. Conversa. Doce. Banal. Banal. Banal.

A noite semeia. Escura. Ladeira. Escada. Fatal. A noite campeia. Um rosto. Tateia. Ferido. No vício. Na teia. Não come. Não come. Cheira. Não tome. Beba. Não some. Semente do mal.

Do abrigo de estrelas, um rosto se vai. Deixei o café. O pão. Omelete. Sob o Angico. Branco. Arestas da fé. Queria guardar. A chave. O sorriso. O quase pedido: não quero morrer. Janela aberta. Cidade desperta. Ponto final.

Descansou da sina. Mentira! Latrina. Conceitual. Morreu ao nascer. No lixo. É bicho. Homem. Mortal. Cansado da ausência, deitou para sempre. Cabeça. Serpente. Não mora no pé. Veste gravata. Vira-casaca. O povo não quer. Projeto de rima. Investe nas fomes. Credita à fé. 

Dormiu, o seu Zé. João se perdeu. Ditongo caído. Deposto antigo. No ventre da noite. Seco. Parido. Velho. Caído. Morreu. Não sabem quem é. São tantos. São tantas. Perdidos. Desiludidos. Marcha, mané! Marcha, mané! Não sabem quem é!

Velório não teve. Cova comum. Já isso é muito. Disse. Empedernido. Guardião da sé. Trono sem dono. Morre o momo. O mesmo do mesmo. Vida. Cortejo. Não soube. Não teve. Dorme João. Dorme José.

Dorme, povo passante. A noite é uma. Estrelas ascendem. Apagam. Urbana cidade. Sujeita. Maré. Miséria macabra. Gesto inválido. Não tomou. Deixou o café. Que passa à frente. Atrás vem gente. Gente. Gente. Foi-se, o Zé! 


Imagem de destaque: Galeria de Imagens

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