[Eleições UFMG 2017] Uma Nova Reitoria para uma Nova Universidade

CADEIRA DO REITOR 01

Por Matheus Anchieta Ramirez – Professor do Departamento de Zootecnia da Escola de Veterinária da UFMG

A universidade pública no Brasil passou por significativas mudanças nos últimos anos. Mudanças que em maior ou menor grau podem ser remetidas a ampliação da oferta de vagas e do acesso ao ensino superior no país.

Tal processo colocou à comunidade universitária questões como a promoção de políticas que evitem a evasão e que promovam a assistência estudantil, as inovações didáticas e a ampliação da infraestrutura física. Outras questões estão diretamente relacionadas à renovação e ampliação dos quadros profissionais de servidores docentes e técnicos administrativos em educação. Deste modo, tem-se uma modificação significativa da comunidade universitária, relativa tanto à sua dimensão quanto à sua composição.

No entanto, é certo que a Universidade passa por transformações que, sem dúvida, representam avanços e que qualquer ação que venha obstar a democratização do acesso não pode ser visto senão como um retrocesso.

Articulada a esse processo de  ampliação do acesso ao ensino superior há uma modificação na visão da sociedade do “lugar” da Universidade. Percebe-se, atualmente, um processo de ressignificação do papel social da universidade, bem como do “ser universitário”.

Por isso, neste momento de rediscussão das relações políticas na universidade e dessa com o conjunto da sociedade, na eleição de uma nova reitoria o enfrentamento e o debate destas novas situações é imprescindível.

Este é o momento que todos temos para refletir sobre discursos que propõem a formação de uma Universidade de referência, que “volte” a seu posto de destaque, ou de  uma universidade de excelência, como já foi no passado. Tais discursos, que em sua estrutura, são sectários. Na verdade, propõem um avanço para o  passado! Discursos contraditórios, pragmáticos, que não enxergam as mudanças ocorridas na universidade como avanço. Por isso mesmo conservador. Do mesmo modo, discursos de continuidade não se propõem ao avanço, sim a continuidade. São também conservadores.

Neste momento a vida universitária necessita de coragem para mudanças de rumos. Mudanças em direção ao que chamo de Nova Reitoria, pois o que se tem hoje é  uma Nova Universidade.

Pontos importantes para a reflexão deveriam passar por formas de inclusão de novos docentes. Sabe-se que os processos de financiamento e avaliação de projetos de pesquisa, muito vinculados os currículos, não permitem espaços para todos os novos docentes. Assim, a tradicional universidade do tripé ensino-pesquisa-extensão, concebidos de estanques e que supervaloriza a esfera da pesquisa, não atende as questões atuais.

Em substituição ao tripé, é proposta a indissociabilidade entre as esferas institucionais, que muito mais longe do que prever a igual valorização das diversas dimensões da vida universitária, propõe uma nova visão de integração da universidade comprometida com o  das ensino, que realiza pesquisas e que tem como objetivo as demandas das populações não universitária. Neste aspecto qual seria o perfil demandado da nova reitoria? Qual o seu comprometimento com a indissociabilidade entre as esferas? Qual política propõe para a interação da universidade com a sociedade que a cerca e com a população que a mantém?

Porém, as questões internas também são importantes. Como propõe que seja rompida a verticalização, professores-estutantes-técnicos, existente na universidade? Quais políticas para romper a invisibilidade que é submetida o trabalho dos Técnicos Administrativos em Educação? Não basta mais o discurso, irresponsável, de cobranças, de “colocar na linha”. Necessita-se de um programa de valorização e incentivo, o que passa certamente, pela valorização do trabalho técnico administrativo. Qual a política de pessoal da futura Reitoria? Qual seu posicionamento frente à crescente terceirização? Até mesmo em relação àqueles professores que não possuem o “perfil” tradicionalmente imposto por sua unidade, quais ações para a valorização e apoio a estes indivíduos que fazem parte da comunidade universitária mas que se tornam invisíveis?

E aos estudantes, quais as políticas de integração e apoio? Quais as propostas que não aquelas de “combate” aos novos cursos ou aos cursos de “baixo rendimento”? Ou a saída é o imobilismo e o eterno conviver com o problema? Duas faces da mesma moeda de sectarismo e retrocesso.

Frente a um processo eleitoral que ainda não se apresenta claramente, essas são indagações importantes de serem feitas. Não podemos nos contentar apenas em votar. É preciso que participemos de discussão da própria campanha eleitoral e da Universidade que cada um quer. É preciso que esse momento de  campanha seja de discussão e reflexão, que fundamente a escolha, o  voto e o direcionamento a ser dado à UFMG. Afinal, cada um tem a sua importância na UFMG, sendo responsável por sua construção, desconstrução e reconstrução constantes.

 

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