Os números da educação e as políticas educacionais

Uma das grandes ilusões da modernidade é a de que é possível reduzir tudo a números. Da produção material aos gostos, passando pela política e pelos sentimentos, tudo, ao fim e ao cabo, poderia ser reduzido a uma representação numérica. Não por acaso, a estatística (ou estadística) se expandiu e adquiriu grande notoriedade nos últimos séculos. Por meio de seus procedimentos e métodos, suas análise e prospecções, poder-se-ia interpretar e ordenar o presente e projetar seguramente o futuro – desde que a ordem fosse mantida, o progresso estaria assegurado!

A educação, o mais complexo dos serviços sob controle e manutenção dos Estados Nacionais, há pelo menos dois séculos se configurou como uma área em que o conhecimento estatístico tem sido amplamente produzido e mobilizado. Afinal, como governar milhares de escolas, milhões de professores e alunos se não tem números confiáveis a guiar as ações e as políticas? É sobre isso que versava, já no final do século XIX, Rui Barbosa em famoso texto sobre a necessidade de reformar a educação brasileira.

No século XX foi desde o campo da educação que homens como Teixeira de Freitas e Lourenço Filho defenderam a necessidade da organização de um serviço estatístico nacional que desse uniformidade e confiança aos números produzidos sobre a educação brasileira. Ao mesmo tempo em que revelaria a escola e daria suportes às políticas, as estatísticas revelariam as faces mais desconhecidas do Brasil profundo que precisava ser conhecido para ser transformado ou reformado. A organização do IBGE e do INEP, apenas para citar dois exemplos, devem muito ao investimento e as ideias desses militantes da causa educacional.

De lá para cá, os números da educação, desde sua produção passando por sua organização e interpretação, cresceram em abundância, em complexidade e sofisticação. Hoje, mais do que nunca, conhecemos sobre as escolas brasileiras e, mesmo, sobre as salas de aula das escolas brasileiras em todos os níveis. Mas, nem por isso, melhoraram as nossas políticas educacionais. Essas, feliz ou infelizmente, se fazem apesar dos números e, algumas vezes, contra os números!

A cada vez que o INEP ou IBGE, como foi o caso dessa semana a respeito da educação infantil no Brasil, lançam dados sobre a educação brasileira, um sem número de analistas vêm a público fazer sinistros ou alvissareiros diagnósticos e prognósticos sobre a educação brasileira. No entanto, passado o calor da hora, as políticas educacionais voltam a ser feitas de acordo com o mais descarado senso comum e no atendimento aos interesses contrários ao da maioria da população. Pelo que tem de bom e de ruim, as políticas públicas em educação resultam muito mais de política do que de ciência.

No caso da imprensa, é interessante notar que, quando os dados favorecem a defesa dos interesses de seus aliados, eles são repetidos diuturnamente. E os especialistas de plantão são continuamente acionados para lembrar os números e, sempre que possível, explica-los didaticamente. No entanto, quando os dados são desfavoráveis à tese que defendem, os empresários da imprensa e suas equipes de comunicadores e articulistas, os esquecem ou os colocam num canto obscuro de uma página que não é para ser lida.

Esse é o caso, por exemplo, da trajetória acadêmica dos(as) estudantes cotistas nas universidades brasileiras. Quando da aprovação da lei não foram poucos os que diziam de um sucateamento da universidade pública, agora cada vez mais ocupada também pelos herdeiros da senzala. No entanto, quando uma série de universidades vem a público mostrar, por meio dos números, a falácia do argumento elitista, estes dados são quase completamente ignorados pela “grande” mídia e seus comentadores e articulistas.

Defender as “evidências” como fundamento das políticas educacionais somente parece fazer sentido quando tais evidências corroboram para a desconstrução da face pública da escola. Por isso, de novo é preciso retomar o argumento tradicional e fundamental: a ciência e as evidências somente se transformam em políticas públicas por meio da mediação da política! E é dessa, tanto quanto da ciência e das evidências, que tratam os especialistas, articulistas, jornalistas e outros quando tratam dos números da educação!

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Os números da educação e as políticas educacionais

[Editorial do jornal Pensar a Educação em Pauta n. 153]

Uma das grandes ilusões da modernidade é a de que é possível reduzir tudo a números.  Da produção material aos gostos, passando pela política e pelos sentimentos, tudo, ao fim e ao cabo, poderia ser reduzido a uma representação numérica. Não por acaso, a estatística (ou estadística) se expandiu e adquiriu grande notoriedade nos últimos séculos.  Por meio de seus procedimentos e métodos, suas análise e prospecções, poder-se-ia interpretar e ordenar o presente e projetar seguramente o futuro – desde que a ordem fosse mantida, o progresso estaria assegurado! 

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