30 anos de EJA na UFMG: sujeitos e suas perspectivas – Juliana Ferreira de Melo

30 anos de EJA na UFMG: sujeitos e suas perspectivas

                                                                                                                                   Juliana Ferreira de Melo

Em meados dos anos 1980, a sensibilidade em relação às pessoas que não sabiam ler, escrever ou não haviam concluído a Educação Básica, embora trabalhassem dentro de uma Universidade, levou um grupo de professores, a partir de uma escuta atenta ao que diziam os funcionários da UFMG, a criar um Projeto que atendesse aos trabalhadores que desejavam, então, “ter o 1º Grau”. Protagonistas neste movimento foram a Associação dos Servidores da Universidade Federal de Minas Gerais (Assufemg), fundada em 1974, mas também professores de diferentes unidades da UFMG, entre eles, o Professor Luiz Pompeu de Campos que se incomodava com o fato de o Centro Pedagógico (CP/UFMG), tal como conhecemos hoje o nosso Colégio de Aplicação, criado em 1954, permanecer fechado, ocioso à noite, apesar de sua estrutura, como uma instituição escolar, nesse contexto. Outras personagens, professores da Universidade, também se movimentavam neste contraditório cenário, onde a construção do conhecimento, por meio do domínio e do uso das habilidades de leitura e escrita, não era assegurada a todos os sujeitos que construíam as (suas) histórias na UFMG. Em 1985, na Faculdade de Letras, também um grupo de professores, entre os quais, o Professor Daniel Alvarenga, criava uma proposta de alfabetização de adultos, no mesmo ano em que a Assufemg reivindicava, junto à Reitoria, o curso de “1º Grau” para os funcionários da UFMG. Mas foi em 1986, mesmo antes da promulgação de nossa Constituição Federal, tão citada nos dias atuais a fim de sustentar ações não tão nobres, que esses movimentos os quais buscavam oferecer aos trabalhadores da Universidade instrumentos para uma efetiva participação nas culturas do escrito, ganharam corpo e se transformaram no Projeto que, neste ano de 2016, completa 30 anos de existência. Criado em 1986, pelo Professor Pompeu, nascia o Projeto Supletivo no CP/UFMG.

 À medida que o Projeto funcionava e ganhava força com as conquistas dos sujeitos envolvidos no cotidiano da Educação de Jovens e Adultos na UFMG, como: a certificação de seus educandos, de suas educandas; a ampliação do público atendido, de modo que a comunidade externa à UFMG também pudesse ser contemplada no Projeto; a implementação e a consolidação de um Projeto de Alfabetização na Universidade, uma vez que o Projeto Supletivo atendia aos trabalhadores que já conheciam as tecnologias do ler e do escrever; a implantação do “2º Grau”; seu perfil também foi se modificando. Assim, o Projeto Supletivo foi se tornando um Projeto de Ensino Fundamental, com autonomia para avaliar seus estudantes, assegurando uma organização curricular que propiciasse a produção de conhecimentos significativa para os/as educandos/as, respeitando o/a aluno/a trabalhador/a como agente em seu processo de aprendizagem, sujeito de sua formação que trazia para a Escola suas vivências, sua bagagem de saberes construídos ao longo de sua em vida, em diferentes espaços de sociabilidade. Junto com os/as educandos/as da EJA, estavam os/as monitores/as-professores/as, estudantes da Graduação da UFMG, que se transformavam em futuros/as educadores/as, e o Projeto de Ensino Fundamental de Jovens e Adultos – 2º Segmento, o PROEF-2, como é denominado hoje em dia, foi se consolidando também como um espaço de formação de professores, orientados por docentes e pesquisadores/as da Universidade, os quais também se dedicam ao trabalho de investigação e à produção de conhecimento a partir dos estudos que realizam na EJA.

São essas histórias que estão agora completando 30 anos. Para celebrar nossas conquistas, decidimos comemorar este aniversário da EJA na UFMG, dando voz e vez aos diferentes sujeitos que construíram (e ainda constroem) este Programa, que colaboram com o nosso caminhar diário. Desse modo, no dia 16 maio, iniciamos nossas celebrações com o III Seminário Universidade e Educação de Jovens e Adultos – 30 anos de EJA na UFMG: sujeitos e suas perspectivas, na Faculdade de Educação da UFMG, no Auditório Neidson Rodrigues, sempre às 19h.

Na segunda-feira, 16/05/2016, começamos nosso Seminário com a Conferência de um convidado muito especial, tendo em vista, sobretudo, seus trabalhos relacionados à Educação Popular, o Professor Titular Emérito da Faculdade de Educação da UFMG, Miguel Gonzalez Arroyo. A sessão de abertura de nossos trabalhos será coordenada pela Professora Maria da Conceição Ferreira Reis Fonseca (FaE/UFMG), Coordenadora do Programa de Educação de Jovens e Adultos na UFMG, continuando seus já longos caminhos de professora e pesquisadora no campo da EJA. Neste dia, abriremos nossas celebrações, contemplando um público diverso, como são diversos os sujeitos que nos ajudam a escrever as histórias da EJA na Universidade: Reitores e ex-Reitores, Coordenadores e ex-Coordenadores do Programa, Diretores das Unidades da UFMG em que os Projetos que integram o Programa (PROEF-1, PROEF-2, PEMJA) funcionam, Monitores e ex-Monitores dos Projetos, Educandos e ex-Educandos, Professores, Educadores, Pesquisadores, Estudantes das Licenciaturas e de Pedagogia.

A voz dos nossos (ex-)educandos é destaque em nosso Seminário na terça-feira, 17/05/2016. Eles serão o centro de nossas atenções na mesa redonda deste dia. Sob a coordenação da Professora Rosane Cassia Santos e Campos (CP/UFMG), Coordenadora de Equipe no PROEF-2 e Subcoordenadora do Projeto, conheceremos um pouco mais das histórias de educandos e educandas da EJA na UFMG, por meio de seus relatos de experiência.

18/05/2016, quarta-feira, será a vez dos ex-monitores do Programa de EJA de nossa Universidade terem voz. Atuando no Projeto de Ensino Fundamental de Jovens e Adultos – 1º Segmento (PROEF-1), no PROEF-2 ou no Projeto de Ensino Médio de Jovens e Adultos (PEMJA), os antigos monitores nos contarão de suas trajetórias de formação e atuação profissional, tendo em vista sua participação nos Projetos que compõem o Programa. A história que se fez, a história que se faz na EJA será narrada por cinco ex-monitores e ex-monitoras, na sessão coordenada pela Professora Rosilene Siray Bicalho (COLTEC/UFMG), Coordenadora do PEMJA.

Quinta-feira, 19/05/2016, também será um dia muito especial em nossa programação do Seminário. Alinhados com o propósito de cada vez mais estreitar os laços entre colegas de trabalho na Universidade, o Programa de Educação de Jovens e Adultos da UFMG encontra o Programa Pensar a Educação, Pensar o Brasil (1822-2022). Considerando a temática que costura todos os seminários do Projeto de Extensão Pensar a Educação, Pensar o Brasil, “A Educação Básica interroga a Universidade”, teremos um debate entre a Professora Denise Araujo (CP/UFMG) e o Professor Leôncio Soares (FaE/UFMG). Sob a coordenação dos Professores Luciano Mendes de Faria Filho (FaE/UFMG) e Tarcísio Mauro Vago (EEFTO/UFMG), Denise Araújo, Professora do Centro Pedagógico, que já foi Coordenadora Geral do PROEF-2, Coordenadora de Equipe e Coordenadora da Área de Matemática do Projeto, e que atualmente realiza sua pesquisa de Doutorado, investigando o processo de formação de nossos/as educandos/as da EJA, no PROEF-2, juntamente com Leôncio Soares, Professor da Faculdade de Educação e experiente pesquisador no campo da EJA, que chegou ao Centro Pedagógico em 1988, também participando do PROEF-2 como Coordenador Geral do Projeto na década de 1990, convidarão a todos e, em especial, os ex-Coordenadores/as do Programa, a participar deste debate.

 Por fim, para fechar, com chave de ouro, nossas comemorações, a sexta-feira, 20/05/2016, será o dia dedicado às homenagens. Sob a coordenação das Professoras Maria Carolina Silva (CP/UFMG), Coordenadora de Equipe no PROEF-2 e Subcoordenadora do Projeto, e Francisca Maciel (FaE/UFMG), Coordenadora Geral do PROEF-1, 30 estudantes do Programa entrarão em cena. Suas trajetórias serão rememoradas e celebradas neste dia juntamente com as histórias de tantos outros sujeitos que fazem com que a EJA na UFMG continue trilhando os caminhos de luta pelo direito à Educação de qualidade. Os registros e vestígios desta estrada poderão ser apreciados na exposição: “30 anos de EJA na UFMG”, aberta para visitação, entre os dias 16 e 20 de maio de 2016, no Espaço Arte/Educação da FaE.

 Portanto, é com imensa honra e prazer que convidamos a todos para celebrar conosco mais um ano de vida do nosso Programa de Educação Básica de Jovens e Adultos na Universidade Federal de Minas Gerais. Da alfabetização ao Ensino Médio, temos caminhado nestes 30 anos para garantir o que é de direito de todo cidadão, de toda cidadã: educação de qualidade em seu processo de escolarização. Mas, como estamos em Universidade Federal, pública e gratuita, desejamos ir mais longe: oferecer, de maneira responsável, uma formação humanística e sensível aos nossos educandos, às nossas educandas, colocando em prática os princípios da Extensão Universitária; formar, na mesma perspectiva e à luz de nossos trabalhos de pesquisa, de nossa prática pedagógica, futuros/as professores/as, educadores/as do futuro em direção ao País que desejamos, em que a justiça social seja, não mais apenas sonho, mas realidade concretizada em todos os níveis das relações humanas cotidianas.

 Juliana Ferreira de Melo – CP/UFMG – Comissão organizadora III Seminário Universidade e Educação de Jovens e Adultos – 30 anos de EJA na UFMG: sujeitos e suas perspectivas

Maio de 2016.

 

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