Para que serve a história da educação?

Por Luciano Mendes de Faria Filho

História da educação

Na semana que passou, por razões diversas, participei de três aulas de história da educação em que, em conjunto com outros colegas, alunos(as) e  professores(as),  tive que enfrentar a terrível pergunta “para que serve a história da educação?”.

Desnaturalizar, alargar horizontes dos possíveis, rememorar, memorizar, encontrar projetos silenciados, entender as razões pelas quais o futuro do passado seja esse nosso presente e não outro, viajar, ir ao encontro do outro, aprender, ensinar… As respostas foram muitas e certamente não esgotarem as possibilidades acumuladas pela reflexão historiográfica.  No entanto, apesar do acúmulo de reflexões sobre o assunto e das respostas já dadas, a pergunta continua. E nos incomoda!

Numa dessas aulas, na turma de Pedagogia da UFMG, as alunas chamaram a atenção de que a história serve par não nos esquecermos, mais uma vez, daqueles que já foram esquecidos pela história. Lembrar, e rememorar, daqueles e daquelas que não aparecem nos nomes das ruas e monumentos, nem mesmo nos livros, qualquer deles.  Daí, também, a importância da história para o alargamento e elaboração de nossa própria memória, individual e coletiva. E as festas que a República manda fazer, por que nos afetam tão pouco? E qual a relação disso com do descaso com a res pública?

Noutra aula, parte de um curso interinstitucional que reúne professores(as) e alunos(as) da UEMG, da UFOP, do CEFET e da UFMG, também nos dedicamos a perguntar e responder sobre a relação da história da educação com os caminhos  e descaminhos da escola básica no Brasil. A respeito disso, mais perguntas do que resposta: como foi possível construirmos a 8ª economia do mundo e mantermos a escola pública em condições tão ruins de funcionamento e pagarmos tão mal aos seus profissionais? Em que momento de nossa história a educação foi definitivamente capturada pela economia? Por que as grandes qualidades da escola pública não ganham visibilidade no espaço público? Será que o discurso sobre a escola pública no espaço público guarda relação com o fato de quase todos que falam dela na imprensa,  ou não estudaram na escola pública ou mantêm seus filhos e filhas afastados da mesma? Se sim, quando isso teria começado?

No conjunto das aulas, uma certeza: há coisas sobre a educação, particularmente sobre a escola pública, que a história da educação tem revelado e que valeria a pena divulgar.  Será que muito gente sabe que boa parte dos(as)  alunos(as) a escola elementar (primária) pública do século XIX era constituída de crianças pobres e negras e que os ricos, de fato, pouco passaram por ela? Como explicar a construção do mito de que a escola pública de “antigamente” era melhor do que a escola pública atual? O que disso nos ajuda a entender/explicar o investimento coletivo na manutenção das nossas desigualdades?

Num momento em que grande estradas e pontes para o passado estão sendo rapidamente pavimentadas, talvez uma das responsabilidades dos(as) historiadores(as) da educação seja mesmo, e mais uma vez, ajudar a nossa gente a  conhecer as grandes novidades que essa passado pode revelar.

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