Pra quem vai o nosso luto?

Editorial do Jornal Pensar a Educação em Pauta nº 179.

Uma das funções mais importantes cumprida pelas mídias, desde o seu nascimento, é a educação das sensibilidades, ou das insensibilidades, das populações.  Envolvidas com as causas as mais diversas até o século XIX, os jornais, as revistas e as casas editoriais de um modo geral, tiveram um papel central na construção das relações e das sensibilidades que constituíram o mundo moderno. Transformadas em empresas de “comunicação”, sobretudo a partir do século XIX, os grupos editoriais passaram, cada vez mais, a expandir e dar visibilidades aos projetos de expansão aos nacionalismos e aos projetos imperialistas os mais diversos.

A perspectiva acima, abraçada pelas mídias e pelos impérios, novos e velhos, de comunicação de massa, não cessa de atualizar-se. E é em momentos como a cobertura, ou melhor, a ausência de cobertura, do atentado que vitimou mais de 300 pessoas na Somália, que se percebe com grande clareza a face perversa das formas como as mídias conduzem nossa atenção e nos tornam insensíveis quanto ao sofrimento da grande maioria da população pobre do planeta.

Conforme tem sido denunciado nas redes sociais e pelos blogs e portais de notícias independentes, frente a um atentado de tamanho impacto na vida do já enfraquecido, econômica e politicamente país africano, não se verificou a mesma atenção que aquela dada a acontecimentos parecidos ou, mesmo, de menor proporção, em número de vítimas, ocorridos em países centrais do capitalismo e, não por acaso, sede das grandes agências e grupos de comunicação. Sem rodeios, tais grupos empresariais estão a nos dizer cotidianamente, que as vidas de certos grupos populacionais valem mais, e que suas mortes merecem muito mais o nosso luto do que outros.

Frente a isso, não há outra saída a não ser a crítica contundente e contínua sobre os imperativos políticos e econômicos que presidem a constituição e atuação desses grupos editoriais e, sobretudo, a educação de nossas sensibilidades para com o sofrimento de todos os pobres do mundo e a disposição para a luta por justiça e igualdade para todos os povos do mundo. Vidas Negras Importam na África e em todos os continentes do mundo, inclusive nesse continente chamado Brasil em que se mata mais adolescentes e jovens negros do que em todos os atentados do mundo.

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