A avaliação da Pós Graduação em Educação

No ano passado o Pensar a Educação em Pauta publicou uma série* de textos a respeito da avaliação quadrienal da Área de Educação. Naquela ocasião, estávamos finalizando o quadriênio (2013-2016) a ser avaliado em 2017. Os textos, de autoria do prof. Luciano Mendes, da UFMG, reconheciam a importância da avaliação, chamavam a atenção para a complexidade do tema e da constituição da própria área e alertavam para uma série de aspectos ainda indefinidos ou obscuros em relação à avaliação que se procederia. 

Pois bem, passaram-se alguns meses e a avaliação já está em curso. Ela, em boa parte, decide a sorte de muitos programas, de muitos alunos e professores: se o programa vai continuar funcionando e quais as verbas receberão da CAPES e, eventualmente, do CNPq, dentre outros aspectos.  

Nas últimas semanas têm circulado intensos rumores sobre o grande número de problemas ocorridos com a avaliação dos livros, uma das principais formas de a Área avaliar a quantidade e qualidade da produção dos Programas.  Reclama-se desde o fato de vários livros terem deixado de ser avaliados até as razões pelas quais, em determinadas coletâneas, alguns capítulos terem sido pontuados para alguns autores e para outros não. 

Mas o problema maior continuar sendo o Qualis Periódicos segundo a avaliação que circula entre coordenadores de Programa, Editores e Pesquisadores da Área. Há, fundamentalmente, o fato de que o Qualis só é publicado depois de fechado o quadriênio, o que faz com que ocorram muitas distorções. Disso decorre o fato de se ficar sabendo a classificação final do periódico, aquela que será utilizada na pontuação dos programas e dos pesquisadores,  apenas depois de terminado o período a ser avaliado. Ou seja, pode ocorrer que quando o pesquisador publicou em determinado periódico ele fosse B1, mas, por algum motivo, este mesmo periódico, apareça agora no site da CAPES como C. E será essa qualificação final, e não a do momento em que o artigo foi publicado, que será utilizada na avaliação. 

Todos sabemos da grande complexidade que é realizar a avaliação de milhares de livros e periódicos. Não é tarefa nada fácil, mesmo que se mobilize um grande número de pesquisadores. No entanto, as controversas que marcam a avaliação, sobretudo no que se refere aos quesitos mais importantes da mesma, como aquele referente à publicação em livros e periódicos, acaba por colocar em risco a credibilidade da avaliação e, de forma mais imediata, o funcionamento regular de muitos programas. É por isso que muitos pesquisadores da Área defendem que se tenha um Qualis Periódicos estável e publicado no início do Quadriênio. Certamente também nesse caso poderiam ocorrer distorções, mas certamente seriam menos graves e prejudiciais aos Programas e aos Pesquisadores do que um Qualis publicado a posteriori. 

Por isso, é de se esperar que tanto a Comissão de Área da Educação quanto à CAPES, estejam atentas aos problemas apontados pelos Coordenadores e, sobretudo, busque corrigi-los para não comprometer o trabalho realizado arduamente por milhares de pessoas. Além dessa atenção, no decorrer da avaliação, será importante também que a Comissão de Área e a CAPES realmente considerem as razões alegadas nos Recursos que certamente serão apresentados pelos programas em razão de suas discordâncias em relação ao processo e à aplicação dos critérios da avaliação, e não os tratem de forma burocrática simplesmente. 

Certamente o distanciamento entre a Comissão Avaliadora da Área e seus colegas dos Programas de Pós Graduação não é algo que contribua para a elevação da qualidade da pesquisa e da formação de pesquisadores realizadas na Área da Educação. Se, no entanto, ficarmos no tensionamento das relações e não formos capazes de tornar menos obscuros os critérios e sua aplicação, perderemos mais uma oportunidade de aprendermos com o processo de avaliação e sairmos dele mais fortalecidos para exercitar as muitas possibilidades de contribuição à melhoria da qualidade da educação pública no Brasil.  

*Impacto social dos programas de Pós-graduação; A internacionalização que nos interessa; Entre o produtivismo e a produção qualificada; Avaliação dos Programas x Avaliação dos Pesquisadores; Os critérios de avaliação dos Programas: instabilidade e indefinição; Financiamento à pesquisa em educação no Brasil; A Educação na Pós Graduação e no Sistema de C&TI  brasileiros; Pós Graduação e Pesquisa no Brasil: as faces perversas de um projeto exitoso; Avaliação da Pós-Graduação em Educação: questões, dilemas e algumas proposições.

 

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